Fica a Dica!
A crônica O homem nu foi escrita por Fernando Sabino e está no livro homônimo, publicado em 1960.O autor com uma linguagem simples e uma narrativa envolvente prende a atenção do leitor retratando o cotidiano de um casal que se encontra em dívida com um vendedor, e a solução encontrada para evitá-lo é não abrir a porta. Leitura divertida de uma das crônicas mais conhecidas do autor.
Ao acordar, disse para a mulher:
— Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum.
— Explique isso ao homem — ponderou a mulher.
— Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago.
Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.
Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos:
— Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa.
Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro.
Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares… Desta vez, era o homem da televisão!
Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão:
— Maria, por favor! Sou eu!
Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo… Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão.
Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer.
— Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado.
E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pelo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido… Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror!
— Isso é que não — repetiu, furioso.
Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: “Emergência: parar”. Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu.
— Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si.
Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho:
— Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu…
A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito:
— Valha-me Deus! O padeiro está nu!
E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha:
— Tem um homem pelado aqui na porta!
Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava:
— É um tarado!
— Olha, que horror!
— Não olha não! Já pra dentro, minha filha!
Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta.
— Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir.
Não era: era o cobrador da televisão.
Espaço Escola
Estudantes de Batatais vencem Olimpíada Brasileira de Robótica
Sob orientação do professor Carlos Renato da Silva, equipe de robótica do COC Batatais vence Olimpíada Nacional de Robótica 2021 na categoria Inovação – Etapa Nacional – Modalidade: Prática Virtual – que avaliou o que a equipe participante projetou, criou, desenvolveu como processo inovador na construção de um robô.
O projeto Movimentação por rodas Mecanum e o robô Nick foram apresentados pela equipe ROBOCOC composta pelos alunos Helena Andrade Adami, Lucca Manfré Nazar e José Renato Pereira da Silva, os quais partiram de um ambiente hostil, muito perigoso para a saúde do ser humano e criaram um robô, completamente autônomo, programado pela equipe de estudantes e que recebeu a tarefa de resgatar vítimas sem a necessidade de interferência humana.
Segundo o professor, a modalidade prática é dividida em duas etapas: uma Estadual (1ª fase) e uma Nacional (2ª fase, ou fase final). A primeira etapa foi realizada na instituição de ensino dos estudantes. As equipes inscritas nos Níveis 1 e 2 da olimpíada poderiam se classificar para a Etapa Nacional e foi o que aconteceu com a equipe de alunos de Batatais – vencedora da etapa nacional.
A disputa pelo prêmio ocorreu com dezenas de instituições de ensino fundamental, médio e técnico de todos os estados do Brasil. Conforme prevê o próprio edital da olimpíada, o principal objetivo da competição é “atuar como instrumento para a melhoria do ensino fundamental e médio, bem como identificar jovens talentosos que possam ser estimulados para carreiras técnico-científicas“.
Poesia: o velho abrigo da alma
Eu quero – Patativa do Assaré
Quero um chefe brasileiro
Fiel, firme e justiceiro
Capaz de nos proteger,
Que do campo até à rua
O povo todo possua
O direito de viver.
Quero paz e liberdade
Sossego e fraternidade
Na nossa pátria natal
Desde a cidade ao deserto,
Quero o operário liberto
Da exploração patronal.
Quero ver do Sul ao Norte
O nosso caboclo forte
Trocar a casa de palha
Por confortável guarida,
Quero a terra dividida
Para quem nela trabalha.
Eu quero o agregado isento
Do terrível sofrimento,
Do maldito cativeiro,
Quero ver o meu país
Rico, ditoso e feliz,
Livre do jugo estrangeiro.
A bem do nosso progresso,
Quero o apoio do Congresso
Sobre uma reforma agrária
Que venha por sua vez
Libertar o camponês
Da situação precária.
Finalmente, meus senhores,
Quero ouvir entre os primores
Debaixo do céu de anil
As mais sonorosas notas
Dos cantos dos patriotas
Cantando a paz do Brasil.*
*Antologia Poética de Patativa do Assaré
Fundação Demócrito Rocha- 2001 -Balceiro -1991
Nas trilhas da Educação…
1. Sob protestos, Governo do Estado de São Paulo, com apoio da Assembleia Legislativa, aprova a PLC 26 – Projeto de Lei Complementar que altera as regras do funcionalismo público estadual.
2.A partir de 18/10/2021, aulas presenciais passam a ser obrigatórias nas escolas da rede estadual e particulares do estado de São Paulo. De acordo com regras estabelecidas pelo Conselho Estadual de Educação, os estudantes só poderão deixar de frequentar as escolas mediante apresentação de justificativa médica, ou aqueles que fazem parte do grupo de risco. Mas, como o distanciamento ainda está em vigor, em Batatais, as escolas retomam com 100% a partir de 03/11/2021.