O município de Batatais ficou conhecido durante décadas pelo criativo, luxuoso e diferenciado desfile das escolas de samba e blocos carnavalescos. A comunidade do samba era vibrante, com uma energia que era sentida nos quatro cantos da cidade, especialmente quando iniciavam os ensaios nas quadras.
Nos finais de semana que antecediam aos desfiles, centenas de pessoas se aglomeravam para as Casas de Samba, com os encontros de todas as agremiações. Como Estância Turística, a festa popular era tida como um dos pontos de destaque, pelo envolvimento da população e, principalmente, pela repercussão e atração de visitantes. O carnaval batataense era anunciado pelas emissoras regionais como o ‘Melhor do Interior Paulista’. E agora? A festa tem fôlego para renascer?
A Vereadora Marilda Covas, ferrenha defensora do carnaval e tradicional participante da Escola de Samba do Castelo, afirma que durante este ano, por conta da pandemia Covid-19, pouco poderá ser realizado no tocante a eventos que pudessem alavancar recursos para uma retomada do carnaval de rua. “Com muito empenho e ajuda das Secretarias, principalmente, as de Turismo e Cultura, poderíamos iniciar conversas com os atuais presidentes das escolas de samba, no sentido de verificar a regularização de suas documentações, imprescindíveis para se efetuar qualquer parceria com o poder público. Se houver avanços nas tratativas, poderíamos pensar na retomada de eventos em 2022, para uma grande retomada em 2023. Isto está acontecendo, acredito na volta dos desfiles das nossas escolas de samba e de nosso alegre carnaval de rua”, afirmou.
Aqueles personagens históricos do nosso carnaval, como Rômulo Trevizani, da Castelo; Simão, da Unidos do Morro; Isoel, do Acadêmicos do Samba, e tantos outros, não estão mais entre nós, o que acaba dificultando a retomada. “Pela Escola de Samba do Castelo, o Romulo sempre teve uma participação fundamental, a começar pela escolha do enredo de cada desfile, incluindo sua participação na composição dos sambas enredos. Ele possuía um poder de mobilização muito grande. Anualmente, juntamente com outros carnavalescos, como Zito Bonvini, viajava para várias outras cidades visando comprar materiais e alugar esculturas para a confecção de nossos carros alegóricos, que eram sua paixão e nos quais depositava seu bom gosto e criatividade. Além disto, a energia contagiante do seu sorriso, tanto no Barracão como na Passarela, emoldurava o carnaval dos Castelenses. Com certeza, todas as Escolas tiveram carnavalescos tão essenciais… e sempre terão… pois suas obras semearam exemplos que renascem nas obras de novos Titãs da Alegria que perpetuam o Reinado de Momo”, destacou Marilda Covas.
A semente foi plantada
Marta Regina Guidolin, uma das fundadoras da UESB e participante do Carnaval em Batatais desde 1977, acredita na volta do Carnaval em 2022. “Temos grandes artesãos, carnavalescos, escola de mestre Sala, bons compositores, ótimos mestres de bateria e muitos foliões amantes do carnaval que não desistem nunca dessa festa de sonhos e alegria. Festa que é cultura popular, promove conhecimento, gera empregos, socializa e traz alegria para grande parte de nossa população. Perdemos grandes nomes do nosso Carnaval, mas, eles plantaram a semente e ela germinou, nova geração está se formando, com os mestres que aí estão, esperando a vontade de nossos governantes, em promover o maior espetáculo da terra, em nossa Batatais”, destacou.
Já Volnei José Barbosa, da Unidos da Liberdade, que participou de várias agremiações sempre com muita garra e determinação, lamentou o momento ruim com a cidade sem carnaval, nem mesmo os blocos de rua que não tiveram atividades neste ano por conta da pandemia. “O carnaval faz parte da nossa história e traz grandes divisas para nossa cidade, muita gente que trabalha com o carnaval e fica sem oportunidade de conseguir uma renda nesses meses que antecedem a festa. Espero que, depois da pandemia, o Poder Público, as escolas de samba e blocos se reúnem para a volta do evento. Espero ter mais apoio do prefeito atual, pois o que saiu deixou muito a desejar. Agora sem os grandes nomes da festa como Isoel da vila, Elmo de Almeida, Magda Estela, Rômulo Trevisane, Simão do Morro tudo fica mais difícil, mais temos novos líderes muito competentes que podem e devem reorganizar nosso carnaval. Se depender de mim o carnaval volta cada vez mais forte”, frisou.
Voltar a ser familiar
Carlos Alexandre Martins de Araújo, da Escola Unidos do Morro, afirma que o Carnaval de Batatais tem que voltar a beber água da fonte. “A festa sempre se caracterizou por ser artesanal e familiar. Acredito que se todos os carnavalescos se conscientizarem dessa realidade acho que podemos voltar a ter desfiles em Batatais”, disse.
Dorinha, da Dovale Decorações, que trabalhou com fantasias desde os seus 18 anos, onde contribuiu com a Escola de Samba Riachuelo de 1995 a 1997, período em que a agremiação foi bicampeã, disse que o carnaval pode voltar sim, pois tem muita gente nova competente para prosseguir com o trabalho. “Só precisa ser reestruturado para não ficar dependendo da verba da Prefeitura, porque esse sempre foi um problema”, lembrou.
Tempo de ‘Escola’ já foi
A pesquisadora cultural e grande amante do carnaval, Alessandra Baltazar, acredita que o tempo de ser ‘Escola’ já passou. “Nos meus 45 anos de idade eu já vivi uma certa diversidade de festejos de carnaval, que começaram com os bailes nos clubes, em que fazíamos camiseta e celebrávamos o carnaval desde janeiro com os saudosos ‘Gritos de Carnaval’. Depois veio a onda do ‘Pagode’, época em que também vivi os bastidores das escolas de samba e as ‘Casas de Samba’, que eram o esquenta dos Desfiles de Escolas. Nos últimos anos, os ‘Bloquinhos’ preencheram o carnaval com grande alegria e divertimento. Assim… apesar de saber o quanto somos talentosos na realização do Desfile de Escolas de Samba, penso que deixamos de ser ‘Escola’… Acho que novas formas de festejar virão, mas penso que cada vez mais espontânea, criativa e divertida”, disse.
O fato é que Batatais tem muita gente que gosta de carnaval e a população precisa se divertir, seja numa festa mais descompromissada, como dos blocos de rua, ou com as regras determinadas pelos desfiles no Sambódromo Carlos Henrique Cândido Alves. A soma das duas possibilidades seria mais interessante ainda, pois a cidade necessita de atrativos para se firmar como ‘Estância Turística do Estado de São Paulo’.