O touro e as rãs
Enquanto dois touros furiosamente lutavam pela posse exclusiva de certa campina, as rãs novas, à beira do brejo, divertiram-se com a cena.
Um rã velha, porém, suspirou.
– Não se riam, que o fim da disputa vai ser doloroso para nós.
– Que tolice! – exclamaram as rãzinhas. – Você está caducando, rã velha!
A rã velha explicou-se:
– Brigam os touros. Um deles há de vencer e expulsar da pastagem o vencido. Que acontece? O animalão surrado vem meter-se aqui em nosso brejo e ai de nós!…
Assim foi. O touro mais forte, à força de marradas, encurralou no brejo o mais fraco, e as rãzinhas tiveram de dizer adeus ao sossego. Inquietas sempre, sempre atropeladas, raro era o dia em que não morria alguma sob os pés do bicharoco.
É sempre assim: brigam os grandes, pagam o pato os pequenos.
Poesia: o velho abrigo da alma
“Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas…
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!”
AMBIGUIDADE
Leia estas anedotas:
01:
O bebum entra no consultório, e o médico lhe diz:
– Eu não atendo bêbado.
O bêbado:
– Quando o senhor estiver bom eu volto.
02:
– Doutor, já quebrei o braço em vários lugares.
– Se eu fosse o senhor, não voltava mais pra esses lugares.
(Apud Maria Helena Moura Neves. Revista Língua Portuguesa, nº12.)
Nas duas anedotas, a duplicidade de sentido foi empregada intencionalmente, e seu emprego serviu para provocar humor.
Esse recurso de expressão, chamado ambiguidade, é muito comum nas anedotas e em outros gêneros, como anúncios publicitários, histórias em quadrinhos e cartuns.
Ambiguidade: É a duplicidade de sentido existente em um enunciado ou em um texto, verbal ou não verbal.
Quando empregada de forma intencional, torna-se um importante recurso de expressão, como acontece em textos literários, publicitários ou humorísticos.