Nessa semana, o 7 de setembro certamente foi memorável, num amplo sentido. Realmente, as manifestações em apoio ao presidente Jair Bolsonaro por todo país foram representativas, em especial em Brasília e São Paulo, onde ele esteve presente e discursou para seus fiéis seguidores. O clima era de comício eleitoral, com todos os ingredientes básicos presentes: aglomeração, claque entusiasmada, faixas e bandeiras de apoio, camisas amarelas, gritos de “mito! mito!”, um ou outro bate-boca aqui e ali, mas deve-se ressaltar que tudo correu de forma pacífica e até tranquila.
Conclui-se que a capacidade de mobilização do presidente ainda está ali, pra quem quiser ver, balizado por algo entre 20 a 25% da população, o que não é pouco (mas já foi muito maior). Porém, quando inserimos essas informações no atual retrato da realidade brasileira, percebemos que Bolsonaro (e o país) saiu desse 7 de setembro menor do que entrou. Explico.
As mobilizações foram grandes, mas o conteúdo de discurso sério, foi zero. Após os discursos do presidente pela manhã na Praça dos Três Poderes, e à tarde na Avenida Paulista, pergunto o que ficou deliberado por Bolsonaro que possa melhorar nossa atual crítica realidade de inflação à caminho dos dois dígitos (9,68% no acumulado do IPCA), desemprego recorde, dólar e juros subindo, gasolina cara, energia elétrica e à beira do colapso, botijão de gás à 100 reais, reforma fiscal parada, pandemia, pobreza aumentando… respondo: a única decisão tirada das manifestações foi de que ele, Bolsonaro, não iria mais cumprir decisões do ministro Alexandre de Moraes, do STF. MAIS NA-DA!
Pela manhã em Brasília, Bolsonaro chegou a anunciar, com toda pompa e eloquência, que iria convocar o Conselho da República no dia seguinte para mostrar qual o caminho a ser seguido pelo nosso país. À tarde em São Paulo, alertado pela sua assessoria mais atenta, descobriu que o tal Conselho nem estava constituído, e que ele teria minoria em sua constituição, ou seja, não teria nenhum efeito prático para ele. O Conselho da República sumiu da pauta, em questão de horas.
Ou seja, ao final de muito discurso vazio, a única decisão de Bolsonaro foi no sentido de se comprometer com seus seguidores, a descumprir decisões de um membro da Suprema Corte da Justiça de nosso país, ato de afronta à nossa Constituição, e que configura crime de responsabilidade, conforme o presidente do STF Luiz Fux frisou em seu discurso de abertura da sessão do Tribunal da última quarta feita, dia 8.
A repercussão foi extremamente negativa para Bolsonaro e seu governo, e imediatamente trouxe consequências maléficas para a economia, na política, na governança, nos investimentos, na geração de empregos, e só contribuiu para aumentar a instabilidade entre os poderes constituídos em nosso país, e garantidos em nossa Lei Maior. Na prática, nada de importante ou factível foi determinado.
E politicamente acabou sendo pior para ele mesmo, pois criou uma armadilha para si próprio, se desrespeitasse uma decisão de Alexandre de Moraes, daria motivo objetivo para o impeachment, e se ele cumprisse, ficaria desmoralizado perante seus eleitores, perdendo todo aquele seu discurso feroz e incisivo, que vimos nessa semana.
Com os caminhoneiros ameaçando paralisar o país na quarta feira, Bolsonaro percebeu então que tinha dado um tiro de fuzil no próprio pé, pois o caos se instalaria no país, e ele seria o primeiro a ser responsabilizado. Na quinta, preparou uma carta à nação, onde basicamente disse que não quis dizer o que realmente disse nas manifestações do feriado, e que se disse, foi no “calor do momento”. Literalmente amarelou.
Agora chegou o momento para medir o grau de seriedade e consistência das palavras do capitão, e o quanto de capital e apoio político ainda lhe resta em Brasília. Ao frigir dos ovos, o resultado não é nada bom para Bolsonaro, cada vez mais isolado em sua “bolha”, com menos capacidade de governar, e mais pressão na “barragem de contenção de sua administração”, prestes à ruir. Será a senha para muito político governista de ocasião em Brasília procurar abrigo longe do governo, mirando as eleições de 2022. Aguardemos.