Que acontecimento é esse que poucos brasileiros, em especial os paulistas conhecem? Nós, em Batatais, tivemos participantes ou participamos de alguma forma desse movimento? Por que o feriado de 09 de julho é uma data cívica apenas no Estado de São Paulo? O que os jornais da época noticiavam?
Transcorridos 87 anos do início do que convencionou-se chamar de Revolução Constitucionalista de 32 – à época foi também chamado de Movimento ou Revolução de 09 de julho, Revolução Constituinte, Guerra Paulista ou Movimento Constitucionalista – muitos paulistas desconhecem os fatos que levaram a um conflito armado entre o Estado de São Paulo e o Governo Federal.
A maior data cívica paulista traz sempre a pergunta: ‘mas que feriado é esse?’
Para darmos início às repostas das questões propostas temos que voltar ao final dos anos 20 e ao início dos anos 30, quando Getúlio Vargas tomou o poder ao depor o presidente da República da época, Dr. Washington Luís, impedindo a posse do novo presidente eleito, Júlio Prestes. A deposição e o não cumprimento de promessas fez que com o passar do tempo, um descontentamento por parte da população fosse instalado. Vargas ficou no comando da nação, de forma impositiva, entre 1930 e 1945, durante 15 anos.
Passados dois anos de um governo que já demonstrava seu caráter ditatorial, principalmente os paulistas passaram a reivindicar junto as esferas federais entre outras coisas: a formação com eleições de uma Assembleia Constituinte para construção de uma nova Constituição, a indicação de um interventor estadual civil e paulista e as eleições presidenciais para o Brasil.
Esse descontentamento e sentimento de frustação fez com que os paulistas começassem a se organizar para um movimento armado a favor de uma constituição democrática, numa clara oposição ideológico-partidária ao governo de Vargas. Nesse aspecto, os paulistas acreditavam que receberiam apoio militar de outros estados brasileiros, o que ocorreu de forma contida.
Poucos foram os governos estaduais que apoiaram, de maneira oficial, o embate bélico entre o estado de São Paulo e o governo federal, sendo que tivemos o apoio do estado do Mato Grosso e de alguns destacamentos de soldados de outros estados.
Após o início do movimento contra as tropas federais, em 09 de julho, nas fronteiras do Estado e na capital paulista, as tropas constitucionalistas se renderam meses depois, no início de outubro do mesmo ano, oficialmente em 02 de outubro de 1932.
Mesmo com a rendição paulista, alguns pontos pelos quais lutaram foram conquistados, como as eleições constituintes e uma Constituição. Além disso, o voto feminino tornou-se uma realidade, desde que as mulheres fossem consideradas aptas (porém, não ainda, a elegibilidade feminina) com a mudança do código eleitoral.
Esse movimento também mexeu com os ânimos de todos os moradores e o civismo dos batataenses que se envolveram diretamente no conflito, ora mandando voluntários para as linhas de combate, ora arrecadando fundos monetários e ouro para o movimento, ou também rezando missas, requisitando (mediante ressarcimento posterior do Governo do Estado) animais, caminhões e outros veículos para os fronts e até mesmo ‘recebendo’ as tropas federais em nossa cidade.
A organização era de tal maneira engajada que foi constituída um comissão local do M.M.D.C, formada por membros da elite batataense, de advogados e fazendeiros: Dr. José Arantes Junqueira, Dr. Frederico Marques, José Ordine, Dr. Domingos de Morais, João F. Cuba, dos Santos, Dr. Francisco Arantes Junqueira, Dr. José Garcia de Barros, Dr. Eulógio Bastos, Dr. Raphael di Lorenzo
Os envolvidos nas campanhas organizaram espetáculos cinematográficos, teatrais e circenses em prol do movimento. O local comumente era o “Teatro para todos” da Empresa Rigotto. As bandas Euterpe Batataense e Santa Cecília estiveram presentes em vários desses eventos, inclusive nas diversas passeatas cívicas promovidas em nossa cidade.
Muitas famílias locais também doaram suas joias em ouro e outros objetos de metais e pedras preciosas e até mesmo documentos, livros e outros objetos raros. Porém, um gesto nos chamou atenção: o Batatais Futebol Clube doou seus troféus para a campanha do ouro.
As participações locais para as diversas campanhas iniciadas pelo governo aclamado do Dr. Paulo de Toledo como a “Campanha do ouro para o bem de São Paulo” ou também chamada “Ouro para Vitória”, “Campanha para o Capacete de Aço” e “Campanha em prol dos Órfãos dos Combatentes” eram notificadas nominalmente nos jornais locais. O mesmo acontecia com as campanhas de iniciativas locais, como a de cigarros e outros gêneros, geralmente encabeçadas por comissões de mulheres.
Na manutenção da ordem na cidade, o delegado da época, Dr. Rafael di Lorenzo, contou, durante um período, com o policiamento do Tiro de Guerra nº 26 durante o movimento armado.
As mulheres paulistas, incluindo aqui as batataenses, se organizaram, desde o início do movimento em comissões para arrecadação de fundos para a compra de armamentos, capacetes, alimentos, medicamentos e amparo às famílias dos voluntários locais menos favorecidos economicamente. Além dessas ações, nossas ilustres batataenses confeccionaram uniformes, acessórios de lã e doces; enviando também cigarros aos “soldados da Lei e da Constituição”, como também eram chamados os combatentes pró-constituinte.
Sobre os capacetes, de acordo com artigo de Sergio Righi publicado no site Última Trincheira, com o advento da Revolução Constitucionalista, a Companhia Paulista de Louças Esmaltadas com sede no bairro da Mooca em São Paulo, teve a iniciativa de fabricar gratuitamente capacetes de aço, oferecendo um lote com 300 unidades à Liga de Defesa Paulista (LDP), sendo que logo em seguida, o Exército e a Força Pública efetuaram suas encomendas.
A partir de agosto de 1932, outras fábricas do ramo de móveis e cofres de aço, localizadas na cidade de São Paulo passaram a produzir também os capacetes, contando em alguns casos com a doação de metade da jornada de trabalho dos operários, visando reduzir o custo final do produto. A Associação Comercial de São Paulo criou o Departamento do Capacete de Aço para administrar e centralizar o controle da produção dos capacetes, fornecendo a chapa de aço, a pintura, a carneira e a embalagem.
Durante a Revolução Constitucionalista foram produzidos três modelos de capacetes: o francês, o inglês e o paulista.