Prezados leitores, iniciamos nossa coluna de 2022 dando continuidade a assuntos abordados nos últimos dois meses de 2021, pois uma história vai levando a outra e não poderíamos deixar de compartilhar memórias e relatos de alguns personagens negros de Batatais. Certamente novos personagens serão lembrados e este inventário não se esgota por essas páginas, uma vez que a cultura imaterial é viva e mutante. Todavia, fica aqui nossa referência a Mário Alves dos Santos, Antônio Benedicto Corrêa, Edgard Alves de Oliveira, Moysés de Oliveira e Isoel Aparecido da Silva.
MÁRIO ALVES DOS SANTOS
Mário Alves dos Santos foi um homem de uma generosidade e gratidão ímpares. Desse tipo de pessoa que deixa saudades com sua bela história de vida. Boa parte dessa história se mistura com o clube do qual foi fundador e ajudou a manter durante décadas, a Sociedade Recreativa Beneficente Princesa Isabel. Porém nosso biografado envolveu-se por diversos caminhos onde seu apoio social e beneficente fizeram a diferença. Foi também presidente da Pró-Arte, do Serra-Clube (entidade de apoio vocacional religioso) e da ABADEF, dentre outras tantas sociedades que ajudou a compor. Ao seu lado nestas empreitadas, sua parceira inseparável, a esposa Maria Ambrosina.
Mário nasceu no ano de 1925, na cidade de Batatais e comemorava seu nascimento no dia 15 de fevereiro. Membro de uma família numerosa, teve oito irmãos: Lourdes, José, Alcídes, Cyrene, Célia Natalina, Carlos Justino e um casal de gêmeos que morreram recém-nascidos; estando vivos Célia Natalina – escritora, professora e jornalista – e Carlos Justino – jornalista de esportes. Seus pais foram Ana Justina dos Santos e Malaquias Alves dos Santos. O pai trabalhou com todos os tipos de serviços de uma fazenda. A mãe era dona de casa, e como a maioria das mulheres, ajudava nas rendas da família como cozinheira e quituteira; tinha uma enorme paixão por bailes e carnaval. Mesmo o pai trabalhando em fazendas, a família sempre morou na cidade, ao final da Rua Dr. Chiquinho Arantes.
Mário e os irmãos trabalharam desde muito cedo, como faziam os garotos da época para ajudar com o sustento da família. Fez de tudo um pouco, porém ao tornar-se aprendiz de marceneiro com os senhores José Lazzarini e Claúdio Nori, fixou-se no ofício e acabou levando a arte da marcenaria pela vida como uma verdadeira paixão. Em sua casa ainda existem móveis requintados feitos por ele e as ferramentas e objetos deixados e guardados pela família.
Terminou os estudos com muito custo, praticamente forçado. “Não gostava de estudar, sua mãe vivia sendo chamada ao Grupo Washington Luís para ouvir reclamações das peripécias do menino fujão”, contou a viúva Dona Maria Ambrosina.
Em 1959, começou a trabalhar no Fórum local quando este transferiu-se para o prédio da Prefeitura Municipal atual. Começou fazendo serviços gerais, mas meses depois adquiriu a confiança dos seus superiores e ganhou o cargo de Oficial de Justiça. Aposentou-se depois de mais de 30 anos de serviços prestados ao poder judiciário.
Casou-se aos 30 anos na cidade natal da noiva, Maria Ambrosina Bandeira, então com 28 anos. Apesar do casamento ter-se realizado em Barretos, esse romance começou em Batatais mesmo, quando Ambrosina mudou-se para cá, a trabalho, em 1948 com 18 anos, acompanhando a família do senhor Wilson Lellis Garcia, então gerente bancário do Banespa.
Os primeiros olhares entre o casal aconteceram no coreto da Praça da Matriz. Entre flertes, namoro e casamento; idas e vindas dela para Barretos, foram quase 8 anos. Casaram-se em 09/01/1960 e desse casamento resultaram dois filhos, Maristela e Roberto Mário. Segundo Dona Ambrosina, seu Mário sempre foi um companheiro maravilhoso que a incentivava no que podia. Por exemplo: ela só iniciou seus estudos na vida adulta, vindo a diplomar-se no Magistério estimulada por seu marido.
Seu Mário sempre foi um homem muito vaidoso. Em qualquer dia da semana e horário, era visto vestido com cortes de roupas de linho e perfumado. Sabia da importância de uma vida saudável. Durante anos foi juiz de futebol. O time de coração sempre foi o Corinthians. Essa paixão pelo futebol transferiu ao filho Roberto, jogador profissional. “Meu pai sempre me apoiou”, comentou o filho.
Manteve o hobby de marceneiro por toda a vida, porém cultivou outras paixões. Segundo sua esposa, gostava de: “montar e enquadrar quebra-cabeças; cozinhar para os amigos – os pratos prediletos eram casulê e dobradinha. Cantávamos também no coral do Osmar Jeyssic e, aproveitamos praticamente todos os bailes encantadores da Princesa e Pró-Arte”.
Disse Dona Maria Ambrosina que ela e seu Mário marcavam presença em praticamente todos os bailes. “Mário chegava e avisava: ‘mesa reservada, tudo certo para o baile’”. E lá iam eles, levando desde a mais tenra idade a filha Maristela.
Mário Alves no auge de sua juventude, ainda na década de 50, mais precisamente em 1952, “tinha ideais, disposição e garra para fundar junto com os colegas Antônio Benedicto Corrêa, Sebastião Paulino e Luís Jayme dos Reis, um clube social, a Sociedade Recreativa e Beneficente Princesa Isabel” relata Maristela, sua filha. Com certeza, o bom relacionamento desses rapazes com autoridades judiciárias e políticas da época muito os ajudaram na concretização da realização deste sonho. Em 1953, apenas seis meses depois da fundação do clube, tinham o terreno para a construção de uma sede, que ficou pronta no início dos anos 60.
Mário Alves foi presidente da Princesa Isabel que ajudou a fundar por dois mandatos consecutivos, até que seu amigo e companheiro de sonhos e lutas, Antônio Benedicto tomou a frente da administração do clube por praticamente mais 28 anos. Sempre com o apoio inestimável do seu amigo Mário e de outros companheiros. Mário nunca abandonou o clube; ele e sua família trabalharam incansavelmente pela entidade.
Foi um ouvinte assíduo dos programas de rádios locais e nacionais. Seu predileto foi o do Zé Betio e outros tantos da Rede Bandeirantes. Quanto ao gosto pela música, gostava de vários ritmos e estilos, não tinha nenhum predileto.
Aos poucos, os problemas de saúde fizeram com que Mário fosse abandonando suas atividades sociais. Depois de mais de 30 anos de dedicação a S.R.B. Princesa Isabel e ao trabalho. Dominado pela diabetes, acabou ficando acamado, sem mobilidade, mas isso não tirou desse homem religioso sua fé e seu bom humor. A resiliência, gratidão e a humildade estiveram com ele até seu último dia de vida. Faleceu em 28 de dezembro de 2019.
ANTÔNIO BENEDICTO CORRÊA
Antônio Benedicto Corrêa nasceu em 23 de novembro de 1925, na cidade de Morro Agudo (SP) quando seus pais trabalhavam numa fazenda de nome Santo Antônio. Foi o 7º filho de um total de 9 irmãs, todos do casal mineiro Gabriel Correia e de Dona Maria José Correia, ambos trabalhadores rurais. Antônio tinha 3 anos quando a família mudou-se para Fazenda da Mata, município de Batatais; tendo vivido lá por 6 anos, vindo morar definitivamente na cidade de Batatais em 1934, à antiga Rua Rio Grande do Norte (atual Rua Gustavo Simioni).
Entre 1935 e 1938, fez o primário no Grupo Escolar Dr. Washington Luís. Adorava estudar e foi considerado por sua professora Wanda Mascagni, um dos melhores alunos da turma. Na época, não prosseguiu os estudos por falta de oportunidades pois não existia ensino público na cidade para dar continuidade aos estudos primários. O Ginásio Estadual em Batatais (IESA) foi inaugurado dez anos depois, em 1948.
Talvez tenha nascido daí sua percepção da importância da formação formal para todos os indivíduos. Conforme atesta Antônio Carlos Garcia, um dos genros do nosso biografado: “seu Antônio Benedicto se preocupava com a educação dos jovens, em especial dos negros e menos favorecidos. Sempre falava: ‘É preciso resgatar o que foi retirado da nossa comunidade: o direito à educação de qualidade para nós negros’.”
Desde cedo, muito criança, precisou trabalhar para ajudar nas rendas da extensa família. Fazia todo o tipo de serviço que lhe era oferecido na cidade e na roça. Trabalhou na colheita de café e como ajudante de serviços gerais e obras.
No fim dos anos 30 um acontecimento local influenciou toda a vida do jovem Antônio Benedicto. Foi a fundação do Batatais Tênis Clube. Duas quadras de tênis foram construídas anexas ao campo de futebol do Batatais Futebol Clube (BFC), próximas à casa onde ele residia com a família. Antônio Benedicto começou a trabalhar para o clube como pegador de bolinhas. Incentivado por membros da associação, em especial, pelo Dr. Cássio Alberto Lima, começou a treinar como tenista. Chegou a condição de jogador oficial de sucesso graças ao seu bom condicionamento físico e treinamento desportivo. Jogou como tenista pelo Batatais Tênis Clube e pelo Centro de Cultura Física de Batatais (CCFB), e como representante da cidade de Batatais em diversos torneios regionais junto com os companheiros Tuca Laurato, José Augusto Silva, Milton Alves Pereira, Paulo Sérgio Lima, entre outros.
Dedicou-se também a outra paixão desportiva, o futebol, vindo a jogar profissionalmente no Batatais Futebol Clube e no Clube Atlético Corinthians Paulista de Batatais. No futebol recebeu o apelido de ‘Bahia’. O time do coração de Antônio foi o Corinthians.
Foi ainda no Batatais Tênis Clube que surgiu outra oportunidade ímpar para o nosso biografado. Em 1940, Amílcar Augusto Lopes, jovem alfaiate e tenista, adquiriu a alfaiataria local de propriedade do senhor Heitor Piva e convidou Antônio Benedicto para trabalhar no estabelecimento e aprender a profissão. Antônio Benedicto identificou-se com a atividade, trabalhou com os melhores da cidade: Eloy Campos, Augusto Nogueira Braga, João Gato, Egídio Raimundo, José Tostes, Nelson Manfred, José Dal Secco. De aprendiz de alfaiate tornou-se mestre no ofício e proprietário de uma alfaiataria em Batatais: a Alfaiataria Campos que ficava na Rua Coronel Joaquim Rosa.
Era um local central e frequentado por todos que podiam ‘pagar por um bom corte de tecido e o traje’. No entanto, engana-se, que era um comércio apenas para a elite; o local era amplamente frequentado, todos tinham a liberdade de ir e vir do estabelecimento comercial de propriedade de Antônio Benedicto, que ajudava a todos o quanto podia. Diz Teresa que lembra do pai anotando as compras por confiança.
Conta-nos sua filha Teresa, que seu pai relatava algumas passagens vivenciadas junto ao ex-prefeito e médico Dr. Alberto Gaspar Gomes: “várias vezes aconteceu do Dr. Alberto estar na loja e chegar alguma pessoa necessitando de ajuda médica. A consulta acontecia bem ali nos balcões com o consentimento do meu pai, que ainda dizia que nunca viu o Dr. Alberto cobrar um centavo pelos atendimentos”.
Antônio Benedicto no final dos anos 70 e início dos anos 80 resolveu que era hora de parar com a loja e a fechou. Embora tenha continuado a ser alfaiate em sua residência para alguns poucos conhecidos.
Graças ao seu trabalho e ao esporte teve um bom relacionamento com várias pessoas influentes e conhecidas da cidade. Isso fez com que tivesse “‘certo’ ‘passe livre’” em festas e cerimônias nos clubes mais conhecidos da cidade, como SR 14 de março e ABR Operária. Porém, contava que “preferia as festas dos ‘homens de cor’, conforme relata Garcia. Sempre gostou de bailes e carnaval.
Com toda essa vida de lutas e oportunidades acolhidas, o jovem Antônio Benedicto, com menos de 30 anos, teve tempo de se envolver em questões sociais bem edificantes. Nas palavras Antônio Carlos Garcia: “Nos anos 50, embora abandone uma de suas paixões, o esporte, inicia a maior, mais justa e necessária participação de seu Antônio Benedicto Corrêa para a sociedade batataense, sobretudo para uma juventude menos favorecida e muito discriminada. Seu Antônio, seu Mário Alves, seu Sebastião Paulino e outros brilhantes membros da comunidade batataense fundaram e conseguiram manter um novo clube social beneficente e recreativo na cidade: o Clube Princesa Isabel. Numa época em que não só o preconceito racial, mas também o preconceito social – ainda presentes fortemente em nossos dias – eram latentes. Seu Antônio decidiu que mesmo circulando com facilidade na sociedade, graças ao tênis de campo, um esporte considerado de elite e de ter uma boa profissão, era preciso fazer alguma coisa em benefício e recreação aos seus irmãos que, infelizmente, não tinham a mesma sorte”.
Antônio Benedicto com toda a sua amorosidade ao conversar com as pessoas era também uma voz inconformada com as diferenças, o preconceito e a exclusão sócio-racial local e nacional. Sabia que a educação era o grande caminho, senão o único para pôr fim a tal ordem de coisas.
Con Silva, amiga da família, enfatiza que vê em seu Antônio Benedicto “um dos fortes representantes batataenses de homem negro de luta, que tinha o sonho de ver todos os jovens negros formados pela faculdade, pois somente com investimento mudariam a história.”
O bom relacionamento com políticos locais e sua aguçada percepção da realidade social levou Antônio Benedicto a candidatar-se a vereador pelo antigo PTB apoiado pelo amigo Dr. Alberto Gaspar Gomes, porém, infelizmente, não foi eleito.
Em 09 de setembro de 1950, o jovem casal Antônio Benedicto Corrêa e Isaura Alves Corrêa casou-se. A noiva era batataense nascida em 14 de agosto de 1929, filha de Antônio José Alves e Dona Tereza Cristina de Souza Alves. O casal teve 3 filhos: Marco Antônio Corrêa, professor (falecido); Dr. Paulo Luiz Corrêa, advogado e bancário, casado com Maria Elizanda Fredegoto, residentes em Cambará (PR) e Maria Teresa Corrêa, professora aposentada, casada com Antônio Carlos Garcia, político, professor e escritor.
Segundo consta, Antônio Benedicto, além de administrar por longos anos a SRB Princesa Isabel, também foi um participante: praticamente nunca perdeu um baile, adorava dançar.
Morreu em 15 de setembro de 2014, aos 89 anos, em decorrência de várias complicações de saúde, mas já vinha sofrendo alguns anos com Alzheimer. Podemos afirmar que sua vida foi plena de lutas e paz.
Em vida, recebeu o título de Cidadão Batataense em 16 de dezembro de 1995; foi homenageado por sua representatividade no tênis em 1999 pelo CCFB; por toda a dedicação ao clube Princesa Isabel em 2003; em 2012 foi o Presidente de Honra do carnaval de rua batataense daquele ano, título dado pela UESB e em 2014 recebeu o nome de uma via pública na cidade, Rua Antonio Benedicto Corrêa, no Jardim Celeste.
EDGARD ALVES DE OLIVEIRA
Edgard Alves de Oliveira nasceu na cidade de Batatais, no dia 28 de fevereiro de 1931, filho de pais migrantes, vindos de Bom Jesus da Lapa, interior da Bahia. O pai Marcelino Alves de Oliveira e a mãe Judith Ramos de Oliveira. Edgard foi o mais velho de seis filhos do casal de trabalhadores rurais. Foram seus irmãos: Benedita, João, Adelino, Luzia, José e Jorcelino. No município de Batatais moraram na Fazenda da Prata. Na primeira tentativa de ‘melhorar de vida na cidade’ a família de seu Edgard morou no antigo bairro das Araras e depois todos voltaram para a mesma fazenda.
Na década de 40, a família retornou definitivamente para a cidade, no Bairro Santo Antônio. Foi quando o pai de Edgard, Marcelino, conseguiu o emprego na recém formada Guarda Noturna de Batatais. Embora tenham sido muito pobres e terem levado uma vida sofrida, seus pais fizeram de tudo para os filhos estudarem até o antigo 4º ano primário, atual 5º ano, no Grupo Escolar Dr. Washington Luís, incluindo Edgard, o filho mais velho.
Edgar sempre muito retraído, não deixou de ser um homem destemido. Pouco antes de completar 18 anos foi sozinho para São Paulo buscar novas oportunidades de trabalho, o que veio a acontecer no dia 01 de julho de 1948 na Empresa Bráulio, com o cargo de lixador. Ana Luzia, uma de suas três filhas conta que o pai sempre relatava essa batalha pelo emprego com ênfase na data de registro e na empresa. Depois, ainda em São Paulo, foi trabalhar em empresas do ramo da construção civil, geralmente como pedreiro.
Aos 21 anos, de volta a Batatais, prestou o serviço militar obrigatório. Aos 22 anos enamorou-se pela bela Benedicta Gabriela ao vê-la na Praça da Matriz. Este encontro fez com que Edgard desistisse definitivamente de voltar para a capital. Para manter-se financeiramente, continuou no ramo da construção, principalmente como pedreiro. Tanto que foi ele mesmo construiu a casa onde moraria com a futura esposa, no alto da Rua Prefeito José Ferreira.
Em 07 de junho de 1956, aos 25 anos, casou-se com Gabriela, nome que ele adorava pronunciar segundo a família. Dessa união tiveram três filhas: Maria Aparecida (Mary – falecida), Ana Luiza e Carmen Célia. Todas as filhas do casal e seus netos e netas são envolvidos com manifestações artístico e religiosas de matriz africana.
Não gostava de praticar nenhum esporte, no entanto, mantinha bom condicionamento físico pois ‘cortava’ toda a cidade com sua inseparável bicicleta, sempre bem vestido e alinhado como gostava.
No início dos anos 60, convidado pelo cunhado e cumpadre Antônio Benedicto Corrêa, começa a participar mais diretamente das atividades do Clube Princesa Isabel, como membro da diretoria. “Deixou de ajudar o clube, todo ‘sagrado’ sábado, somente em 1999” diz Célia, filha do seu Edgard.
Embora comprometido com o clube, talvez por ser muito rígido, não era ligado às festividades carnavalescas, “mas nosso pai desfilou num carro alegórico, caracterizado do cantor Caymmi pela Acadêmicos do Samba em 1982” contam orgulhosas as filhas Ana e Célia.
Todas as suas filhas, incluindo Mary são do samba e do carnaval. Já a mãe, Benedicta Gabriela, “foi levada a força para o carnaval” nas palavras de Célia. Tornou-se bordadeira das fantasias das filhas. Foi cozinheira por longos anos no Hospital Major Antônio Cândido e depois trabalhou no Lar da Infância. No ano de 2000 enfartou em casa, numa noite de Carnaval, vindo a falecer.
Além do Clube Princesa Isabel, Edgard esteve envolvido com a comunidade do bairro e sempre buscou e lutou por melhorias.
Edgard foi um corinthiano sem fanatismo, ao contrário de sua esposa que ficava grudada no rádio nos dias de jogos do Corinthians. Ele gostava era dos programas musicais e escutava de tudo. “Lembro dele colocar um ‘bolachão’ no toca-disco e dançar pela casa com a gente, acho que seria o início do rock ou jazz, não me recordo” diz Célia. Porém, segundo as filhas, amava mesmo era a música sertaneja raiz.
Foi católico praticante, ia todo domingo à missa da manhã da Igreja Santo Antônio. Até que um dia chegou cabisbaixo e avisou que não frequentaria mais os cultos. Assim o fez e as filhas desconhecem a razão de tal decisão até hoje. Suspeitam de alguma falta de gentileza cometida pelo pároco da época em relação aos hábitos católicos populares de alguns frequentadores da igrejinha.
Quanto à percepção da desigualdade social e racial, Edgard narrava sentir “na sua cor da pele, principalmente quando trabalhava em obras como pedreiro para gente mais importante”, conta-nos Célia. Sempre educou as filhas para o bom enfrentamento de ideias perante o mundo.
Edgard Alves de Oliveira faleceu em 17 de setembro de 2005 em decorrência das complicações da diabetes.
Foi homenageado com uma indicação de via pública em 2014, pela vereadora Andresa Furini. A Praça Edgard Alves de Oliveira fica entre as Ruas Prefeito José Ferreira, Gabriel de Andrade e Professor Júlio Almeida, no bairro Riachuelo.