Ao registrar nossos pensamentos, indagações e problematizações, partimos de casos reais particulares, não realizando generalizações. Fomos criados para sermos educados e relacionarmo-nos de forma cordial e pacífica. Pessoas com personalidade mais impulsiva e autêntica, possível de ser percebido pelos pais ou responsáveis desde a primeira infância, são orientadas e trabalhadas no sentido de conterem-se. Esses, chegam à fase da adolescência e adulta, tentando omitir o que pensam, para evitar conflitos. Nem todos conseguem.
Certa vez, ouvi: “As pessoas estranham minha cara [rosto], imaginem se soubessem o que eu penso”. Há outra verdade para ganhar-se um inimigo, basta que se diga a verdade. Assim, os relacionamentos interpessoais estão cada vez mais difíceis, quer na família, no trabalho, na sociedade de modo geral.
Voltando à questão da forma como fomos educados, em nome do não conflito, deixamos de falar, de responder e vamos “engolindo sapos” ao longo da vida e contraditoriamente, estranhamos quando nossos corpos dão sinais por meio de sintomas doentios. Li uma frase muito interessante, postada em um hospital destinado a atendimentos de pessoas com câncer: “Doenças são palavras não ditas”.
Não temos poder sobre a outra pessoa, assim, acabamos sofrendo os impactos de suas ações. Temos também que admitir, causamos impactos nos outros. Assim não podendo mudar a ação do outro, o que nos resta é definir e colocar em prática as nossas ações. O que faremos frente ao que os outros nos fazem?
Gosto de frases e ditados interessantes. Tem uma frase que diz: ao aceitarmos como as pessoas nos tratam, isso quando nos tratam com pouca educação e respeito, estamos afirmando para ela e para outros, que é assim mesmo que merecemos ser tratados. Então cabe uma reflexão: não nos posicionarmos, desejar sempre não ter conflitos, faz com que possibilitemos que o outro nos trate de forma inferior ao que merecemos. Há de se lembrar que o maltratar é crescente, o outro acostuma-se a ser deseducado conosco e cada dia mais. As pesquisas demonstram que a violência física teve início com a violência verbal, psicológica, moral e chegou a vias de fato: um empurrão, um soco e dai para casos fatais, é um passo.
É necessário que saibamos impor limites com familiares, clientes, conhecidos e desconhecidos, não se trata de nos igualarmos na deseducação, nem gritar, nem agredir. Existem palavras que se bem colocadas, geram bons resultados: “Comigo, não…” ; “Peço que me respeite” etc. Tive aulas no curso de direito com uma professora e que também atua como promotora de justiça. Ela dizia que ao perceber a mínima forma de desrespeito com sua pessoa, não deixava que a postura ganhasse vulto, dizia: “Epa, epa, epa….”. Creia, dá resultado. Experimente com uma criança, com um adolescente, com adultos. Geralmente, as pessoas desrespeitosas pedem limites, testam os outros e recuam, se encontram reação adequada ao seu comportamento.
Falar em desrespeito, lembra a existência de relacionamentos tóxicos. Geralmente, adjetiva-se esses relacionamentos em casos amorosos, mas existem relacionamentos tóxicos ou doentios intra- família, em amizades, no mundo do trabalho etc. Enfatizo com frequência que todo algoz tem um outro que o alimenta, que permite o abuso, assim, também temos nossa parcela de responsabilidade.
Ouvi uma frase interessante: “Eu passei o que passei, porque pela minha doença [depressão], permitia que o outro fizesse comigo o que fez. Quando melhorei, sai da relação e sei que o ajudei por não permitir mais os abusos. Hoje, ele também vive melhor, com outra”. Isso é tão verdadeiro, afinal uma pessoa não age igualmente com pessoas diferentes, então o problema maior é a permissividade da vítima.
Mães e pais que não mais suportam o nível de desrespeito dos filhos, colegas de trabalho, professores, maridos e esposas, enchem os consultórios psiquiátricos, psicológicos ou psicanalíticos [já fiz essa afirmativa em outro artigo]. Chegam aos consultórios, na maioria dos casos, não aquele que precisa de atendimentos e tratamentos, mas as vítimas, que não mais suportam violências.
Epa, epa, epa. Respeite-me!
Obs: É um bom momento para a auto-análise quanto ao nível de respeito ou desrespeito que dou aos outros.
Pense nisso!