Em março passado, estourou a denúncia da existência de um “gabinete paralelo” no Ministério da Educação (MEC) suspeito de agilizar liberação de verbas para prefeituras e aliados do governo em troca de propina. Rapidamente, em “live” transmitida no dia 24 de março, o presidente Bolsonaro saiu em defesa do seu então Ministro da Educação Milton Ribeiro, cravando com toda certeza: “O Milton, coisa rara de eu falar aqui: eu boto minha cara no fogo pelo Milton”. Mesmo tendo a confiança flamejante do presidente (e da primeira-dama, diga-se de passagem), o então ministro foi demitido do cargo, dias depois.
Pois bem. Na quarta feira dessa semana, não é que o ex-ministro foi preso pela Polícia Federal? Junto com ele, também tiveram prisão decretada outros dois pastores, que não tinham cargo oficial no governo, mas tinham acesso livre à reuniões com políticos dentro do MEC. Os memes não demoraram a surgir por todo lado nas redes sociais, e o presidente simplesmente no mesmo dia rifou seu ex-ministro, dizendo: “Ele que responda por seus erros”. Ou seja, a estratégia agora era: tirem esse bode da minha sala, porque eu nem conheço ele!
No dia seguinte (quinta feira), um desembargador do TRF em Brasília acatou um pedido de habeas-corpus, e permitiu que Milton Ribeiro ficasse em liberdade durante o prosseguimento da investigação, mas o estrago dentro do governo já estava feito.
O ex-ministro é acusado da prática de corrupção passiva; prevaricação (quando um funcionário público retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou se o pratica contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal), advocacia administrativa (quando um servidor público defende interesses particulares junto ao órgão da administração pública onde exerce suas funções), e tráfico de influência.
Mas preocupação dentro do Palácio do Planalto, e entre os aliados mais próximos do presidente, é que um novo depoimento do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro comprometa o governo ou, um cenário pior, que haja uma delação premiada do ex-ministro ou dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, esses tidos como mais suscetíveis à pressão da possibilidade de serem presos novamente, desta vez por um período mais longo. Seria uma bomba nuclear na campanha do presidente, que tem no combate à corrupção, um dos seus principais motes de campanha, talvez o principal.
Aliás, o recado já foi dado pelo próprio ex-ministro ainda em março, quando aliados do governo identificaram um tom de ameaça em seu depoimento à época na sede Polícia Federal em Brasília, quando ele confirmou que o presidente Bolsonaro lhe pediu para receber os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, acusados por prefeitos de cobrarem propina para intermediar a liberação de verbas do MEC. Esse depoimento foi recebido pela equipe do presidente como um aviso do ex-ministro de que não aceitaria ser abandonado.
O fato com certeza irá alimentar a artilharia dos adversários de Bolsonaro na disputa pela presidência da república, já que o discurso anticorrupção foi a mola propulsora da sua eleição em 2018, e uma boa parcela de seu eleitor “raiz” considera esse um ativo importante para que o Capitão continue merecendo o seu voto. Se a mancha da corrupção, ou a simples suspeita dela, continuar pipocando periodicamente no âmbito de seu governo, a tendência é que esse eleitor abandone o presidente e escolha outro nome, preferencialmente junto à chamada terceira via. Esse dado só poderá ser dimensionado com mais clareza à partir das primeiras pesquisas do próximo mês de julho. Uma coisa é certa: em tempos de inflação insistente, combustíveis caros e mercado desnorteado, essa história de esquema de corrupção no MEC tem potencial para queimar muito mais do que só a cara do presidente.