Parto de algo que escrevi na edição passada e que muito me atormenta: a internet deu voz aos idiotas. É uma paráfrase (muito simplificada, por sinal) do que declarou o grande pensador italiano, Umberto Eco, no ano de 2015.
Eis o que ele realmente disse: “As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”.
De fato, da internet é profícua na produção de dados, informações e imbecis, ou, como na ideia de Umberto Eco, em revelar a imensa quantidade de imbecis que há no mundo.
Nenhum problema com os imbecis. Talvez eu mesmo seja um, pois parece que o atributo essencial de todo imbecil é não ter consciência da imbecilidade. O fato é que a Constituição garante o direito de livre manifestação a qualquer pessoa, do imbecil ao ganhador do Nobel e, como democrata convicto, sou um ávido defensor deste direito.
Pude acompanhar a universalização da internet privada (no sentido de particular, não de vaso sanitário) no Brasil, desde os primeiros serviços (caríssimos, lentos e instáveis), passando pela implantação da banda larga, o surgimento e a expansão das redes sociais e, finalmente, pela portabilidade viabilizada pelos celulares e smartphones.
Sobretudo, sempre me chamou atenção a imensa quantidade de textos, imagens, bibliotecas, canais de notícia que evoluíram e se avolumaram na mesma medida da internet e de como toda sorte de conhecimento ficou acessível com alguns toques no teclado.
Durante minha infância e adolescência a estante da sala de casa era adornada pelos quinze volumes da velha enciclopédia Delta Larousse. Eu vi, li e reli a Delta incontáveis vezes, por curiosidade ou necessidade. Hoje ela tem pouca utilidade diante da imensidão de informações disponíveis nas telas iluminadas que vejo diariamente.
Então, sempre vi na internet um elemento indispensável de universalização do conhecimento e da democracia. Em parte, isso ocorreu, é preciso reconhecer. Porém, é notório e considerável que a internet tenha se tornado um poderoso instrumento de alienação, ódio e imbecilidade.
Daí, para longe do sentimento de indignação do grande Umberto Eco, meu sentimento é de tristeza com a humanidade e, em especial, com a humanidade imbecil, que tem todo conhecimento do mundo em poucos cliques, mas prefere disseminar fofocas, bobagens, tolices e mentiras, estas últimas que, agora, chamamos pelo anglicismo cafona de “fake news”.
Há esperança de que isso mude?
Talvez sim. Vale tentar.
Ei, imbecil: celular não é espelho, é janela.