Caros leitores, esperamos que todos estejam em paz, gozando de boa saúde e em distanciamento social até que tenhamos boas notícias.
Começaremos com as notícias fornecidas pelo futebol. Em nota, o Batatais Futebol Clube apresentou uma lista nominal dos ‘novos’ sócios, que transcrevemos: capitão João Nogueira, dr. Ernesto Jordão de Magalhães, Jeronymo Evangelista de Carvalho, Alexandre Caran, Carlos Pereira Vianna, Manoel Nogueira Júnior, Otávio Gomes, professor Américo Breschini, professor Arlindo de Azevedo Bittencourt, Lourenço Parrera, Carlos Esteves, Pedro Alpino, Joaquim Jeronymo da Silva, Joaquim d’Arantes e João Lellis. Além da lista nominal, o clube notificou a participação do mesmo no Campeonato Francano e por isso, convocou para treino os jogadores: Zico, Parera, Romão, Pepino, Boareto, Pesenti, Ovidinho, Carlito, Chicó, Drol, Bruno, Vicente, Néca, Bagaro, Nado, Boareto II, Santos, Côrrea, Nanico, Lulu, Souza, Victorio, Montans e Benedito.
Ainda sobre futebol, o Riachuelo Futebol Clube elegeu diretoria em abril de 1920: presidente de honra, coronel Gabriel Andrade Junqueira; presidente, professor Antenor Romano Barreto; vice-presidente, capitão João Baptista Ferraz de Menezes; secretários, Adolpho Affonso e Carmosino de Araújo; tesoureiros, capitão José Paulino Pinto Nazário e Claudimiro Firmino da Silva; orador, dr. José Arantes Junqueira; diretores esportivos, Arthur Firmino da Silva e Américo Carilli; capitães, Francisco Segalla e João Degani; comissão de contas, Alberto Biava, Emydio Bradaschia e João Pesenti; comissão de sindicância, Julio Nori, José Feliciano de Mello Pinho, Leão Bergamini, Angelo Segalla e Heitor Rossini.
O jornal reproduziu o discurso do presidente empossado do RFC, o professor Romano Barreto (à época estava como diretor do Grupo Escolar ‘Dr. Washington Luís’), que pediu que as discordâncias dentro do clube fossem cessadas, e afirmou que iria seguir os passos do BFC para ter o seu próprio ‘ground’ e estimular as atividades físicas da população: ”Diante da rivalidade sem razão de ser, muito terá que fazer a nova diretoria, procurando transformar, dar uma nova feição ao clube, aos seus jogadores e adeptos, bem como todos os que interessarem pelo sport”.
O presidente do RFC empossado, Antenor Romano Barreto, deixou seu nome na educação brasileira, como acadêmico em sociologia e como educador. Nasceu em São José dos Campos em 1891 e morreu em Pindamonhangaba aos 91 anos, em 1982. Foi bacharel em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Paulo (1920-1924); licenciado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Foi professor e diretor do grupo escolar em Batatais, diretor do grupo de Brodowski e colaborou no plano de extinção do analfabetismo do Dr. Sampaio Dória, em Ribeirão Preto, onde residiu de 1921 a 1931. Deu aula em diversos colégios e escolas de São Paulo. Em 1935, foi convidado para compor a comissão que iria fazer a revisão da literatura didática nos cursos primários da diretoria de ensino de São Paulo. Fundou em 1939, junto com o antropólogo e sociólogo alemão Emílio Willems, a Revista de Sociologia de cunho didático e científico, a primeira e por muito tempo única revista especializada na disciplina e em 1940 junto com o mesmo parceiro publicaram o Leituras Sociológicas, consistia numa coletânea de textos sociológicos que muito apoiaram o ensino e a pesquisa em ciências socais no Brasil. Pertenceu a Academia Pindamonhangabense de Letras desde a sua fundação em 1962. Na década de 70, ainda ativo, fazia parte da comissão de redação da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro de São Paulo. Debateu e defendeu em diversos momentos a importância do ensino rural, o ensino de história mais crítico e uma educação profissionalizante. (se quiser conhecer um pouco mais deste professor e livre pensador, busque no endereço eletrônico: http://www.jornalolince.com.br/2014/set/panopticum/5906-vale-paraibanos-no-dicionario-de-escritores-paulistas).
Em função da celebração da Páscoa foi noticiado que alguns membros da alta sociedade batataense organizaram uma missa e um almoço para os detentos da Cadeia e Fórum Públicos de Batatais. O evento foi planejado pela benfeitora Maria Theolinda Junqueira. Após o almoço, foi oferecido por outra das benfeitoras, Bazilia Hortência da Rosa, uma mesa de doces aos funcionários do fórum municipal.
Há 100 anos, no dia 21 de março de 1920, foi inaugurada a 1ª Penitenciária do Estado, no final do governo de Altino Arantes. A pedra fundamental foi lançada em 1911 e a autoria do projeto é do engenheiro-arquiteto Samuel das Neves, com alterações pelo escritório de Ramos de Azevedo. A Penitenciária, ficou conhecida popularmente como Carandiru (não existe mais). Na época de sua inauguração e início de uso, foi vista como modelo prisional e é consenso encontrar que o prédio chegou a ser “um dos cartões-postais da cidade de São Paulo”. A década de 40, marca o início de uma trajetória tumultuada que culminou no conhecido ‘Massacre do Carandiru’ até sua implosão em 2002. Construída inicialmente para abrigar cerca de 1200 detentos, passando por ampliações e chegou a ter uma super lotação com mais de 7.000 homens. No local da implosão foi construído um parque conhecido como ‘Parque da Juventude’. No entanto, a implosão das edificações do Carandiru não foi total, os prédios restantes foram reaproveitados como pontos de cultura e lazer, além de funcionar uma ETEC.
Sabemos da importância dos dados sócio-demográficos advindos dos recenseamentos realizados no decorrer do tempo para melhorar a vida do cidadão e implantar políticas públicas com equidade social. Diante disso, foi notificado no periódico de abril de 1920, o recrutamento de “30 mil homens” para realizar o censo de 1920.
Em virtude dos riscos de ampliação desproporcional do contágio do COVID-19 no ano de 2020, o recenseamento brasileiro, realizado em períodos de 10 em 10 anos, deixará de acontecer. A princípio foi adiado para 2021.
Conforme dados retirados do livro Na Estrada do Anhanguera (1999) sobre 1920 e confirmados nos livros do 4º recenseamento geral da população brasileira da Diretoria Geral de Estatística disponíveis virtualmente, Batatais possuía a 100 atrás, 21.816 habitantes, sendo a 67ª em termos populacionais do Estado de São Paulo. Do total de habitantes, 10.975 eram homens e 10.841 eram mulheres.
Esmiuçando um pouco mais, devido a maior confiabilidade dos dados censitários e demográficos, mecanizados, pela primeira vez na história do país, podemos afirmar que, da população total, 18.948 habitantes eram de nacionalidade brasileira e 3.311 habitantes eram de outras nacionalidades, a maioria vindos da Itália e de longe seguida por imigrantes vindos de Portugal, Espanha, Japão, Alemanha e uns poucos provindos da Argentina, Áustria, Turquia e da Polônia.
Outros cruzamentos de dados curiosos podem servir para reflexão, como a quantidade de pessoas que declaravam não saber ler e escrever. Observamos que as mulheres brasileiras residentes em Batatais declaravam saber ler e escrever mais que os seus correspondentes masculinos, e que com a população estrangeira ocorria o inverso, os homens estrangeiros dominavam numa porcentagem significativa, um pouco mais das ‘letras’ do que as representantes do sexo feminino de outras nacionalidades.
Em 1920, a Câmara Municipal, aprovou a resolução dos vereadores Gabriel Martins de Oliveira e João Cândido Alves Filho para a mudança de denominação da Praça da Independência para Praça João de Andrade.
Interessante foi a notícia dada sobre os prédios Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e Colégio Diocesano de São José. O Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, dirigido pelas irmãs salesianas, de acordo com o jornal “tinha acabado de finalizar a construção de novo prédio em dois pavimentos, inteiramente igual ao que existia”. Em seguida, deram nota sobre a ampliação do Colégio São José, dirigido na época pelos padres da Congregação do Verbo Divino (1910-1925), projetado em dois pavimentos, pelo empreiteiro Guilherme Rosada. A nota continua: “Os prédios dos collegios referidos são incontestável riqueza de nosso patrimônio urbano, – riqueza essa muito relativa aos serviços que prestam á instrução particular os seus operosos diretores e professores.”
Pena, que desses dois patrimônios, boa parte do Colégio Auxiliadora já não exista mais. Só ficou na memória saudosa, principalmente de suas ex-alunas.
Foi anunciado pelo jornal que o padre Mathias Maria Willems, reitor do Colégio Diocesano de São José entre os anos de 1919 e 1922, missionário da Congregação do Verbo Divino comemoraria seu jubileu sacerdotal no dia 1º de maio de 1920, com direito a missa na capela do Colégio e sarau músico-literário no Salão Santa Cecília. Segundo consta, o padre Mathias Willems era alemão, filho de camponeses, nascido em dezembro de 1865 em Tarforst, diocese de Tréveris, na região da Renânia Palatinado. Fez o ginásio na cidade de Steil, na Holanda. Aos 20 anos, em 1885, foi admitido na Congregação Verbista, o noviciado fez no seminário maior de São Gabriel em Mòdling, Áustria, onde graduou-se em Filosofia e Teologia. Fez os primeiros votos em 1893 e 1895 recebeu as sacras ordens aos 30 anos. Graduou-se novamente, em ciências físicas e matemáticas pela Universidade de Berlim.
Chegou ao Brasil, mais exatamente em Petrópolis (RJ) aos 33 anos em 1898 junto com outros missionários verbistas e um ano depois, 1899, foi transferido para Juiz de Fora (MG), e em 1900 torna-se educador no Colégio Stella Matutina; em 1902 vai para o Colégio Academia de Comércio na mesma cidade, e lá permaneceu até 1910. Nos últimos dois anos foi diretor desta unidade escolar. Em 1912, seguiu para Belo Horizonte (MG) para ajudar na fundação do Colégio Arnaldo Jansen, onde exerceu os cargos de professor e de diretor entre 1915 e 1919. Em 1920, aos 54 anos, foi enviado para a cidade de Batatais (SP) para ser o reitor do Colégio São José, cargo que ocupou durante um triênio, até 1922. Em Batatais deixou um legado da sua atividade, “ora como arquiteto, ora como organizador de gabinetes de física e química (…)” de acordo com a homenagem recebida pós-morte por um colega da Congregação que o conhecia de longa data. Em 1922 retornou para Belo Horizonte (MG), novamente como diretor do Colégio Arnaldo. Faleceu aos 81 anos em agosto de 1946.
Conforme as notas policiais, mais um dos sentenciados da cadeia local, que amedrontava a população de Batatais foi a óbito, por enfermidade grave, Virgílio Victor da Silva, segundo consta, o dito ficou conhecido como o líder de um grupo que matou um homem estrangulado numa fazenda do município no ano de 1918, infelizmente não obtivemos mais informações sobre os fatos.
O jornal ‘O Altinópolis’ foi citado por fazer uma bela edição comemorativa com 18 páginas, pela passagem do seu segundo ano de circulação periódica desde 1918 e de um ano da emancipação política do antigo distrito Mato Grosso de Batataes, no dia 9 de março de 1919, com o nome de Altinópolis, em homenagem a Altino Arantes.