Os preços dos imóveis em todo o mundo vêm registrando aumento significativo. Aqui no Brasil, desde as grandes metrópoles, como São Paulo, até cidades de pequeno e médio porte, como Batatais, seguem essa tendência.
Os preços das moradias estão subindo por causa da pandemia, não apesar dela, dizem especialistas. Com as profundas mudanças geradas a partir de 2020, houve uma reavaliação maciça das necessidades de moradia das pessoas. É uma corrida por espaço. Com isso as pessoas estão comprando mais e hoje existem algumas propriedades cujo preço depois da pandemia quase dobrou. Isso não quer dizer que a situação seja semelhante em todos os lugares, mas a tendência de alta é um fato.
Segundo o engenheiro Oswaldo Antonelli, que trabalha com novos loteamentos e também com empresa imobiliária, é preciso considerar que o aumento dos preços está se devendo mais ao custo dos materiais de construção, que cresceu muito nos últimos tempos. Porém, há que se considerar que o custo de vida também aumentou, basta uma pequena compra em um supermercado ou abastecer o carro para que todos sintam a diferença, e esse aumento nem sempre se reflete no valor
dos honorários de um profissional, na folha de pagamento de um assalariado. “Quem tem carteira assinada tem seu reajuste por conta de sua categoria profissional ou do salário mínimo, que nem sempre acompanham o aumento desse custo de vida. O profissional liberal, então, fica em uma situação muito pior. Se aumentar seus honorários, literalmente fica sem serviço. O povo, o contratante também não está tendo melhoria em seu poder de compra, não dá pra pagar esse aumento. Isto posto, esse acréscimo no custo das construções acaba impactando negativamente o mercado. Quem realmente precisa construir não tem alternativa. Quem pode esperar, acredita que o custo dos insumos da construção vai abaixar, o que não é uma perspectiva muito correta, visto que grande parte de nossos produtos vem do exterior, com o dólar nas alturas”, destacou.
O empresário e consultor imobiliário Rodrigo Porto acredita que em um primeiro cenário os preços continuarão a subir de uma maneira mais moderada, porém com o controle da pandemia, aliada a retomada da produção, teremos uma pequena estabilidade. “O impacto da pandemia ocasionou uma queda na produção, gerando um desabastecimento no setor da construção civil e consequentemente elevando os preços dos produtos, e ainda que a indústria nacional tenha capacidade de produzir boa parte dos produtos referentes aos materiais de construção, alguns deles, como o cobre e o aço, são importados e com a alta do dólar e a desvalorização do real, a importação se tornou mais cara. Além disso a pandemia gerou efeitos diretos em relação a moradia e hábitos cotidianos, já que as pessoas foram ‘obrigadas’ a respeitar o isolamento social, permanecendo mais em casa, organizando trabalho à distância e consequentemente reinventando uma nova forma de se viver, valorizando outros aspectos que antes não teriam tanta importância. Desta forma, após a retomada do novo ‘normal’ a tendência é a de estabilização dos preços”, destacou Rodrigo.
O engenheiro Oswaldo Antonelli lembrou que programas habitacionais salvam o mercado em uma época dessas, com subsídios federais ou estaduais para moradia, principalmente para baixa renda, mas há que se considerar, também, que o poder de compra do brasileiro diminuiu, e os juros estão aumentando com o mote de conter a inflação. “Se o salário, se o honorário do profissional liberal não aumenta, vai chegar uma hora que ele não conseguirá pagar, aí corremos o risco de ter uma bolha imobiliária como nos Estados Unidos, hora em que muitos terão que vender a preços baixos para se livrar das dívidas e os especuladores irão ganhar mais dinheiro ainda. A ação de muitos desses especuladores também tem contribuído para esse aumento exagerado de preços, é o mercado, quem tem obra pronta vende pelo que quer para quem precisa comprar e não tem outra alternativa, aí paga-se o que se pede e não o que realmente vale para não perder sua carta de crédito”, disse. Oswaldo lembrou ainda que as pessoas devem analisar bem os juros dos contratos de aquisição de imóveis para ver como o reajuste irá se comportar. Não aceitando comprar imóveis de loteadoras que parcelam com reajuste mensal pelo IGPM. Negociar com os bancos, que oferecem o financiamento e com os depósitos de construção também é uma recomendação, mas os preços na sua opinião seguirão altos. “Não se iludam, o preço hoje está absurdo, não acredito em diminuição, apenas em equilíbrio, e pensem bem antes de se endividar, saibam fazer valer seu poder de negociação na compra dos produtos e na oferta de dinheiro no mercado”, afirmou.
O empresário Rodrigo Porto, questionado sobre como equacionar a compra dos materiais de construção sem inviabilizar a obra, disse que o aumento atual do custo é semelhante ao visto no início da década passada. “Na época, com a demanda aquecida, faltavam insumos básicos para a construção civil e os preços dos imóveis dispararam, e consequentemente, se o custo aumenta, o empresário precisa absorver na margem. A entrega de um imóvel requer muita cautela e responsabilidades. Ademais, a indústria no Brasil está sofrendo com a falta de matéria-prima em diversos setores da economia. O problema afeta tanto a quantidade como a qualidade da produção em diversos segmentos da construção civil, tendo em vista que a escassez desses insumos também é responsável por reajustes de preços de até 170% que atingem toda a cadeia industrial e chegam ao consumidor final. Há falta de material para construção de casas e até mesmo para fabricar colchões, além do fato de que há um déficit habitacional muito grande no Brasil, gerando uma demanda enorme para a aquisição da primeira casa ou relativo a troca pela segunda, aliado ao fato da importante redução nos juros. Com essas novas medidas anunciadas pelo Governo Federal referentes ao Programa Habitacional Casa Verde Amarela, (anteriormente denominado Minha Casa Minha Vida) a tendência é o aquecimento do mercado além de outras medidas, tais como: a ampliação do teto do valor dos imóveis considerados habitação popular e o aumento do número de famílias aptas às menores taxas de juros do programa”, informou.