Nessa semana a decantada maior feira de agronegócios da América Latina deu o ar da graça na vizinha Ribeirão Preto, mas o tema mais discutido por lá não foi aquela nova tecnologia em cultivo, ou a abertura de uma nova linha de crédito rural, ou a melhoria no escoamento da safra pelo território nacional. Foram as trapalhadas da organização da feira, e do governo federal… e até parece que um não precisa do outro.
Ao confirmar sua presença na abertura do evento, o governador do Estado, Tarcísio de Freitas (PR), avisou Chiquinho Matturro, presidente de honra da feira, que levaria à tira colo o ex-presidente Jair Bolsonaro. Prevendo um provável mal-estar, Chiquinho telefonou para o Ministro da Agricultura Carlos Fávaro avisando-o da presença de Bolsonaro no palanque, e que talvez fosse prudente o Ministro visitar a feira em um outro dia. Fávaro se sentiu desconvidado, e avisou que não iria. Resultado: pela primeira vez na história do feira, a cerimônia de abertura foi cancelada, e a “torta de climão” foi servida à todos.
Esse cancelamento da cerimônia de abertura da Agrishow, foi resultado não só de uma trapalhada da direção do evento, mas também de uma total inabilidade do governo federal, que decidiu não levar desaforo para casa, fazendo com essa disputa ficasse espremida entre o oportunismo bolsonarista e a retaliação petista. Ninguém saiu ganhando, com certeza. A não ser Bolsonaro, que não tinha nada à perder, e, acuado por inquéritos desde que deixou a presidência, só saiu de casa aqui no Brasil para depor na Polícia Federal. No Agrishow, desfilou entre simpatizantes do agro, e voltou à arena política em grande estilo, sem ser incomodado por ninguém.
Esse episódio só piorou a relação conflituosa que o presidente Lula tem com o agro, que sempre discordou das políticas do governo petista para o setor, como por exemplo, a demarcação de terras indígenas, e a inação diante das invasões do MST. Faltou jogo de cintura ao Ministro da Agricultura, e fontes de dentro do governo chegaram a afirmar que o Banco do Brasil cancelaria o patrocínio na Agrishow, o que não era verdade. Uma ação como essa poderia configurar retaliação política, e a administração do banco poderia ser questionada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
Mas também errou a organização do Agrishow, que, ao tentar precaver o Ministro da Agricultura de um encontro cara a cara com Bolsonaro, acabou passando a impressão que o Setor do Agro ainda não desceu do palanque. Tradicionalmente, o convite para participar da cerimônia de abertura do evento é direcionado ao ministro da Agricultura que está no cargo, e ao optar por receber Bolsonaro na abertura, o Palácio do Planalto avaliou que a organização transformou o evento empresarial em um palanque político.
A organização da feira soltou uma nota oficial ainda na segunda feira, data de sua abertura, dizendo que “reiterava o convite para que o Ministro mantenha a sua agenda de visita ao evento para conhecer as inovações que estão ampliando a competitividade e desenvolvimento do setor”, mas aí o estrago já estava garantido.
Desde 1994, quando foi criada a feira, esta seria a primeira vez que nenhum representante do governo federal participaria da abertura da feira. E com certeza, isso não é, nem de longe, algo que a “maior Feira de Agro-negócios da América Latina” deva se vangloriar.