O historiador israelense Yuval Noah Harari escreve em “Sapiens: uma breve história da humanidade”, que o predomínio do homo sapiens sobre o mundo e as outras espécies se deve à linguagem sofisticada, constituída de sinais e sons, que permitem a descrição precisa de fatos, lugares e até mesmo de si próprios; a fofoca, que serve sobretudo para verificar a confiabilidade do bando; e, por fim, a capacidade de falar sobre coisas que não existem e criar, codificar e reconhecer mitos, divindades, religiões.
A nota característica e diferencial humana e, notadamente, do que somos hoje enquanto espécie, decorre da nossa capacidade de comunicação e as múltiplas formas de interação, estruturação e transformação social que ela proporciona.
É a partir desta característica intrínseca que o filósofo alemão Jurgen Habermas cunhou sua teoria da ação comunicativa. Segundo ele, a linguagem é ferramenta de transformação objetiva, subjetiva e social e, estruturada sob a forma de ação comunicativa, dotada de razoabilidade, racionalidade e criticidade, para buscar o consenso (entendimento) em torno de uma solução que beneficie a todos igualmente. A ação comunicativa constitui, portanto, o núcleo fundamental de qualquer instituição ou regime político fundados no direito e na democracia.
Habermas deveria ser leitura obrigatória para todos que postulam um cargo político.
O que assistimos hoje pelo mundo, e muito claramente no Brasil é a ruptura do diálogo e da busca de consenso sobre questões fundamentais para a coexistência pacífica das pessoas em razão de suas ideias e diferenças de gênero, raça e classe social e o acirramento de posições políticas e ideológicas que propõe a exclusão do outro.
Particularmente no Brasil, me lembro que este discurso de polarização política partiu do hoje presidiário Lula, durante a campanha presidencial de 2010, ao declarar que gostaria de uma eleição “nós contra eles”. Deu no que deu: a presidenta Rousseff não conseguiu dialogar com a sociedade, o mercado e o Congresso e foi defenestrada do Planalto; elegemos um presidente que, reconhecida e declaradamente não tolera o diálogo para além do que ele e seu clã consideram o correto.
Interromper a radicalização é urgente, antes que o conflito se torne confronto. Paulatinamente vemos uma crescente onda de imposição de ideias e, não de exposição e debate acerca delas, que pode terminar não apenas da eliminação da ideia, mas de quem pensa diferente.
Umberto Eco disse que a internet deu voz aos idiotas. Mais que isso, deu voz aos rancorosos, aos intolerantes e aos radicais.
O que fazer diante deste quadro? A solução para a falta de democracia, é mais democracia; para a falta de honestidade, é mais honestidade; para a falta de diálogo, é mais diálogo.
Que tal conversarmos pacificamente?