Segunda feira que vem, dia 31 de outubro, será para mim mais uma segunda feira como outra qualquer. Como sempre, início de semana, trabalho esperando na minha mesa e reuniões de praxe, começar mais uma dieta, feriado na quarta (que eu não gosto), meu Palmeiras campeão jogando com o Fortaleza, ensaio com minha banda, levar a Maggie no pet-shop para o banho, tomar uma cerveja gelada com os amigos. A vida segue.
Sim, eu sei. Essa próxima segunda feira será o dia seguinte às eleições presidenciais mais polarizadas da nossa história, e conheço muita gente que, dependendo do resultado, acha que o mundo vai acabar, e o país vai parar. É aquele sujeito que simplesmente não aceita um resultado que não seja a vitória do seu candidato, e fica fazendo bico e ameaças ridículas que vão se esfumaçar rapidinho. Posso garantir: o mundo não vai acabar e o nosso país vai continuar funcionando, seja bem, seja mal.
Winston Churchill, o grande primeiro-ministro britânico que ajudou a derrotar Hitler, em uma de suas mais famosas frases defendeu a tese de que “a democracia é a pior forma de governo, exceto por todas as outras”. Nela, o povo, através do voto e por sua maioria, determina os destinos da nação.
Mas uma democracia não se sustenta somente com a ocorrência de eleições livres e periódicas. É necessário outras tantas situações, como a alternância dos governantes, a efetiva separação de poderes, a admissão da propriedade privada e da livre iniciativa empresarial, a liberdade de imprensa, o respeito pelas instituições em geral e, em especial, pelas decisões do Poder Judiciário. Sem esses pilares, a democracia tangencia o autoritarismo.
Mas acima de tudo isso, está o cidadão que aceita sim as regras do jogo, e seu resultado final, mas não se abala, não se cala, e não se entrega e exerce um direito fundamental na melhoria das democracias pelo mundo: a fiscalização! “O preço da liberdade é a eterna vigilância”, é uma frase atribuída a John Philpot Curran, um político irlandês do final do século 17, onde poderíamos trocar a palavra “liberdade” por “democracia”.
A autêntica vivência democrática, nos mostra que devemos exercer a virtude cívica de abrir mão de impor as próprias convicções, ainda que estejamos convencidos de que essa opinião é a mais correta ou a mais nobre. Ninguém pode achar-se dono da sociedade civil, com o direito de impor o seu projeto pessoal de sociedade. Ninguém tem mais de um voto e esse voto vale tanto quanto o de todos e cada um de seus concidadãos. Essa participação “humilde” é essencial, e só quando amplamente compartilhada e vivida pode-se falar propriamente de uma cultura democrática.
Portanto, afirmo com toda tranquilidade, qualquer que seja nosso futuro presidente, estarei na próxima segunda feira pronto para uma nova semana de trabalho, expectativas, projetos e esperança de futuro sempre melhor, nunca deixando de lado a tal “eterna vigilância”. E não custa lembrar: meu voto vale tanto quanto qualquer outro, nem mais, nem menos, e a maioria dos votos sempre decide. Quem discordar disso, pode se mudar para Arábia Saudita ou Brunei, lá voto não existe nem no dicionário.