É certo que todo batataense conhece ou pelo menos já ouviu falar do Horto Florestal do município – uma área verde de aproximadamente 1.400 hectares com várias espécies da fauna e da flora importantes para a região. O local em si é muito frequentado para a prática de esportes, como Mountain Bike e Caminhada, por pessoas de Batatais e região. O isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19 restringiu as opções de lazer, aumentando a visitação do Horto Florestal e, por consequência, gerando um grande problema para a fauna local de primatas. Os visitantes do entorno do Horto com frequência alimentam os macacos-prego (Sapajus nigritus), segundo constatou Paulo Roberto Furini, Doutorando pelo Programa de Pós Graduação em Biologia Comparada na FFCLRP/USP.
O especialista afirmou que apesar da boa intenção, motivada pela falsa sensação de que o ambiente não oferece recursos alimentares suficientes para os macacos na estação seca, a atitude é muito ruim para os animais. “Os macacos-prego têm um hábito alimentar muito diversificado, composto por frutos, brotos, sementes, pequenos animais (inclusive insetos!) e ovos. Portanto, quando falta um recurso encontra-se outro. O contato direto das pessoas com os animais acarreta vários problemas para ambos. Os macacos-prego são primatas silvestres que, em geral, se tornam agressivos (podendo até atacar) quando se sentem ameaçados. Os alimentos oferecidos pelas pessoas gera um desequilíbrio na dieta dos macacos, alterando o comportamento de busca de alimentos (ocorre uma associação da comida aos humanos) e afetando a qualidade da dieta, pois muitos dos alimentos oferecidos são inadequados aos animais. Ainda, o compartilhamento de alimentos com os macacos, como por exemplo biscoitos do mesmo pacote ou frutas parcialmente consumidas, pode favorecer a transmissão de doenças humanas aos macacos (não esqueçamos que biologicamente os macacos são nossos parentes próximos!). Os macacos-prego são animais sociais e a abundância de alimento gera nos animais uma falsa sensação de qualidade de vida elevada, estimulando o aumento da população desses primatas (esse fenômeno já ocorreu em outras áreas da região). Isso é prejudicial, visto que o habitat, por si só, não comporta esse crescimento da população. Sendo assim, ao longo do tempo podemos ter uma superpopulação de macacos o que geraria um desequilíbrio na dinâmica no meio ambiente”, destacou Paulo Roberto.
Por fim, ele ressaltou que o objetivo do alerta não é desestimular o contato das pessoas com a natureza. Os animais podem ser admirados a certa distância e o Horto Florestal precisa ser cuidado e defendido. As pessoas podem, por exemplo, descobrir a beleza das flores das plantas nativas e ouvir os barulhos sutis das aves e dos insetos. “Cada um de nós pode desfrutar do Horto acompanhando mais de perto as políticas públicas em prol do meio ambiente de nossa cidade. A Pandemia é um grande exemplo do descaso entre o Homem e sua relação com os outros animais, chegamos a uma fase em que se faz necessário a participação de todos em prol do bem-estar e equilíbrio da Natureza, começando localmente para atingirmos metas globais”, concluiu.