Eis que se inicia agosto, e junto com o popular mês do “cachorro louco” também chega o início do período eleitoral, versão 2022, prometendo emoção até o dia 03 de outubro, data do primeiro turno das eleições. Diria emoção e tensão, tamanho o grau de polarização atingida por conta de um embate que pela primeira vez deixa bem claro o confronto, dentro do nosso espectro ideológico, entre a chamada direita conservadora e a esquerda progressista.
Escrevo esse artigo sobre o início da caminhada até a eleição, deixando de lado a análise política para trazer uma avaliação estritamente técnica, apenas e tão somente considerando o impacto de três dados fundamentais na consideração dos candidatos para traçarem as estratégias de campanha, conquistar a simpatia dos eleitores, e logicamente, o tão valioso voto.
Os números aqui apresentados tem como base nos dados as medições feitas pelo Instituto Datafolha. E porque o Datafolha? Respondo: é o instituto de pesquisas há mais tempo no mercado (fundado em 1983), com metodologia moderna e confiável, sendo o mais procurado por instituições de ensino, órgãos governamentais, associações de classes e grandes empresas para análise de mercado, condições econômicas gerais, variações de usos e costumes da população, e claro, pesquisas eleitorais. É o instituto com mais acertos em resultados de eleições presidenciais no país desde 1989, e exatamente por isso vai completar 40 anos no ano que vem, sendo referência aos demais institutos e com credibilidade comprovada.
Os três dados a que me refiro são os mostrados nos gráficos logo abaixo: índices de intenção de voto, rejeição e avaliação do governo de plantão, nos meses de agosto de 1998, 2006, 2014 e 2022, início dos períodos eleitorais nos pleitos presidenciais em que tivemos disputa pela reeleição.
Percebemos logo de cara, que o presidente Bolsonaro não terá vida fácil em busca de um segundo mandato nessa eleição. De todos os exemplos nas eleições passadas aqui referidos, ele é o único candidato à reeleição que inicia agosto atrás do principal adversário (Lula 47%, Bolsonaro 29%), com rejeição maior (Lula 36%, Bolsonaro 53%) e com avaliação de seu governo mais negativa do que positiva (28% aprovam, 45% desaprovam).
Dos três índices, penso que Bolsonaro nesse momento deve estar focado prioritariamente em baixar seu índice de rejeição. A explicação é simples: qualquer número de rejeição maior que 50%, em uma eleição de dois turnos, significa derrota. É pura matemática. Para isso, o presidente já está se mexendo, tendo providenciado o aumento do “Auxílio Brasil”, “Vale gás”, “Vale caminhoneiro”, diminuição do ICMS nos combustíveis e tantas outras medidas que somente quem está com a caneta da presidência na mão pode executar. Portanto ressalto, sua tarefa para vencer a eleição é difícil, mas não impossível.
Mas um fato traz um ingrediente à mais, e imprevisível, nessa eleição presidencial. Pela primeira vez teremos uma disputa entre um presidente tentando reeleição – Bolsonaro, e um ex-presidente buscando seu terceiro mandato – Lula. Isso pode favorecer Lula, mas também será seu principal telhado de vidro. Ele apostará no discurso da experiência, dos benefícios sociais, da inclusão e da estabilidade econômica na qual seu governo navegou entre 2003 e 2010. Por outro lado, seus adversários (principalmente Bolsonaro) vão bater na sua aliança com Alckmin (antigo adversário), nos escândalos de corrupção (mensalão e Petrolão) e no velho estigma da ameaça do comunismo.
Mas pesquisa é a fotografia do momento. E observando os números de agosto de 1998, quando FHC foi eleito no primeiro turno, agosto de 2006, quando Lula bateu Alckmin no segundo turno, e agosto de 2014, quando Dilma se reelegeu vencendo Aécio também no segundo turno, e fazendo um comparativo simples com os números atuais*, a conclusão de momento é que Lula inicia a campanha com favoritismo, sendo claramente o adversário a ser batido. (*números da atual pesquisa Datafolha de 27 e 28 de julho, com registro no TSE sob o nº BR-01192/2022).
Torço fortemente para que o processo eleitoral transcorra de forma pacífica, dentro da legalidade, e seu resultado seja promulgado pela Justiça Eleitoral, como sempre. Pode parecer estranho ter que torcer por coisas tão óbvias, mas como vivemos tempos estranhos, não custa insistir.