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Presidente café com leite

Na minha infância, eu vez ou outra pedia para participar de brincadeiras com as crianças mais velhas (futebol, pique-esconde, boli-bete, adivinhações, etc), e nada me deixava mais chateado do que quando me colocavam na brincadeira mas diziam baixinho disfarçando: “Deixa, ele é café com leite…”. Significava que eu achava que estava brincando, eles faziam de conta que eu estava participando, mas minha participação não valia nada, não mudava o resultado da brincadeira.

É triste admitir que nosso presidente da república, com apenas um ano e três meses de governo, está se tornando um presidente café com leite, em especial nos dois últimos meses.

A pandemia do corona vírus por aqui trouxe à tona qual o potencial de liderança e credibilidade Bolsonaro realmente possui junto aos poderes constituídos, qual seja, quase nenhum. E porque digo especificamente “junto aos poderes constituídos”? Porque junto ao seu eleitorado mais fiel (principalmente nas redes sociais), ele continua com apoio consolidado, embora esse apoio já tenha sido bem maior.

Mas para efetivamente exercer a administração de um país onde no momento grande parte da população não pode sair de casa, o presidente tem que saber articular com o Congresso, o Judiciário, com os Governadores, com as Associações e Entidades de Classe, empresariado e com os órgãos de imprensa (entre outros). Sabe com quem ele consegue articular desta lista à qual me referi? Nenhum deles.

Ou seja, Bolsonaro está praticamente sozinho, e como dizem os articulistas de Brasília, ele é o Presidente da República do “Cercadinho”, pois não consegue mais ser ouvido fora daquele espaço na saída do Palácio do Planalto, onde costuma cumprimentar simpatizantes e dar declarações confusas.

Ele não consegue mais produzir nenhuma notícia ou ato de valor para o país e seus cidadãos. O que de bom é anunciado, nesse momento fica à cargo de Paulo Guedes, Sergio Moro, e, principalmente Luiz Henrique Mandetta e equipe, hoje com popularidade acima dos 75%.

Bolsonaro já recebeu um duro recado do Congresso e do STF. Se baixar alguma medida que possa trazer prejuízos comprovados à população, como perigo claro à saúde pública, essa medida será derrubada pelos congressistas, ou cassada na Suprema Corte, ou seja, está a cada dia perdendo o que lhe resta de capacidade administrativa, por culpa inteiramente sua. Hoje, não consegue demitir seu Ministro da Saúde sem que isso lhe custe a grande possibilidade de perda do parco apoio entre deputados e senadores, da mídia e dos especialistas em saúde, além é claro, de suporte de boa parte da opinião pública

Nem mesmo no chamado núcleo militar ele possui apoio total, e vem cabendo ao vice presidente Mourão a tarefa de bombeiro das pirotecnias descontroladas causadas pela língua e pelas ações do presidente e do “gabinete do ódio”.

Nosso país terá um 2020 de grandes dificuldades, que se estenderão por 2021, e a falta de um líder que seja conciliador só vai fazer as coisas andarem mais devagar, e quem vai sentir mais estas dificuldades com certeza é a população mais pobre de nossas cidades.

Precisamos para ontem que nossa maior liderança dessa do palanque, reflita e trabalhe para a união de todos os setores importantes da sociedade, traçando metas claras à serem alcançadas em curto prazo, principalmente para, depois de vencermos a pandemia, recuperarmos rapidamente nossa economia e voltarmos a crescer. Senão a recessão será demorada e dolorida.