Jair Bolsonaro foi à ONU discursar. Desde as altercações com o presidente da França, Emanuelle Macron, afirmara que ia à ONU declarar nossa posição sobre a Amazônia. O discurso foi vago, quase sempre impreciso. Repetiu em Nova York o que já vinha declarando no Brasil. Podia ter usado melhor o tempo. De todo modo, não chegou a ser decepcionante, porque já era esperado que seria assim.
Há três razões para preservar a Amazônia.
A primeira, e mais óbvia, é de ordem ambiental, concentrada em dois fatores: o clima e a água, duas questões importantes esquecidas no discurso de Bolsonaro.
A Amazônia tem importante função na regulação do clima, seja, tanto no controle de temperatura quanto no ciclo de chuvas.
A floresta funciona como um emissor de umidade, que cria os chamados “rios voadores”, massas de ar que transportam vapor de água para toda a América do Sul e é fundamental para a preservação de outros ecossistemas, para a produção agropecuária e para a estabilidade climática.
E não se pode esquecer que a Amazônia é o maior reservatório de água do planeta, concentrando 80% da água doce existente no mundo.
Também é reconhecidamente como a maior reserva de biodiversidade vegetal e animal do planeta.
A segunda razão para preservação é de ordem econômica.
O Presidente Bolsonaro e muitos de seus seguidores tratam a Amazônia como “riqueza” e como patrimônio a ser explorado. Esta visão meramente patrimonialista é clara no discurso desta semana. Não disse uma linha sobre questões climáticas e sobre água, mas foi expresso em ressaltar a “abundância de ouro, diamante, urânio, nióbio e terras raras”.
Ele não deixa de ter razão quanto à existência destas riquezas.
Porém, basta uma pesquisa rápida para ver que nem os governos anteriores, nem o atual formularam um plano e, especialmente, um plano ambientalmente sustentável para exploração da Amazônia. A simples exploração tende a produzir mais prejuízo do que lucro e, disso, o mundo inteiro sabe.
Tanto é que representantes de 230 fundos de investimento internacionais, que administram o equivalente a R$ 65 trilhões, emitiram declaração conjunta em prol do combate ao desmatamento e às queimadas. Para se ter uma ideia do que este valor representa, o PIB do Brasil em 2018 foi de R$ 6,8 trilhões.
O recado é bastante claro: ou o Brasil começa a preservar a Amazônia, ou terá dificuldades no mercado internacional.
Até mesmo os empresários do agronegócio que, ao lado de empresas de mineração, seriam os principais interessados na exploração da Amazônia, têm se manifestado publicamente pela preservação da região, sabendo que ao mercado internacional pode restringir investimento e aquisição a produtos agropecuários brasileiros em razão da degradação ambiental.
Em terceiro lugar, a questão estratégica.
A água é um bem tão valioso e raro quanto o petróleo. Vejam o que aconteceu recentemente na Grande São Paulo com o colapso do Sistema Cantareira. Aliás, sequer é preciso sair de Batatais para ver que o abastecimento de água é uma preocupação constante para a administração e a população.
Pois a escassez de produtos essenciais à vida e à economia são foco constante de conflitos humanos. O interesse estadunidense no Oriente Médio não decorre de convicções políticas ou religiosas, mas do petróleo enterrado naquelas terras.
Então, por razões estratégicas de segurança e proteção nacional, não se pode desprezar o interesse estrangeiro na Amazônia e não apenas pela biodiversidade o pela riqueza mineral, mas conta da reserva de água 80% da água doce do mundo.
Neste aspecto se inclui algo que o Presidente Bolsonaro repete à exaustão: a soberania brasileira sobre a Amazônia.
Apesar de parecer não compreender toda a dimensão do que isso significa (se entende, não declara), Bolsonaro tem razão neste aspecto.
A porção amazônica do território brasileiro pertence ao Brasil, por maior que seja o interesse internacional na região. E, neste aspecto, o Bolsonaro fez bem em refutar a ideia do presidente francês, no sentido de que a Amazônia é patrimônio mundial para justificar outra ideia absurda subjacente ao discurso: a regulação internacional sobre a região.
Para ambos os presidentes, é preciso recordar uma das ideias clássicas da soberania é que ela consiste no poder de impor o direito num determinado território. Para o francês e a comunidade internacional é útil relembrar este conceito, porque ele vem atrelado a outro princípio: o respeito à soberania e à autodeterminação dos povos. Para o presidente brasileiro e para nós, os brasileiros, a Amazônia não é apenas um direito, mas um dever. Para ser mais didático: que ama, cuida.