Hoje, no nosso Espaço Vida Saudável, falamos com um dos médicos mais conhecidos e queridos da comunidade batataense pelo trabalho que realiza. Dr. Said Miguel Júnior, médico cardiologista, com formação e residência médica pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Seu consultório fica localizado na Rua Coronel Joaquim Rosa, 457, no Centro. E o telefone de contato é o 3761.3911.

JC – Dr. Said tivemos nos últimos dias uma queda brusca na temperatura. Além de gerar problemas respiratórios esse fator também aumentar o risco de infartos?
Said Miguel Jr: Sem qualquer sombra de dúvida. A baixa temperatura ambiente está intimamente ligada ao aumento de eventos cardíacos como crises hipertensivas, eventos coronarianos agudos (infarto) e arritmias cardíacas. Isto ocorre porque no frio há uma vasoconstricção periférica e o sangue que fica na periferia tende a passar para o espaço intravascular fazendo com que a pressão arterial aumente e haja uma sobrecarga no trabalho cardíaco. Aqueles corações comprometidos por problemas de circulação coronária tendem a sofrer mais e isto pode fazer com que alguma placa de gordura se desprenda e provoque o entupimento da artéria que leva ao quadro de infarto. O mecanismo básico é este.

JC – Existem grupos de risco que estão propensos ao infarto com as temperaturas mais baixas?
Said Miguel Jr: Eu diria que o grupo de risco mais propenso a problemas de infarto são os idosos com doença arterial coronariana não controlada e os hipertensos não controlados.

JC – Quais cuidados a população precisa ter para evitar um infarto?
Said Miguel Jr: Para se evitar o infarto ou pelo menos reduzir a chance de ter um infarto é necessário se sejam praticadas medidas higieno dietéticas como abstenção do tabagismo, alimentação saudável com baixos níveis de colesterol e gorduras saturadas, evitar o sedentarismo, isto é, praticar alguma atividade física aeróbica pelo menos 4 vezes por semana por pelo menos 30 minutos, reduzir a carga de estresse emocional. Fazer exames laboratoriais e consultar-se com seu médico pelo menos 1 vez ao ano, à partir dos 40 anos de idade. Isto se chama ‘prevenção’.

JC – Qual o papel da vacina contra gripe na prevenção de um infarto?
Said Miguel Jr: A vacina antigripal protege contra eventos coronarianos, isto já está cientificamente comprovado. Acontece que o individuo quando contrai uma gripe há um aumento na atividade inflamatória nas artérias e, nos indivíduos mais idosos isto se torna mais acentuado, fazendo com que haja um fechamento de alguma artéria coronária comprometida. Este é um dos principais motivos pelo qual a população idosa deve ser vacinada, e, ao contrário que se pensa, a vacina antigripal não foi feito para ‘matar velho’ de modo algum. Sabe-se que ela tem um período para começar fazer efeito que dura em torno de duas semanas. Neste intervalo o indivíduo pode contrair o vírus e tornar-se gripado, o que faz pensar que foi a vacina que provocou o quadro.

JC – Quais são os sintomas de um início de infarto, e para quais sintomas a população precisa ficar atenta?
Said Miguel Jr: Bem, seria importante ressaltar que um infarto raramente surge sem sintomas prévios. O infarto como sabemos, é a oclusão total da luz de uma artéria coronária, geralmente por ruptura de uma placa ateromatosa antiga. Esta placa ao se romper libera substancias que fazem que as plaquetas do sangue migrem para aquele local no intuito de fechar a placa. Acontece que com isto há uma oclusão do vaso levando a uma parada do fluxo de sangue por esta artéria que vai irrigar determinada parte do músculo cardíaco. Mas antes disto, semanas, meses ou mesmo anos antes, o indivíduo apresenta o que a gente chama de ‘angina do peito’, que é uma dor geralmente opressiva, que se iniciar geralmente após algum esforço excessivo e que desparece rapidamente após cessado o esforço. Grande parte da população não dá bola para este sintoma achando as vezes que é uma dor muscular ou mesmo uma azia quando esta dor se irradia para a região epigástrica (região da ‘boca do estomago’). Este seria o momento de se procurar uma assistência médica para investigar a dor. Na grande maioria das vezes o quadro de angina pode ser diagnosticado e com isto evita-se a evolução para o infarto. Acontece que o brasileiro tem o péssimo hábito de só procurar médico em caso de extrema necessidade e aí já é tarde. Seria fundamental que houvesse uma mudança de comportamento da população no sentido de fazer exames preventivos. Com isto vários casos de morte por doença arterial coronária seriam evitados.

JC – Ao identificar os sinais, qual deve ser o encaminhamento? E os cuidados após um início de infarto ou um infarto?
Said Miguel Jr: Ao identificar os sinais e sintomas deve-se procurar o quanto antes assistência médica, pois trata-se de um quadro de urgência médica e o quanto antes o paciente estiver em um ambiente com recursos médicos, maior a chance dele sobreviver a uma eventual parada ou fibrilação cardíaca. O quadro típico é de uma dor de grande intensidade, geralmente como sensação de aperto no peito, suor frio intenso e a sensação de que vai morrer, esta é uma queixa de vários paciente que infartaram. O quanto antes você for atendido maior a chance de sair do quadro com muito pouca sequela para o músculo cardíaco. Esta janela terapêutica está em torno de seis horas aproximadamente, período em que pode ser aplicada medicação endovenosa que dissolve o trombo que está ocluindo a artéria coronária. Nos locais onde há recurso de um estudo hemodinâmico os paciente são levados para a sala, submetidos a uma angioplastia (dilatação do local ocluído) com implante de stent (uma micro mola que impede que a artéria se oclua novamente) no local.

JC – Nesse período de pandemia, como é conduzido o tratamento das pessoas que apresentam problemas no coração, que estão no grupo de risco?
Said Miguel Jr: Nesse período de pandemia o tratamento das pessoas que apresentam problemas cardíacos e que estão no grupo de risco deve ser feito normalmente, sem que seja prejudicado o atendimento, por tratar-se normalmente de doenças graves e que exigem um tratamento rápido. Em nossa cidade não temos passado por problemas de atendimento deste tipo.

JC – Como médico há muitos anos da cidade, como avalia o posicionamento das autoridades de saúde no combate a pandemia do novo coronavírus?
Said Miguel Jr: Como médico há 41 anos em Batatais, tenho visto com muito bons olhos o combate à pandemia e o posicionamento das autoridades de saúde bem como a participação bastante razoável da população no que se refere à obediência das regras determinadas para que a proliferação da doença seja minimizada, haja vista que Batatais é uma das cidades da região com menos casos e óbitos. Nossa Santa Casa está preparada para enfrentar adequadamente esta fase que estamos passando que presume-se que seja o pico da pandemia.

JC – Gostaríamos que deixasse uma mensagem a nossa população.
Said Miguel Jr: Vamos continuar nos precavendo e tomando todos os cuidados para que Batatais continue tendo poucos casos de covid 19, isto é, evitando aglomerações, reuniões sociais, usando máscaras e evitando sair de casa desnecessariamente. Creio que em breve estaremos paulatinamente voltando às atividades normais para que consigamos recuperar o prejuízo deixado por esta pandemia que afetou a todos os países, em maior ou menor grau.