Revi dias atrás o delicioso Meia-Noite em Paris, do grande Woody Allen, hoje proscrito do grande cinema mundial acusado de abusos sexuais. Aliás, quem assiste Meia-Noite em Paris não consegue acreditar que tenha sido feito por um abusador.
O filme conta a história do Gil Pender (interpretado por Clive Owen), um roteirista de Hollywood que ambiciona se tornar romancista e morar em Paris. Gil Pender descobre uma passagem no tempo, que se abre sempre que os sinos de uma igreja toda as doze badaladas da meia-noite. Ele retorna à Paris de 1920 e se encontra e convive com grandes artistas daquela época (Hemingway, Fritzgerald, Dali, Picasso, Bruñel, T. S. Eliot).
Às vezes tenho a impressão de que há uma passagem do tempo semelhante nos ligando aos anos 1960.
Tem gente caçando Marx e os marxistas e acreditando que o Brasil está sob o risco de uma revolução comunista; tem gente batendo palma para torturador e apregoando violências e preconceitos de todo tipo; vejam que existe até um esforço para retornar aos níveis de analfabetismo daquela época, cortando verba da educação.
Mas nem tudo são más notícias.
Nesta semana, a fenda para o Brasil de 1960 redescobriu Chico Buarque, que foi agraciado com o Prêmio Camões de Literatura. Chico é o ápice da canção urbana carioca do século XX. Penso que quem discorda disso não ouviu a obra direito.
Dentre as mais belas, está Sabiá, composta em parceria com o não menos genial Tom Jobim, que ganhou o Festival Internacional da Canção de 1968, sob vaias do público, que preferia Pra não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré. Também hoje Chico está sob vaias. Para ser mais preciso, é diariamente atacado por sua vinculação ao Lula. Nos últimos tempos estamos desprezando nossos grandes por que pensam diferente. Tempos estranhos e sombrios.
Mas, como Chico, acredito: “Vai passar…”