/Há 100 anos… outubro/novembro/dezembro de 1921 – Parte I

Há 100 anos… outubro/novembro/dezembro de 1921 – Parte I

Em nossas retrospectivas sobre as principais notícias que rondavam a cidade de Batatais há cem anos, chegamos ao último trimestre de 1921, com destaque à chegada da aviadora francesa

Adrienne Bolland
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Adrienne_Bolland_-_El_Gr%C3%A1fico_83.jpg

Adrienne Bolland à cidade de São Paulo no mês de outubro, a bordo do transatlântico Marcília. A aviadora era famosa por ser detentora do record feminino de voo nas categorias altura e tempo. Chama-nos a atenção que a nota, transcrita para o jornal local, reforça que os avanços feministas são ofuscados pelas velhas convenções do papel da mulher restrito à função ‘do lar’. “A presença de uma aviadora em S.Paulo, – diz o Jornal do Commercio’, – é uma novidade, até certo ponto, sensacional, porque a despeito das últimas grandes conquistas do feminismo, o papel da mulher aqui, parece continuar restricto às ocupações da vida domestica.” (GAZETA DE BATATAES, 02/10/1921)

Em relação às conquistas feministas na aviação, é provável que a presença de Adrienne Bolland no Brasil tenha entusiasmado as primeiras aviadoras brasileiras, que já estavam realizando aulas de pilotagem em 1921 e tiraram seus brevês em 1922. A primeira aviadora ‘brevetada’ brasileira, reconhecida pelo Aeroclube do Brasil e pela Federação Aeronáutica Internacional, foi a paulista Teresa Di Marzo Roesler, com 18 anos de idade. A segunda aviadora brasileira foi Anésia Pinheiro Machado, que recebeu seu brevê no dia 09 de abril, um dia após a conquista da primeira. Falaremos mais sobre a aviação em Batatais nas próximas edições de nossa coluna.

Gazeta de Batataes, 18/12/1921 – Acervo MHPWL

O tema da aviação permanece como notícia durante todo o último trimestre de 1921, e em 25 de dezembro a imprensa divulga a construção de um campo de aterrissagem em frente à Linha de Tiro de Batatais, além da passagem pelo céu da cidade, do aviador italiano Giuseppe Cornetto.  “Passou pela cidade o aeroplano do tenente engenheiro Giuseppe Corneto, aviador italiano, da Aviação Militar Italiana, de Ribeirão Preto com destino a Franca que deixou cair numerosos boletins de saudação” (GAZETA DE BATATAES, 25/12/1921).

Pelo que pudemos apurar em nossas pesquisas, o aviador esteve por nossa região entre outubro de 1921 a fevereiro de 1922, sempre acompanhado do aviador paulista João Robba (piloto veterano da I Guerra e professor de pilotagem). Da primeira vez, os aviadores realizaram um ‘raid’ aéreo de São Paulo a Poços de Caldas, passando por Batatais e posteriormente, acompanhados também pelo mecânico Vasco Cinquini, realizaram viagem de estudo para estabelecimento de rotas aéreas comerciais em Ribeirão Preto, todos os três pilotos apresentados como associados ao Aeródromo Brasil.

Registro fotográfico da missão a Ribeirão Preto empreendida em fevereiro de 1922 pelo piloto João Robba, o tenente Cornetto e o mecânico Cinquini – A Cigarra, 15/02/1922. (Acervos Arquivo Público do Estado de São Paulo e Biblioteca Nacional)

Foi também em 1921, mais precisamente no dia 1° de fevereiro, que ocorreu o primeiro transporte de malas postais via aérea, todavia, a maior concentração deste serviço era realizado pelas ferrovias e alguns poucos automóveis. Visando reorganizar os serviços de transporte de objetos e correspondências, em 16 de março de 1921 foi promulgado o decreto nº14.722, reorganizando os serviços dos Correios da República conforme bases estabelecidas na lei nº. 4.273. A partir desta lei, as cidades da região tiveram a organização das agências subordinadas à administração dos correios de Ribeirão Preto, conforme o quadro abaixo.

Tabela retirada do Decreto Nº 4.273, de 1º de fevereiro de 1921
Gazeta de Batataes, 02/10/1921 – Acervo MHPWL

A cidade de Batatais reorganizou seu serviço de correio com a contratação de dois carteiros no mês de outubro, mas o que movimentava o noticiário local era a necessidade de se implantar a numeração regular das casas visando sanar os problemas de identificação das propriedades, tanto para as cobranças de impostos, quanto para os serviços de correio. A polêmica sobre a numeração irregular das casas fez com que o agente do correio, capitão José Paulino Pinto Nazário, publicasse uma nota de esclarecimento, apelando para que os munícipes colocassem a indicação exata do nome da rua, número da casa ou da caixa postal nas correspondências. “Scientifico vos que foram nomeados e já se acham empossados nos cargos de auxiliares de carteiros, com funções de carteiros distribuidores para a entrega de correspondencia a domicilio, os srs. Theophanes Egydio dos Santos e Antonio Baptista de Sousa. Acontece, porem, que não há correspondências nesta agencia com a indicação de domicilio do destinatario (rua e numero da casa), e não podendo, por isso, o referido serviço ser executado(…)” (GAZETA DE BATATAES, 14/10/1921).

Por outro lado, o jornal Gazeta de Batataes não deixou de publicar suas próprias reclamações em relação ao serviço dos correios, denunciando que novos ajudantes, inexperientes, estavam realizando trocas de entregas e que respondiam às reclamações, com perda de compostura. Sobre os números das casas, a Prefeitura Municipal informou que realizaria a reordenação numérica, mas que a conservação do número de cada edificação competiria exclusivamente a seu proprietário, não devendo ficar encobertos por tintas.

Além da reordenação da numeração das casas, a Prefeitura Municipal estava empenhada na construção de novo coreto na Praça Municipal e na reconstrução da estrada de rodagem de ligação de Batatais à cidade de Altinópolis, com desvio na Cachoeira, além da construção de uma nova estrada de ligação com Jardinópolis. Os serviços foram executados pelos municípios, com grande empenho do prefeito de Batatais, coronel Manoel Victor Nogueira e auxílio do coronel Manoel Gustavino de Andrade Junqueira; já os custos foram bancados pelo Estado, na época governado pelo ex-prefeito da cidade, Dr. Washington Luís, fazendo jus a seu lema de campanha de 1920 ‘Governar é abrir estradas’.

Em relação às obras pela parte da paróquia, a capela de Santo Antônio estava em construção e no dia 30 de outubro foi noticiada a construção de duas casas na vila de São Vicente de Paulo pelos majores Antônio Candido Alves Pereira e João de Andrade Junqueira.

NA POLÍTICA

A política também estava movimentada nesta época e o Diretório Político de Batatais, formado por Gabriel de Andrade Junqueira (deputado estadual pelo distrito e vereador), Manoel Victor Nogueira (prefeito municipal), Frederico Marques (advogado e vereador), José Paulino da Costa (vereador), Gabriel Martins de Oliveira (vereador) e Coronel Ovídio Tristão de Lima (tabelião do 1º Ofício e presidente da Conferência de São Vicente de Paulo), conclamava aos batataenses para se alistarem como eleitores.

Gazeta de Batataes, 09/10/1921 – Acervo MHPWL

Em 09 de outubro, a Gazeta de Batataes publica uma nota sobre a eleição federal de Altino Arantes, a ser realizada no dia 30, recomendada pelo diretório do Partido Republicano Paulista de Batatais; convidando o eleitorado batataense para votar em seu conterrâneo, candidato a deputado federal na vaga aberta por João Pedro da Veiga Miranda, que havia sido nomeado para ministro da Marinha. A campanha foi bem sucedida e, após passar o governo paulista para Washington Luís em 1920, Altino Arantes retornou à Câmara Federal em 1921. Não conseguimos informações sobre quantos votos foram dados por Batatais.

Revista Vida Moderna – Ano XVII, nº 416 (14 de outubro de 1921)