Semana passada no telejornal da EPTV, uma matéria previa o roteiro do carnaval de rua da nossa região em 2020, e destacava que apenas Franca iria organizar desfiles competitivos de escolas de samba. Fez também outro destaque: que a única cidade do interior do estado de São Paulo a possuir um sambódromo construído especificamente para desfiles de rua, não iria realizar o evento. Essa cidade, como todos nós sabemos, é a nossa Batatais.
Quando eu era garoto, com meus 7, 8 anos, o desfile de rua era realizado no entorno da Praça Cônego Joaquim Alves, tendo nossa linda Igreja matriz como pano de fundo. Minha saudosa avó Mariana morava no quinto andar do Edifício Batatais, e da janela da sala eu admirava a beleza do nosso carnaval, naquela época com domínio da Escola de Samba da EU-4 (antiga Febem), tricampeã em 79, 80 e 81.
Com o sucesso do carnaval de rua, o desfile foi levado para a Avenida Nove de Julho, com mais espaço para o público, e concentração e dispersão das escolas, e foi nessa época que o evento de Batatais começava a chamar a atenção de toda a região, e já era considerado o mais luxuoso de todas as cidades vizinhas.
Nos idos dos anos 90, a organização da folia de Momo procurava por mais espaço, e a Avenida 14 de Março foi escolhida como palco ideal, mas nem tanto. Já naquela época as inundações naquela região começavam a dar as caras, e bastou uma chuva torrencial durante um dos desfiles para que se percebesse que ali o correto seria organizar uma competição de canoagem, e não um desfile de escolas de samba. Foi quando o evento foi transferido para a Avenida Moacir Dias de Morais, às margens do Distrito Industrial.
Nessa época, eu era repórter da TV Educadora, e tive a oportunidade de cobrir três desfiles, em 1996, 97 e 98, os dois primeiros vencidos pela Riachuelo, e o outro pela Castelo. Me recordo que já era amplamente discutido a possibilidade (e necessidade dada a grandeza que o desfile atingira) da estruturação de um local próprio para o Carnaval de Rua. Sambistas, políticos, funcionários da prefeitura, Associação Comercial, imprensa em sua quase totalidade endossavam a ideia da construção do primeiro sambódromo do interior do estado, o que veio a se tornar realidade em 2002, quando foi inaugurado o Sambódromo “Carlos Henrique Cândido Alves”.
De lá para cá, os desfiles apenas não ocorreram em 2004, 2016 e 2019, mas o sambódromo resiste à ação do tempo (por enquanto), e continua esperando por uma utilização permanente, durante todo o ano, e que justifique o custo de sua construção, pois temos que ter em mente que um evento grandioso como era o Desfile de Rua das Escolas de Samba de Batatais não era apenas diversão, luxo, beleza e samba no pé. Era a oportunidade de retorno financeiro para, trabalhadores do comercio, hotelaria, restaurantes, bares, costureiras, ambulantes, seguranças, postos de combustível, marceneiros, pintores, e tantos outros profissionais que indiretamente são utilizados para de alguma forma auxiliar na realização dos desfiles de rua. Com certeza, perdemos uma grande oportunidade de aquecimento de nossa economia, e isso é, na minha opinião, inconcebível, uma vez que o principal nós possuímos mais do que ninguém no interior de São Paulo: o know-how para fazer um grande espetáculo. Nós temos aqui sambistas com capacidade, com habilidade, com o dom de colocar na avenida através das Escolas de Samba e seus enredos, os nossos sonhos, desejos, nossas agonias e alegrias, levando ao povo um espetáculo acessível de grande beleza.