O entrevistado dessa semana é um dos empresários mais batalhadores do Município, que vem ao longo de sua vida se dedicando a manutenção das oportunidades de emprego e mantendo, junto com a família e colaboradores, o nome de Batatais em destaque com o trabalho desenvolvido pela Jumil. Rubens Dias de Morais, que atualmente é presidente do Conselho Administrativo da empresa, também teve uma atuação destacável como homem público, chegando a ocupar os cargos de vereador e prefeito de nossa terra.
JC – Dr. Rubens, primeiro queremos agradecer a gentileza de atender ao nosso pedido para a entrevista dessa edição. Para iniciar, gostaríamos que destacasse sua trajetória, como homem público.
RM – Sou eu quem agradece a oportunidade. Os eleitores de Batatais me concederam a oportunidade de ‘servir’ a nossa cidade como vereador de 1.969 a 1.972. Naquela época os vereadores participavam de duas sessões mensais e não recebiam salários, era um trabalho colaborativo, realmente em prol da comunidade. Também me honraram ao me elegerem prefeito municipal, de 1.973 a 1.977. Fui um dos prefeitos mais jovens do estado de São Paulo e creio que representei o município da melhor maneira possível, dedicando meu tempo e meus esforços, ao lado de bons colaboradores, para corresponder a confiança recebida.
JC – Sabemos que vem passando por problemas de saúde, mas, como é um grande lutador, vem enfrentando mais essa batalha. Gostaria que falasse desse otimismo, que sempre foi marcante em suas falas, em sua vida.
RM – Acredito que nasci otimista e guerreiro. Dizem os mais sábios que ‘quanto mais se vive, mais problemas podemos ter’. Pela condescendência divina estou no auge da maturidade, portanto, com alguns problemas de saúde. Graças ao mesmo bom Deus, à ciência e aos bons médicos, unidos ao meu espirito de luta e ao apoio dos que me cercam, estou em plena e constante recuperação, já tomando parte das atividades habituais diárias.
JC – Voltando a questão da empresa, a JUMIL se modernizou, com a nova fábrica, mantendo sua trajetória de inovação, inclusive com o prêmio Gerdau, do ano passado, ‘Melhores Da Terra’. Como manter e se reinventar a cada dia no mercado de tamanha oscilação como é o brasileiro?
RM – A JUMIL atravessa momentos de grandes desafios, com 83 anos desde a sua fundação. A companhia atravessou a Segunda Guerra Mundial, todos os problemas políticos e econômicos advindos dela, da era Vargas, da renúncia de Jânio, da tomada do poder pelos militares, das crises de petróleo, de todos os planos econômicos, de todas as crises cambiais, mudanças de regimes de gestão: direita, esquerda, centro e populismo. Chegamos aos dias de hoje, em um mundo que busca constantemente novas tecnologias, Startups, 5G e Industria Ponto 4. Não é fácil se reinventar e se manter atualizado, o que estamos fazendo é buscar parcerias com empresas já mais avançadas, brasileiras e internacionais para termos acesso aos mais recentes avanços tecnológicos. Estamos tendo êxito, este ano já teremos modelos de máquinas que o mercado já deseja e assim 2020 poderá a ser um marco na história da JUMIL.
JC – A empresa tem conseguido manter os empregos nesse momento, com a economia e o próprio Brasil, ainda em dificuldades?
RM – Temos conseguido manter os empregos, porém com a participação intensa e cooperativa dos colaboradores e do Sindicato dos Metalúrgicos que, compreensivamente, tem procurado entender as dificuldades existentes, tais como: final de governo em 2018, campanha política e suas incertezas, um novo presidente que já dizia nada entender de economia, um novo congresso com novatos que sequer sabiam o que e como seria aquilo, mudanças radicais pregadas e propostas por um novo governo e caixa do tesouro vazia. Ninguém tinha certeza da existência de novos financiamentos, recursos e quais seriam as taxas de juros (enfim, neste setor o Brasil parou, causando insegurança e incertezas dos produtores) e a guerra comercial dos Estados Unidos com a China, que repercute em nossa economia também. Confesso que estas incertezas marcaram os 9 primeiros meses do ano, nos prejudicando. Creio que a luta será árdua e longa, mas sobreviveremos com o empenho de nossos parceiros e colaboradores.
JC – A JUMIL negociou e vendeu o espaço onde funcionava a fábrica 1 para a Transface. Ainda existem construções e terrenos que estão à venda?
RM – Sim, foi feita a venda, restando ainda 31.000 m2, que estão disponíveis para serem negociados.
JC – Os jornais vêm estampando que ‘o primeiro ano do Governo de Jair Bolsonaro será perdido para a indústria’. Essa é uma afirmação verdadeira em se tratando de ‘JUMIL’?
RM – Posso dizer que sim, pois parece fácil confirmar as pesquisas de órgãos especializados, além do fato de a JUMIL ser associada a Associação Brasileira de Maquinas (ABIMAQ), estamos, portanto sempre atualizados quanto ao comportamento da indústria nacional.
JC – Gostaríamos agora de abordar temas ligados a gestão pública municipal. Na sua opinião, foi saudável para a cidade manter um mesmo governante por tanto tempo, no caso o Prefeito José Luis Romagnoli, que está em seu quarto mandato?
RM – Pergunta interessante, que sugere resposta complexa. Os eleitores votaram e o escolheram democraticamente. Entendo que a experiência e os conhecimentos acumulados por ele, ao longo da vida profissional e da pública, o fariam vencer as dificuldades existentes e conhecidas, mas, e sempre existe um ‘mas’, nem sempre tudo isto é suficiente. A atual conjuntura econômica não permite investimentos, nem a arrecadação é suficiente para a boa manutenção da estrutura municipal.
JC – Batatais carece de mais empregos. O Poder Público Municipal, falando como ex-prefeito, pode ajudar mais efetivamente a mudar essa realidade?
RM – Este é um tema não só de Batatais mas Nacional, tanto que políticos, economistas, jornalistas e comentaristas falam e discursam todo o tempo em algo em torno de 13 milhões de desempregados, outros 20 milhões de sub empregados, dezenas de milhões na linha de pobreza, realidade está considerando mais de 5.500 municípios do país, todos buscando o mesmo objetivo. Não é fácil alcançar muito sucesso quanto a este desafio. Entretanto Batatais poderia pensar em um plano mais amplo e abrangente, visando o futuro da cidade e da atual e futuras gerações, e não apenas olhando 4 ou 8 anos de mandato. Para algo assim serão necessários projetos para atrair outras empresas para Batatais, dos mais variados setores, que desejem investir na região.
JC – O Parque Têxtil tem mais da metade dos terrenos desocupados. Existem áreas do Distrito Industrial Ermelindo Dias de Morais que ainda não tem a documentação definitiva. O Novo Distrito Industrial Rudolf Kamensek ainda não é uma realidade, pois falta poço artesiano, instalações elétricas e a finalização das ruas. Afinal, em sua opinião, porque nessa área de desenvolvimento econômico nosso Município anda tão devagar?
RM – Isto tudo é preocupante, e deveria ser discutido e questionado, com muito mais profundidade, com as forças representativas locais. Posso afirmar que a resposta do item acima também está inserida nesta questão substantiva.
JC – Temos uma obra de construção do Hospital do Câncer que foi paralisada no início dessa gestão. Agora, a atual Administração está construindo um Centro Oncológico dentro do complexo da Santa Casa. Não falta enxergar a cidade com mais critério e planejamento?
RM – Confesso que é muito difícil transformar todos nossos sonhos em realidade. O município tem possibilidade de arrecadar um determinado montante financeiro, o que nem sempre acontece, porém, as despesas são definitivamente garantidas. Vejam a União, os estados e os municípios, que ao fazerem os seus orçamentos incluem obras, que nem sempre serão factíveis de concluir e, quando o fazem, há necessidade de investimentos de grande porte, com equipamentos de alta tecnologia e manutenção extremamente custosa de ser realizada, daí posso fazer a mesma observação, que esta resposta está também inserida e interligada no contexto das três anteriores.
JC – O Ambulatório de Especialidades Egydio Ricco, antigo Pronto Socorro, foi construído em sua gestão, demonstrando sua preocupação com a saúde pública. A polêmica do momento foi a retirada dos aparelhos de raio x dos consultórios odontológicos que existem nas unidades básicas. O motivo seria o pagamento da periculosidade para os profissionais. Agora a população deverá procurar, quando for necessário o raio x, o Centro de Especialidades Odontológicas (que fica ao lado da UPA). É um retrocesso?
RM – Me orgulho muito da construção do PS Egídio Ricco. Nosso objetivo, à época, foi um atendimento de qualidade em vista das necessidades da população em relação a saúde pública. Confesso que não tinha conhecimento, até agora, dos problemas apontados na pergunta. Neste caso é muito difícil, portanto, dar uma opinião a respeito.
JC – Gostaríamos por fim da sua opinião sobre os seguintes temas:
Falta de postura do presidente Bolsonaro: Lamento profundamente a maneira deselegante, pouco diplomática e, às vezes, desrespeitosa, como ele se dirige às pessoas, sejam autoridades ou não.
Atual composição da Câmara de Batatais: Acompanho muito pouco as atividades dos vereadores mas o pouco que faço, considero que estão buscando fazer o possível, naquilo que representa os anseios da população e mais ainda dos que os elegeram. Tive oportunidade de participar de uma reunião, no gabinete do prefeito, com alguns vereadores quando percebi a vontade de contribuir para o bem da coletividade; aproveito para registrar a visita que muitos deles fizeram à nova fábrica da JUMIL, quando tivemos o prazer de recebe-los para conhecerem de perto esta empresa muito Batataense e com muito orgulho.
Armamento da população: Sou absolutamente contra.
Fake News: Este tema é de fato um verdadeiro desafio para o mundo das comunicações que afeta toda a sociedade, difícil combater porem fácil sofrer por ela; assim como os grandes da tecnologia criaram os meios de comunicação e armazenamento de dados, até mesmo inimagináveis em um passado recente, espero que consigam trazer alguma solução para uma proteção mais eficaz deste tema para os usuários.
Reforma da Previdência: Sempre fui a favor, desde que acabasse com os altos privilégios, e não prejudicasse os menos favorecidos. Espero que haja mais discussões a respeito pois muitos pontos ainda estão destoantes com princípios de igualdade para todos.
Eleições 2020: Penso que é um bom momento para se pensar em alguém com uma visão futura de progresso para nossa querida Batatais. Vamos esperar para ver e torcermos para que surjam boas opções e candidaturas ricas em propostas.
JC – Suas considerações finais.
RM – Agradeço o convite para a entrevista e a oportunidade de poder me manifestar, através deste já prestigioso novo jornal da cidade. É muito importante a existência de periódicos atualizados, éticos e respeitáveis para nossa comunidade. Desejo vida longa e sucesso ao ‘Jornal da Cidade’ de Batatais.