O médico e Vereador Ricardo Mele é o entrevistado dessa semana ao Jornal da Cidade. Com respostas objetivas, ele fala de sua trajetória e demonstra claramente seu descontentamento com a atual Administração Municipal. Com 73 anos, casado com Rita Maria Balieiro Mele, pai de Christiano, Gabriela e Ricardo Mele Filho, tendo seis netos.
JC – Ricardo, primeiro agradecemos pela disponibilidade e gostaríamos inicialmente que falasse sobre as eleições que disputou? Afinal foram quantos mandatos de vereador, quais os anos?
Ricardo Mele: Foram nove eleições disputadas, sendo seis para vereador. Em 1988 fui eleito pelo Partido da Frente Liberal-PFL, com 527 votos; em 1992, reeleito vereador pelo mesmo partido, com 502 votos; no ano de 2009 voltei a exercer o cargo de vereador, dessa vez pelo Partido Democratas- DEM, com 512 votos, tendo assumido por alguns meses, em razão de uma ação judicial que entendia que nossa Câmara deveria ter 10 vereadores e não quinze; em 2012 foi eleito, com 800 votos pelo Democratas e, no atual mandato, fui eleito pelo Partido Social Brasileiro, com 686 votos. Para Prefeito, disputei com o atual prefeito, em 1996. Foi a época das cestas básicas, dos comícios e de muito gastos em campanha. Lembro-me que havia nos comícios dos adversários sorteios de bicicletas, tanquinhos, etc. Fomos derrotados pelo poder econômico, não tenho dúvidas. Fui candidato a Deputado Estadual obtendo a maior votação na história de Batatais levando-se em conta o número de eleitores da época, foram cerca de 14 mil votos. Também disputei a eleição como candidato a Vice-prefeito, com Marta Guidolin sendo a candidata a Prefeita.
JC – Nesse momento de sua vida, qual avaliação faz de sua participação na política?
Ricardo Mele: Muito positiva e, lamentavelmente, nos mandatos do atual prefeito, muito frustrante, pois nossas reivindicações não são atendidas. Fui o idealizador e fundador da ABADEF, juntamente com outras importantes personalidades de nossa cidade durante a gestão do saudoso Salim Mansur. Participei ativamente da conquista do título de Estância Turística para Batatais no trabalho com o então Deputado Corauci, que apresentou o projeto. No início de minha vida política consegui junto à Santa Casa, o que hoje é Lei, que mães tivessem internação conjunta com seus filhos menores. Muitas verbas conseguidas através do Deputado Corauci, inclusive para o carnaval. Consegui junto à Secretaria de Saúde Estadual que Batatais não fosse para Franca e sim permanecesse em Ribeirão Preto nas questões envolvendo a saúde do município. Consegui moralizar a entrega de honrarias pela Câmara, títulos e homenagens, apresentando projeto, aprovado, limitando o número de concessões por vereador. Quando presidente da Câmara Municipal consegui a obrigatoriedade legal do pagamento mensal dos duodécimos de forma integral, terminando com pagamentos fracionados. Enfim, sinto-me realizado como político e tentei honrar as votações que tive em todas as eleições.
JC – Se arrepende de algo que fez ou deixou de fazer como homem público?
Ricardo Mele: Sim, de não ter em 1996 me unido ao também candidato Dr. João Carlos Bianco o que nos faria ganhar a eleição impedindo a carreira política do atual prefeito.
JC – Percebe-se que mantém, ao longo dos anos, uma postura crítica ao trabalho do Prefeito José Luis Romagnoli. Na sua visão, Batatais perdeu mantendo no comando um mesmo administrador por muitos anos?
Ricardo Mele: A cidade perde com o comando do mesmo político por anos e anos. Assim é o caso de José Luis, que completará 16 anos à frente da Prefeitura, pois o DNA não muda. Por todo o tempo o atual prefeito agiu de forma autoritária dando ‘rasteira’ àqueles que poderiam mudar Batatais. Por todo o tempo perseguiu pessoas e os eliminou do cenário político. Exemplo mais marcante foi o ocorrido com meu filho Ricardo, que logo após o resultado das eleições foi demitido de todas as suas funções como médico, à exceção de cargo concursado. O Prefeito na época levou ‘um tiro no pé’, pois a população de forma espontânea foi à sua casa pedir a volta do conceituado médico. E como sempre desculpou-se atribuindo a outros a atitude tomada por ele. E apenas para lembrar os eleitores, José Luis elegeu-se candidatando-se com as contas rejeitadas e sem o aval da Câmara Municipal. A permanência no poder é maléfica para todos.
JC – Quais os principais problemas que a cidade enfrenta atualmente, em sua opinião?
Ricardo Mele: São muitos os problemas e honestamente não sei elencar os prioritários. Desemprego, Assistência médica e social, água, falta de medicamentos essenciais, obras inacabadas, onde destaco o Distrito Industrial, segurança pública, aterro sanitário e tantos outros de igual importância.
JC – Alguns vereadores se dizem desapontados pela falta de resolutividade no trabalho que realizam. É também o seu caso?
Ricardo Mele: Perfeitamente. Tenho estatísticas que atestam o desanimo generalizado. Centenas e centenas de matérias foram apresentadas e talvez nem 10% delas foram atendidas. A nossa Câmara Municipal é ótima, ruim é a administração que a omite e que a cerceia. Conto nos dedos e não termino nas duas mãos as vezes em que o Prefeito convidou os vereadores para discutir projetos e ações. Tal comportamento torna os vereadores sem ação e o trabalho não aparece.
JC – O Prefeito Zé Luis tem utilizado os veículos de comunicação para afirmar, constantemente, que está encerrando sua vida pública. Acredita nesse posicionamento?
Ricardo Mele: Quero muito acreditar, pois não podemos ficar à mercê de um político por tantos anos no poder. Porém em política tudo é possível e não me surpreenderia se o mesmo tornasse a se candidatar. E o mais perigoso: – seria sua vitória, pois reconheçamos: ele sabe chorar, sabe dizer de sua humildade, sabe convencer os eleitores, apesar de eu ter certeza de que tudo é falsidade. Mas obtém votos.
JC – Vamos apresentar alguns temas bastante discutidos durante o atual governo e gostaríamos de suas observações para cada um:
Ricardo Mele: Vamos lá.
Reforma Administrativa – Teve a finalidade única de colocar em cargos de chefia e direção apadrinhados políticos sem formação técnica para os mesmos. Salários altos e pouca produtividade. Fui contra juntamente com os vereadores Andresa, Dr. Maurício e André Calçados. Infelizmente os demais vereadores votaram a favor inchando os gastos municipais.
Recapeamento asfáltico – Deveria ter acontecido bem antes. A população sofreu e ainda sofre com os buracos existentes em todos os bairros. Resta-nos esperar a qualidade do recapeamento se será durável ou não.
Atraso no pagamento dos médicos – Sim, há atrasos sistemáticos desde as administrações anteriores. Refiro-me aos médicos que prestam atendimento nas especialidades. É impossível manter a saúde razoável sem a presença de tais profissionais. O plantonista nos diversos postos de atendimentos, não operam, não fazem partos, não atendem ortopedia, não atendem neurologia, etc. Ou seja, a saúde do município depende dos profissionais. E infelizmente convivem com atrasos de pagamentos que chegaram a mais de três meses. E infelizmente só recebem quando ameaçam ser demissionários.
Construção do Centro Oncológico – O Prefeito José Luis, um dos responsáveis pelo estelionato eleitoral às custas da construção do Hospital do Câncer, que usou o sentimentalismo das pessoas obtendo doações, quis se redimir de tal projeto (abandonado) e implantou o Centro Oncológico e na oportunidade afirmou que nenhum paciente portador de câncer iria para outras cidades, pois quimioterapia, radioterapia e cirurgias oncológicas seriam realizadas em Batatais, o que NÃO ACONTECEU, e os encaminhamentos continuam para os mesmo locais. Vale dizer que quando foi lançada a ideia faraônica do Hospital do Câncer fui o único que não acreditava e levei muita porrada por isto.
Promessas não cumpridas – Se eu elencar todas, precisaria do espaço total do jornal, rsrs. Mas resumo com uma frase do atual Prefeito em campanha: ‘Batatais terá a melhor administração de sua história’. E o que vimos: Batatais tem a pior administração de sua história.
JC – Recentemente o senhor passou por intervenções cirúrgicas e chegou a se emocionar em pronunciamentos na Câmara. Como é o Ricardo Mele após esse momento de renascimento?
Ricardo Mele: Pois é, passei um período difícil. Estava com uma válvula cardíaca estreitada dificultando o fluxo sanguíneo. Graças à evolução da medicina submeti-me a um procedimento menos invasivo, evitando a toracotomia (peito aberto). Hoje estou bem com o fluxo restabelecido graças à implantação de uma prótese cardíaca.
JC – Seu filho Ricardinho é tido como um dos principais nomes para a disputa das Eleições Municipais. Pelo carisma e pelo trabalho que realiza sempre mantém um número elevado de simpatizantes. Acredita que o momento do Ricardinho ser ‘candidato a Prefeito’ está chegando?
Ricardo Mele: Resposta difícil, pois assumir a Prefeitura significaria deixar em grande parte o exercício da medicina. Cabe a ele decidir. Após tornarem-se adultos ouvem menos os pais, rsrs.
JC – Qual a sua expectativa pessoal para as eleições de 2020?
Ricardo Mele: Minha expectativa é de renovação dos políticos que aí estão por tantos anos. Vale lembrar, me incluo.
JC – Suas considerações finais.
Ricardo Mele: O Jornal da Cidade chegou em boa hora, principalmente por não ser subserviente aos que estão no poder. Prova cabal desta minha afirmação é essa minha entrevista. Parabéns!