As festividades em comemoração ao Dia do Padroeiro de Batatais, Senhor Bom Jesus da Cana Verde, foram realizadas de forma diferenciada neste ano, em função das restrições da pandemia do novo coronavírus. Como não foi possível nenhuma celebração presencial com os fiéis, o Reitor do Santuário, Padre Pedro Ricardo Bartolomeu inovou com uma programação toda virtual. A novena foi realizada de 28 de julho a 5 de agosto com transmissão pelas redes sociais e órgãos de imprensa divulgando. Na quinta-feira, dia 6, a tradicional procissão foi substituída por um sobrevoo de helicóptero pela cidade, dentro da aeronave esteve o Pe. Pedro com a imagem do Senhor Bom Jesus da Cana Verde abençoando a cidade e a população. Segundo o Pároco e Reitor do Santuário, a iniciativa foi viabilizada com a ajuda do empresário batataense José Renato Freiria, que disponibilizou gratuitamente aeronave e piloto.
Breve Histórico da devoção ao Bom Jesus da Cana Verde
“… Trançaram uma coroa de espinhos e a puseram em sua cabeça e um caniço na mão direita…” (Mt 27,29).
A devoção ao Bom Jesus da Cana Verde é de origem histórica e lendária. Segundo a lenda surgiu na idade média: Nicodemos, discípulo secreto de Jesus, esculpiu cinco imagens de Jesus crucificado. E, por causa da perseguição do império Romano aos Cristãos, Nicodemos jogou as imagens ao mar, que as levaram para outros povos. Uma das imagens chegou na Itália, outra na Síria, duas na Espanha e uma em Portugal, na praia de Matosinhos, sendo este último pais o grande propagador da devoção ao Senhor Bom Jesus, levando-a para todas as suas colônias além mar. Igualmente agiu a Espanha.
Curiosamente, a lenda do encontro das imagens milagrosas do Senhor Bom Jesus, presentes em várias paróquias do Brasil, segue a mesma narrativa, como por exemplo em Siqueira Campos, PR; Iguape, SP; Pirapora, SP e tantas outras.
A tradição e a piedade popular ainda conservam a lenda de que uma camponesa portuguesa encontrou a imagem do Bom Jesus sem um dos braços e a guardou em sua casa. Em um certo dia, recolhendo lenhas para acender uma fogueira para se aquecer do frio, deparou com um pedaço de madeira que não era consumido pelo fogo. Atônita pelo fato, percebeu que o pedaço de madeira era o braço que faltava no crucifixo que encontrara.
Mas também há a versão de que um padre não conseguia encontrar um bom marceneiro para esculpir a imagem de Nosso Senhor. Um certo dia apareceu, no vilarejo, um senhor que se ofereceu para executar a obra; pediu ao padre que lhe deixasse três dias trancado em uma oficina e, após esse período, poderia entrar no local. Passados os três dias, o padre entrou na oficina e encontrou somente uma bela imagem de Jesus e o autor da obra nunca mais foi visto, atribuindo, assim, a execução da obra ao Jesus.
Uma outra versão da lenda é a de que um certo carpinteiro, tendo esculpido uma belíssima imagem de Jesus, fechou sua carpintaria e foi ao povoado chamar seus amigos para ver seu trabalho. Voltando ao lugar com uma grande quantidade de pessoas, reabriu a oficina e a imagem não estava lá: a mesma reapareceu em várias cidades da Europa.
Diz uma antiga tradição que após a ressurreição de Jesus, sua mãe, a Virgem Maria, percorria todos os dias a caminho de Jerusalém até o calvário, inspirando outras pessoas a fazerem o mesmo percurso. Após a conversão do Imperador de Roma, Constantino, e a oficialização do Cristianismo, no Império, tal informação nos é passada por São Jerônimo e tantos outros Santos padres dos primeiros séculos da Igreja.
Dessa forma, foram surgindo os diversos títulos de Jesus, relacionados à sua paixão, morte e ressurreição e, posteriormente, à Via-Sacra.
Ao contrário das lendas e tradições, encontramos dois fatos históricos que dão autêncidade a antiquíssima devoção ao Senhor Bom Jesus.
O primeiro remonta ao século IV da era cristã, antes mesmo do Imperador Constantino oficializar o Cristianismo no império, em 312. No ano de 301, São Gregório conseguiu que a Armênia fosse cristianizada. Com os seus cultos pagãos substituídos pelas devoções Cristãs. Dessa forma, os cultos da deusa da fertilidade e da castidade, e os festivais de música e cores, pela festa da Transfiguração do Senhor, ou festa do Monte Tabor, celebrada desde sempre na data de 6 de agosto, sendo popularmente chamada de Festa do Bom Jesus. Mas qual a relação da transfiguração de Jesus com os títulos da paixão? Quando Jesus convida Pedro, João e Tiago para subirem o Monte Tabor para rezarem, na verdade Jesus pretendia manifestar, para seus Apóstolos, a sua divindade, mostrando o esplendor de sua ressurreição, que foi consequência de sua paixão e morte. Daí a associação do Bom Jesus com os títulos de seu sofrimento e morte, que originaram, posteriormente, os passos da Via-Sacra.
Por fim, o fato bíblico da devoção se encontra no evangelho de São Mateus (cap. 27, vers.29), no episódio em que Jesus é apresentado por Pilatos ao povo Judeu como se fosse o seu rei e o Cristo da paixão: ECCE HOMO (eis o homem). É o Cristo apresentado no momento em que foi vítima de açoites, zombarias, cuspido, coroado de espinhos. Os soldados, para ridicularizá-lo, colocam um caniço verde em suas mãos, como se fosse um cetro real e o cobriram com um pano vermelho como se fosse um manto. Por isso, os seus devotos recorrem a Ele nas aflições, dores, tristezas, angústias e desesperos da vida, vendo nele o homem das dores, identificado com todo o sofrimento humano. Ele é o homem da compaixão, da bondade e do perdão. Ele quer um mundo de justiça, misericórdia e reconciliação. O Senhor Bom Jesus, em seus diversos títulos, é invocado nas diversas situações da vida cotidiana, especialmente em ocasiões de catástrofes naturais, como incêndios, temporais, epidemias e inundações. Os seus santuários são verdadeiras fortalezas para os fiéis peregrinos e devotos.