Fica a Dica!
Notícia de jornal
Fernando Sabino
Retirado do livro A mulher do Vizinho, escrito por Fernando Sabino em 1962, a crônica Notícia de Jornal nos traz um relato comovente e mostra a indiferença do homem pelo próximo. São setenta e duas horas de agonia vividas por um homem, que morre de fome, sem que ninguém o ajude. Como recurso de estilo, o autor repete várias vezes a expressão “morreu de fome” dando o tom de indignação e revolta pela cena vivida pelo narrador.
Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, trinta anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante setenta e duas horas, para finalmente morrer de fome.
Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos de comerciantes, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.
Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.
O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Médico Legal sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome. Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa – não é homem. E os outros homens cumprem deu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.
Não é de alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.
E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.
E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, um homem morreu de fome.
Nas trilhas da Educação…
1. Resultado do SISU – Sistema de Seleção Unificada, programa criado pelo Ministério da Educação (MEC) para selecionar os candidatos às vagas das Universidades públicas, após o resultado do ENEM – sairá dia 22/02/2022 depois de vestibulandos terem feito a inscrição de 15 a 18/02/2022.
2. Volta às aulas em 2022 foi marcada por entusiasmo de alunos e deu vida às escolas. Mas, preocupação com casos de COVID- 19 ainda existe entre professores, gestores e famílias.
3. O Governo Federal regulamentou a Medida Provisória nº 1.090, que estabelece as diretrizes para renegociação de débitos dos contratos do Financiamento Estudantil (Fies), firmados até 2017. O início das negociações para quitação das dívidas está previsto para 7 de março.
Poesia: o velho abrigo da alma
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Poemas -1957
Uso das formas verbais VEM e VÊM
Acento diferencial – diferencia a terceira pessoa do singular da terceira pessoa do plural.
Observe os exemplos:
1-O professor VEM para a palestra hoje.
2-Os professores VÊM para a palestra hoje.