Um ano de pandemia
O que se vê até o momento são as redes municipais e estaduais correndo atrás de uma tecnologia que não chega à casa de todos os alunos, devido à falta de internet e de computadores
Completamos um ano de P.A.N.D.E.M.I.A. Completamos um ano sem aulas presenciais nas escolas. Por mais que todas as redes de ensino tenham desenvolvido estratégias para uma educação remota, os efeitos na aprendizagem dos alunos serão difíceis de serem resolvidos a curto prazo.
O que se vê até o momento são as redes municipais e estaduais correndo atrás de uma tecnologia que não chega à casa de todos os alunos, devido à falta de internet e de computadores – o que se percebe também com muitos professores – e a educação acaba sendo desenvolvida por aplicativos de mensagens – que causa um hiato maior de aprendizagem entre os alunos das redes pública e privada.
Além dessa constatação do uso da tecnologia que tem travado a educação remota, não podemos deixar de lado a maturidade e o cansaço dos alunos que não conseguem acompanhar essas aulas de casa, pois exige uma disciplina muito grande e autonomia.
O protagonismo do aluno nesse momento tem que ser hercúleo, mas não foi desenvolvido, apesar de já ter sido proposto nos pilares da educação da UNESCO – elaborados em 1999 por Jacques Delors no relatório: “Educação: um tesouro a descobrir”, que definiram os aprendizados considerados essenciais para que as crianças se desenvolvam cognitivamente e socialmente. Quando é colocado à prova, percebemos que lacunas foram deixadas e tanto aluno quanto o professor têm que aprender, a duras penas, as novas habilidades exigidas pelo momento de pandemia na educação.
Embora saibamos dessas dificuldades, a avaliação do momento pede que tenhamos o bom senso para analisar que ninguém no mundo estava preparado para enfrentar esses problemas e efeitos na educação, que é preciso não se conformar com eles, buscar a cada dia o melhor para desenvolver a aprendizagem dos alunos, envolvendo todos no processo: família, alunos, gestores, professores, funcionários da educação e sociedade, com um relacionamento respeitoso e transparente. Além disso, colocar professores e profissionais da educação – principal grupo de risco da escola – na linha prioritária de vacinação.
Fica a Dica!
A crônica que trago hoje foi escrita por Lourenço Diaféria, nascido em 1933 em São Paulo, no bairro do Brás e faz parte da coletânea da editora Ática Histórias sobre Ética – da coleção Para Gostar de Ler – volume 27. No texto podemos perceber o quanto o ser humano se importa com pequenas coisas, e o quanto deixamos de lado as coisas de grande importância, aquelas que são essenciais, o que realmente deveria ser dado ênfase. Vale a pena fazer uma reflexão sobre o comportamento humano: o que é certo ou errado, o que é preciso para o bem comum.
Os gatos pardos da noite
A batida policial para agarrar o ladrão aconteceu logo no começo da madrugada. As informações diziam que o homem se escondia ali no barraco de tábuas, onde dormia com os olhos abertos, os bolsos recheados de munição e dois revólveres de prontidão.
Àquela hora ainda estava muito escuro, porque na pirambeira não havia luz de mercúrio nas ruas, nem nada. O céu também não tinha a mínima lua.
Cautelosamente os tiras saltaram da viatura com as armas embaladas e bateram na porta do barraco suspeito.
– Abram, é a polícia.
Dentro do barraco, Maria do Rosário, dezenove anos, acordou assustada e se pôs a tremer como uma bobinha. Não podia imaginar o que a autoridade queria com eles assim tão tarde.
Chamou o marido.
Estremunhando, ele demorou a entender o que a mulher falava e o que os homens gritavam lá fora. Sentou na cama, esfregou os olhos. Acordava muito cedo, mas o corpo moído de cansaço sabia que ainda não era a hora de levantar.
Estavam agora batendo perto da janela. E nos fundos da casa. Parecia que o barraco estava cercado. O marido não podia acreditar que fosse a polícia. Por isso não ia abrir porta nenhuma, não era louco, tinha mulher em casa, e filho.
Devia ser o mesmo bando de arruaceiros que ficava enchendo a cara na biboca e viera ali querendo puxar briga. Mas ele não ia dar corda. Além disso, estava em desvantagem.
A violência das pancadas aumentou. Alguém chutava a porta do barraco
O marido de Maria do Rosário costumava dormir com um calção folgado amarrado na cintura por um cordão de tecido. O marido suspendeu e ajustou o calção, tratando de tatear um pedaço de pau qualquer para escorar os trancos na porta. Não teve tempo de se levantar. A folha de madeira cedeu, deixando entrar no cômodo abafado um pouco de luz amarela. O homem se abaixou instintivamente, como um bicho. Os pelos de seus braços estavam molhados de medo.
Cachorros vira-latas faziam bulha ao longe, mas ele somente percebeu os latidos quando um silêncio estranho tomou conta de tudo. Sentia-se a respiração que vinha de fora.
O rosto do homem fixava o quadro da porta, onde a qualquer momento ia aparecer um lobisomem. Maria do Rosário levou a mão direita no rosto, sem saber se tapava a boca ou os olhos. Na cama, a criança iniciou um berreiro.
De repente a luz amarela se apagou. Os tiras se jogaram para dentro do barraco, despejando fogo. Não houve reação, a não ser gritos e mais choro.
Nesse exato momento uma pequena bala de chumbo, entre outras, era expulsa do tambor e começava a movimentar-se no túnel raiado do cano de um revólver oxidado. Como se tivesse asas, a bala saltou na escuridão e voou imperceptivelmente como o zumbido inocente de uma mosca. O voo foi tão rápido e seco que cortou um gemido ao meio.
Depois disso a viatura dos investigadores encostou no barraco com os faróis ligados. Maria do Rosário apertou o botão da pera e acendeu a lâmpada de quarenta velas.
O esparramo não tinha respeitado nem o penico.
O homem de calção estava coberto por uma curiosa cor levemente esverdeada. Suas mãos estavam presas por algemas. Apontou com o dedo a carteira de trabalho no fundo da gaveta da cômoda.
Não era o ladrão, embora tivesse a cara assustada de um vulgar ladrão.
Um dos policiais pensou em pedir desculpas pelo engano.
Maria do Rosário se aproximou do berço.
Com um pequeno furo na cabeça, onde se alojara a bala, seu filho Claudemir. De dezoito meses, acabava de morrer. Um fio de sangue escorria; a chupeta caíra da boca no chão de terra batida.
Nenhum deles se sentia exatamente o culpado de nada, porque a bala não tinha dono único. O dedo no gatilho fora uma operação de rotina. Ás vezes até os doutores cortam a perna errada. Tecnicamente, não passara de um trabalho de equipe concluído bisonhamente. Lamentável, porém compreensível.
Mais tarde, o policial tomaria café com sua esposa e os filhos e explicaria: foi um acidente.
E completaria: à noite todos os gatos são pardos.
Dormiria algumas horas, faria a barba, tomaria banho. Deixaria a água escorrer pelo corpo, lavaria os cabelos com xampu contra caspa.
Diante do espelho levaria um susto: começava a ficar careca.
Era o fim.
Sua mulher trouxe o jornal:
– Você viu o que estão falando?
Seu coração disparou. Procurou entre as notícias qualquer coisa que arrancasse aquela ansiedade. Não ia aguentar muito tempo a estúpida tensão. Mas o anúncio lá estava, no alto da página, limpando a barra:
“O professor Norman Orentreich, da Universidade de Nova York, anunciou publicamente que no máximo dentro de dois anos será descoberto o remédio para a cura da calvície, graças às recentes pesquisas sobre o androgênio, hormônio feminino que atua no crescimento dos cabelos”.
Sorriu tranquilo. E perguntou à mulher o que tinha para o almoço.
Poesia: o velho abrigo da alma
Ele – Francisco Alvim
(Retirado do livro POEMAS 1968/2000)
Inteligente?
Não sei. Depende
do ponto de vista.
Há, como se sabe,
três tipos de inteligência:
a humana, a animal e a militar
(nessa ordem).
A dele é do último tipo.
Quando rubrica um papel
põe dia e hora e
os papéis
caminham em ordem unida.
Nas trilhas da Educação…
1. Aulas remotas continuam em Batatais devido ao novo DECRETO MUNICIPAL 3954, que suspende as aulas presenciais até dia 02/04/2021.
2.Alunos da rede estadual estão de recesso até dia 28/03 – aulas podem ser revistas pelas reprises das aulas do Centro de Mídias de São Paulo.
3.Rede municipal de ensino investe na compra de livros para os professores e alunos trabalharem com a cultura Afro-brasileira e indígena nas escolas.