Dedicamos esta edição a um dos eternos apaixonados pela história de Batatais, ao escritor, pesquisador e memorialista batataense, engenheiro e cientista social, Sami Tebechrani (1939-2021)
Recentemente, por conta das demandas de pesquisas do Museu, foi feito um pequeno mapeamento sobre Batatais por quase toda a década de 40, considerada por seus moradores na época, como uma cidade “em fase de progresso”. Nesse sentido, apresentamos a partir desta edição, um panorama da cidade de Batatais nesse período. Hoje, esse giro histórico vem com uma pequena contextualização da época, em âmbito mundial e nacional buscando relacioná-la a Batatais.
No cenário global, o mundo vivia um complexo conflito. Forças totalitárias disputavam de forma bélica contra forças democráticas. A Europa começou os anos 40 como um verdadeiro barril de pólvora, sendo o principal palco da Segunda Guerra (1939-1945). O Brasil posicionou-se neutro até 1942, quando declarou guerra à Alemanha Nazista e aos demais países do Eixo (Itália e Japão), após sucessivos bombardeios alemães aos navios mercantes brasileiros, causando diversas mortes e prejuízos materiais.
Em 1944, o Brasil enviou tropas para o palco de operações de guerra na Itália. A luta pelos ideias democráticos e anti-repressores foi ao lado dos países aliados – Inglaterra, EUA e Rússia. A cidade de Batatais também contribuiu para o chamado ‘esforço de guerra’ com o envio de 25 praças (cabos e soldados) natos da cidade, seis militares de patentes e uma enfermeira qualificada que à época da guerra residia no Rio de Janeiro (Além desses batataenses, mais três praças vieram residir em Batatais, os quais então acrescentamos à participação da cidade na II Guerra).
Pouco mais de um ano, em maio de 1945, anunciavam o fim da guerra. Pelo informado nos jornais, a notícia do fim do conflito bélico, foi comemorada na cidade:
“Insopitáveis demonstrações de jubilo. Espoucaram no ar e no chão milhares de foguetes e bombas. O comércio e a indústria local paralizaram suas atividades e às 19 horas houve concorridíssimo desfile, de que participaram todos os lementos do 3º B.C., conduzindo archotes e luminnárias, com bandas de músicas, as autoridades locais e grande massa popular e operária, empunhando bandeiras brasileiras.] depois da parada, no coreto da Praça, discursou o sr. Dr. Francisco Arantes Junqueira, prefeito munnicipal, que foi vibrantemente aplaudido. No dia seguinte, desfilaram vários estabelecimentos de ensino e associações esportivas e houve bailes comemorativos da vitória”. (O JORNAL [Batatais], 10/05/1945)
Nossos praças expedicionários voltaram oficialmente a Batatais no dia 07 de setembro do mesmo ano. Foram recebidos pela população com honrarias e parada militar que terminou numa missa campal no Estádio de Futebol Dr. Oswaldo Scatena.
Nos primeiros anos da década de 40, o Brasil ainda era governado por Getúlio Vargas, que em 1937 instituíra o Estado Novo, terminado no ano de 1945. O Estado Novo gerou um regime político autoritário, repressor e punitivo para a maioria das pessoas. Com o regime, o Congresso Nacional e Assembleias Legislativas Estaduais foram dissolvidos, bem como partidos políticos, associações e sindicatos fechados; era prática do governo a censura e perseguição a qualquer tipo de oposição. Uma nova Constituição foi outorgada, conhecida popularmente como Polaca, por se inspirar na Constituição da Polônia que concentrava poderes no Executivo.
Por falar em Governo Vargas, os textos e discursos do então Presidente da República foram publicados, na década de 40, por um batataense com casa editorial no Rio de Janeiro, a Livraria José Olympio Editora, mais conhecida como ‘A Casa’. O editor foi José Olympio Pereira Filho (afilhado do Dr. Altino Arantes), considerado um dos vanguardistas apoiadores da cultura brasileira que convivia bem com a direita brasileira.
Em 1947, relacionando ainda o cenário mundial à história de Batatais, temos a volta para o Brasil do ex-presidente da República, Dr. Washington Luís, exilado desde 1930 por oposição a Getúlio Vargas. Washington Luís ficou conhecido como o último presidente da República Velha – mandato de 1926 a 1930. O ex-presidente tem as origens de sua carreira política ligadas à Batatais. Fluminense por nascimento, morou em Batatais de 1890 a 1901. Na cidade, além de advogado, exerceu cargo de vereador por mais de um mandato e foi dirigente executivo do município, ocupando por mais de uma vez a função de intendente municipal. Toda a imprensa comenta a volta do ex-presidente, inclusive a imprensa local.
Com a ampla e irrestrita participação do Estado Novo nos governos estaduais e municipais, os dirigentes eram nomeados pelo governo federal. Em São Paulo na década de 40 foram interventores federais, Adhemar de Barros (1938 -1941/1947-1951 – na condição de eleito) e Dr. Fernando Costa (1941-45), Sebastião José Nogueira (1945) e José Macedo Soares (1945-1947).
Na administração estadual do Dr. Fernando Costa, o secretário da Agricultura nomeado para o cargo foi o batataense e agrônomo, Dr. Paulo de Lima Corrêa que visitou oficialmente a cidade de Batatais como Secretário de Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio do Estado de São Paulo em algumas ocasiões. Em junho 1943, numa dessas visitas, foi homenageado com seu nome no Parque do Aeroclube da cidade. Dr. Paulo de Lima Corrêa também foi o grande propulsor para o estabelecimento do Grupo Rural, Horto Florestal e Instituto de Menores em Batatais.
* De acordo com o verificado, Dr. Paulo de Lima Corrêa, nasceu em Batatais em 28 de abril de 1894, na casa onde foi o Hotel São José (Praça Cênego Joaquim Alves com a rua Dr. Alberto Gaspar Gomes). Viveu sua infância na Fazenda Engenho. Fez seus primeiros estudos no Colégio Julio Dufray e depois no Colégio São José. Diplomado em 1912 como Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura “Luís de Queiroz” em Piracicaba. Continuou seus estudos sobre em zootecnia e economia rural na Alemanha e na França onde viveu por alguns anos. No Brasil, ocupou altos cargos no governo de São Paulo. Casou-se em 28 de junho de 1918 com Maria Carolina Ferreira da Rosa na cidade de Batatais, de onde a noiva também era natural (filha de João Ferreira da Rosa e Dorothea Ferreira da Rosa). Tiveram os filhos: Vera, João Augusto e Caio Roberto. Morreu aos 50 anos de forma prematura no dia 30 de agosto de 1943, em decorrência de derrame cerebral. Após um ano de sua morte, em 30 de agosto de 1944, foi homenageado em Batatais com um busto de bronze que está na praça que leva seu nome, a popular ‘pracinha da prefeitura’.
Aproveitando a citação de renomados batataenses da época, temos Altino Arantes (1879-1965), ex-presidente do Estado de São Paulo entre os anos de 1916 e 20. No período da Segunda Guerra, integrou a Liga da Defesa Nacional, sendo membro ativo da Comissão Paulista (Roberto Simonsen, presidente; Altino Arantes, vice-presidente e Eloy Chaves, tesoureiro) para o ‘esforço de guerra’. Em 1945, Altino Arantes era Diretor da Carteira Hipotecária, órgão do antigo Banco do Estado de São Paulo; em 1946 foi eleito deputado federal constituinte, porém licenciou-se do cargo em 1947.
Posteriormente, em 1950 foi candidato a vice-presidente da República na coligação PSD (Partido Social Democrático), PR (Partido Republicano), POT (Partido Orientador Trabalhista) na chapa do antigo prefeito de Belo Horizonte, Cristiano Machado também do PSD. Altino Arantes ficou em 3º lugar – após período sem vices presidentes, os candidatos recebiam votos de forma separada.
Além da atuação política e na administração pública, Altino Arantes aventurou-se como jornalista e escritor. Em Batatais, ainda jovem, dirigiu junto com o colega José Augusto Nogueira Porto, o semanário A época. Foi presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Paulista de Letras. Entre suas publicações, encontram-se os títulos: Viagem Imperial, 1940; O dever dos mestres, 1942; Bons Portugueses, 1943; O culto das letras, 1943; Cícero, 1944; Elogio da imprensa, 1944; A ação social e política dos bispos de São Paulo, 1945; O sacerdote na igreja, na sociedade e na família, 1946. Faleceu em São Paulo no dia 5 de julho de 1965, aos 89 anos.
Nessa época, os prefeitos, chamados também de interventores municipais eram nomeados pelos dirigentes estaduais. As escolhas pelos prefeitos por parte dos governadores estaduais recaíam por políticos favoráveis à Getúlio no próprio município.
Em Batatais tivemos na década de 40 no cargo executivo José Arantes Junqueira (1937-1943) que pediu exoneração do cargo para cuidar de sua saúde. Em seguida seu irmão Frederico Arantes Junqueira (1943-1947) – ambos filhos do Coronel Manoel Gustavino de Andrade Junqueira, também político e ex-prefeito de Batatais por dois mandatos (1892 e 1912-1915). Frederico Arantes pede exoneração do cargo para candidatar-se a deputado estadual pelo PSD (Partido Social Democrático). Na sequência, foi nomeado por um breve período, o médico Dr. Jorge Nazar (março a junho de 1947); em sua substituição, o fazendeiro e comprador de café Américo Gaeta (1947-1948) e depois novamente, Dr. Jorge Nazar (1949-1951). Os serviços do Legislativo e Executivo estavam concentrados no prédio situado na Praça Washington Luís (atual Câmara Municipal).
Em 1947, com o reestabelecimento das assembleias legislativas, Batatais teve 7 candidatos a deputados estaduais, a saber: José Pimenta Neves (2.710 votos); Dr. Francisco Arantes Junqueira (949 votos); Dr. Jorge Nazar (836 votos); Gabriel Tondella (488 votos); Dr. Francisco P. Vianna Sobrinho (38 votos); Joaquim Aleixo de Paula (10 votos) e Dr. João Pimenta de Castro (9 votos). “Compareceram às urnas 7.351 dos 11.030 eleitores da Comarca e 3.216 dos 5.191 do município de Batatais.” (O JORNAL [Batatais], 26/01/1947)
Não encontramos nos jormais menção ao voto feminino e a cargos políticos exercidos por mulheres. Observamos sim, a presença e ocupação de mulheres em associações beneficentes leigas ou religiosas ou mesmo em agremiações e clubes, no caso o Batatais Tênis Clube e o Aero Clube de Batatais. Encontramos também anúncios de jornais de mulheres oferecendo serviços de professora, modista e parteira e na cobrança de impostos encontramos mulheres como proprietárias de bares, pensões e hotéis. A profissão fora do ambiente doméstico exercido por mulheres que tiveram o acesso à educação era o magistério.
Dados do recenseamento de 1940 indicam que o município de Batatais tinha por volta de 20 mil habitantes, em número praticamente equilibrado entre homens e mulheres. Sendo a população branca em maioria com 85% e 15% da população eram pretos, pardos e de outras etnias. A população imigrante ainda aparecia nos dados, mas já em número reduzido. Conforme os dados, pouco mais de 1.000 pessoas eram estrangeiros e/ou estrangeiros naturalizados brasileiros. Na cidade viviam aproximadamente 10 mil pessoas. Praticamente metade da população vivia no ambiente rural e se dedicava a atividades econômicas ligadas ao mundo agro-pastoril.
O prédio da Cadeia e Fórum da cidade, na praça Barão do Rio Branco (atual Centro Cultural Professor Sérgio Laurato) recebeu oficialmente em 15 de julho de 1944, a comemoração do centenário 3º Batalhão de Caçadores da Força Pública do Estado de São Paulo, tendo como seu comandante, o Tenente-Coronel Coriolano de Almeida Júnior. A cidade abrigou o 3º Batalhão até fins de 1947, quando retornaram para a cidade de Ribeirão Preto.
Com a instalação do 3º BCF no antigo prédio do Fórum e Cadeia de Batatais, algumas atividades exercidas no prédio foram reconduzidas para outras edificações. No entanto, a sede do TG permaneceu no mesmo prédio, junto aos novos aquartelados.
Pelo Tiro 26 passaram alguns instrutores nos anos 40. Em 1943, tivemos o SubTenente Joaquim Alves da Silva Sobrinho, que foi para o Rio de Janeiro servir na Unidade de Carros de Combate para a Guerra; em 1944, o instrutor foi Pedro Paulo Castilho, quando era presidente da agremiação o Dr. Jorge Nazar. Em 1945, tivemos como instrutor, o Sargento Mario Carvalho do Valle. O presidente do TG no ano de 45 foi o Dr. Oswaldo Scatena. Quem paraninfou a turma de formandos do ano foi o então Tenente Paulo Scatena e a Tenente Enfermeira Altamira Pereira Valadares, sendo seu orador o formando, José Marcílio Baldochi.
O Tiro de Guerra de Batatais foi ‘recriado’ pelo Decreto Ministerial nº 9.616 de 06 de setembro de 1946, após ter sido extinto com a deflagração da 2ª Guerra Mundial. Em 1946, ocorreu a mudança de nomenclatura de TG 26 para TG 122, sendo seu instrutor era o 2º Tenente Esequias Lyra. Hoje o TG é denominado 02-047 e seu instrutor é o SubTenente Everaldo Pereira da Silva.
O Fórum de Batatais funcionou até 1917 na antiga Praça XV de Novembro, num prédio ‘fórum e cadeia’ onde hoje localiza-se o Colégio COC Semeando. A partir de 1917, o Fórum funcionou na Praça Barão do Rio Branco, em prédio ‘fórum e cadeia’ construído para este fim. Em 1943, com a instalação anunciada do 3º Batalhão de Caçadores da Força Pública Paulista (BCF), as atividades do Fórum, passaram a funcionar no “andar superior do edifício da Prefeitura”, que era no atual prédio da Câmara Municipal.
No ano de 1959, o Fórum muda novamente de lugar, para a Praça Dr. Paulo de Lima Corrêa (antiga praça XV de Novembro, onde antes de 1917 já havia ocupado um prédio). Em 1978, as instalações do Fórum da Comarca de Batatais ‘Altino Arantes’ são transferidas para uma nova sede também construída para este fim – atual prédio na avenida Dr. José Arantes Junqueira.
Com essa transferência, as dependências da Prefeitura Municipal passam para o prédio da Praça Dr. Paulo de Lima Corrêa, ficando assim, cada uma das três instituições – Câmara, Prefeitura e Fórum – com sede própria.
Outros indicadores encontrados
Promotor público – Amorim Lima (1937)); Antônio Genésio Caldas (1941-1947)
Juiz de Direito – Virgílio Argento (1934-1940); Alceu Cordeiro Fernandes (1940); Euclides Custódio da Silveira (1940-1944); Joaquim Zeferino Ferreira (1944); José Cavalcanti Silva (1945-1947); Humberto de Andrade Junqueira (1947-1954).
Juiz de Paz – João Baptista Ferraz de Menezes (1943 – 1945)
Cartório do Registro Civil – Francisco Tristão de Lima – Tabelião; Agusto Roncaratti – escrivão de paz e ofício de registro civil
Cartório de Notas do 2º. Ofício – Carlos Figueiredo Júnior – Tabelião
Coletoria Federal – Em 43 – Antonio Fonseca Palma, coletor; Dagoberto Borba Viegas, escrivão; Vivaldi Ribeiro de Carvalho, agente fiscal.
Coletoria Estadual – Em 43 – Benedicto Arantes, coletor; Joaquim Cassiano, escrivão; Francisco Faggioni, auxiliar de escrivão.
Junta de Alistamento Militar – presidente em 43, José Braga Morato
Agente dos Correios – José Paulino Pinto Nazário
Em 1943, com a notícia da chegada do 3º Batalhão, a cadeia transfere-se da Praça Barão do Rio Branco para a Rua Celso Garcia, nº 15.
Os delegados de polícia que conseguimos levantar para este período foram Hugo Ribeiro da Silva (1942-1943), Álvaro de Oliveira Cardoso (1943, temporário), Gilberto Silva de Andrade (1944); Rodolpho Forster (1944), João Thomaz (1945), José Pereira de Abreu (1945), Francisco da Cunha Nogueira (1945), João Mendes da Cunha Soares (1946); Francisco Petrarca Ielo (1947); Gabriel Garcia de Barros (1947).
A Guarda Noturna de Batatais foi fundada como corporação entre 1942 e 1943 pelo delegado de polícia Hugo Ribeiro da Silva. Fizeram parte da primeira diretoria Luiz Cinalli, Antônio Nogueira de Oliveira, Joaquim J. da Fonseca, José Villas Boas Cardoso, Álvaro de Oliveira Cardoso, Mário M. de Azevedo (indicados na foto acima). Um grande apoiador da corporação foi o sr. Egydio Ricco. A Guarda Noturna de Batatais era mantida pela sociedade civil e representantes do comércio, indústria e lavoura local, no período tinha cerca de 200 contribuintes mensais. A municipalidade também contribuía com a corporação. A Guarda Noturna de Batatais era constituída em 1943, por 8 guardas armados e fardados que faziam a vigilância de toda a cidade.
Tem início com esta exposição sobre algumas instituições, eventos e personagens conhecidos do período, a série Batatais nos anos 40. Na próxima edição, os leitores e leitoras poderão conhecer um pouco dos indicadores econômicos e sociais levantados sobre a cidade para a mesma época.