Estudantes acreditam que pandemia mudará a educação de forma permanente
A Global Learner Survey, que buscou percepções de 7 mil pessoas em 7 países, mostrou que o cenário de pandemia trouxe transformações significativas para a educação.
POR ENTRETANTO
A Pearson divulgou os resultados da segunda edição da Global Learner Survey, pesquisa anual que ouve milhares de estudantes de várias partes do mundo. As descobertas deste ano apontam para uma compreensão geral de que a pandemia do Covid-19 deixará marcas permanentes na educação, com mais modalidades online em todos os níveis de ensino e uma nova realidade de trabalho moldando o que e como as pessoas aprendem.
O estudo mostrou que os alunos de vários países acreditam que os ensinos fundamental, médio e superior mudarão completamente por causa da pandemia do novo coronavírus, e quase 90% dizem que a aprendizagem online fará parte desses três níveis educacionais. Os mesmos 90% também afirmam que as pessoas precisarão estar mais confortáveis trabalhando à distância e em ambientes altamente digitais. Dessa forma, é crescente a percepção de que a educação está se tornando mais “self-service”, especialmente em países como Índia e Brasil. A maioria dos aprendizes também deixou claro que melhorias são necessárias no método de ensino virtual.
Assim como no ano passado, a Pearson conduziu o estudo em parceria com a Harris Insights & Analytics, um dos mais importantes institutos de pesquisa do mundo, com o objetivo de coletar opiniões de estudantes de todas as faixas etárias sobre assuntos como educação básica, ensino superior, carreira, futuro do trabalho e tecnologia. Foram ouvidas mais de 7 mil pessoas com idades entre 16 e 70 anos em 7 países: Austrália, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos, Índia e Reino Unido.
As principais descobertas da Global Learner Survey incluem:
A confiança na educação está crescendo. Em um mundo incerto, as pessoas buscam depositar sua fé em algo – e elas ainda acreditam que educação gera oportunidades. 70% dos respondentes globais veem a educação formal como um importante impulso para o sucesso na vida, um aumento de dois pontos percentuais em relação ao ano passado. No Brasil, esse número é ainda maior: 84%, uma variação de +1% em relação a 2019. Apesar disso, ainda há certo ceticismo em relação a faculdades e universidades. As pessoas em geral valorizam o ensino superior, com 60% afirmando que você precisa de um diploma para ter sucesso na vida. No entanto, 64% globalmente e 67% no Brasil acreditam que essas instituições não estão em sintonia com os estudantes. Enquanto isso, a confiança no ensino profissionalizante está crescendo, com 72% das pessoas – 4% a mais que no ano passado – afirmando que uma formação desse tipo tem mais chance de levar a um bom emprego do que um diploma universitário. No Brasil, esse crescimento foi de três pontos percentuais, de 65% para 68%.
Os estudantes querem melhorias no ensino online. Apesar de terem expressado frustração com o ensino online no início da pandemia, os estudantes acham que essa modalidade veio para ficar – e, por isso mesmo, querem que ela melhore. 67% dos respondentes (75% no Brasil) dizem que as instituições educacionais são menos eficazes no uso da tecnologia que outros setores, como o de saúde e o bancário. Eles esperam que isso mude, com 88% globalmente (e 91% no Brasil) afirmando que essas instituições deveriam aproveitar a tecnologia para maximizar o aprendizado. Quando se trata de direcionamento para investimentos públicos em educação, a disponibilização de tecnologia para estudantes desfavorecidos e a preparação de escolas para o ensino online aparecem como prioridades em todos os países pesquisados.
A preocupação com equidade na educação ganha destaque. O problema da desigualdade está mais palpável para os estudantes, que percebem que obter educação de qualidade está mais desafiador para eles, seus entes queridos e suas comunidades. 70% dos respondentes estão preocupados com a possibilidade de que a pandemia aprofunde a desigualdade entre estudantes do ensino básico. Esse número é ainda maior no Brasil, chegando a 78%. Por aqui, 74% das pessoas acreditam que o ensino online tem o potencial de ampliar o acesso à educação de qualidade, mas 90% enxergam que nem todo mundo tem acesso à tecnologia necessária para aprender nessa modalidade. 89% dos brasileiros veem um aumento na distância entre as crianças que têm acesso à tecnologia e as que não têm, e 92% acreditam ser importante que as escolas façam mais para combater a desigualdade econômica e digital entre os alunos.
A Covid-19 mudou a percepção das pessoas sobre trabalho e habilidades. Uma economia massivamente transformada pelo desemprego e pela tecnologia não é mais coisa do futuro. Esse cenário está aqui agora. As pessoas perceberam que o universo do trabalho está mudando ainda mais rápido que antes, e há urgência para adquirir as habilidades necessárias para a empregabilidade em um mundo digital. 76% dos brasileiros dizem que a pandemia os levou a repensar suas trajetórias profissionais, e 59% temem que terão que mudar de carreira por causa dela. 86% afirmam ter aprendido que o trabalho em home office demanda um conjunto diferente de habilidades. Globalmente, 89% dos respondentes dizem que as pessoas precisarão desenvolver mais habilidades digitais, como colaboração virtual, comunicação, análise de dados e gerenciamento remoto de equipes.
Os estudantes esperam que as universidades assumam um papel de liderança na solução dos problemas econômicos causados pela pandemia. O ensino superior está diante de uma oportunidade real de ajudar as pessoas a voltarem a trabalhar e se tornarem mais economicamente resilientes. 77% dos respondentes da pesquisa acreditam que as universidades focam exageradamente em alunos tradicionais, e que deveria haver mais opções para adultos que trabalham. No Brasil, esse número chega a 80%, dois pontos percentuais a mais que no ano passado. 86% globalmente e 88% dos brasileiros dizem que as universidades precisam fazer mais no sentido de treinar e requalificar trabalhadores desempregados. Entre as soluções esperadas, estão o oferecimento de cursos mais curtos e alternativas de menor custo para quem está sem emprego.
Fica a Dica!
Em 2020 comemoramos os 100 anos de nascimento de Clarice Lispector. Autora que sempre marcou minhas leituras e para hoje trago um livro publicado em 1977, ano da morte da escritora, A hora da estrela – um romance que apresenta três histórias superpostas dialogando por toda a narrativa. A narrativa central é a história de Macabéa contada pelo narrador Rodrigo.
A narrativa que vem depois se desenvolve paralelamente, mas encaixada na narrativa principal. Conta a história do narrador, que se apresenta como Rodrigo S. M. e se coloca ao mesmo tempo como autor da primeira narrativa.
A última narrativa é metalinguística, ou seja, uma narrativa que cumpre o papel de explicar a história de se escrever uma história nos colocando as dificuldades da criação, da estruturação, da escolha das palavras para se escrever. Vale a pena a leitura. Fica a dica!!!!
Poesia: o velho abrigo da alma
A Máquina do Mundo
(Carlos Drummond de Andrade)
E como eu palmilhasse vagamente
uma estrada de Minas, pedregosa,
e no fecho da tarde um sino rouco
se misturasse ao som de meus sapatos
que era pausado e seco; e aves pairassem
no céu de chumbo, e suas formas pretas
lentamente se fossem diluindo
na escuridão maior, vinda dos montes
e de meu próprio ser desenganado,
a máquina do mundo se entreabriu
para quem de a romper já se esquivava
e só de o ter pensado se carpia.
Abriu-se majestosa e circunspecta,
sem emitir um som que fosse impuro
nem um clarão maior que o tolerável
pelas pupilas gastas na inspeção
contínua e dolorosa do deserto,
e pela mente exausta de mentar
toda uma realidade que transcende
a própria imagem sua debuxada
no rosto do mistério, nos abismos.
Abriu-se em calma pura, e convidando
quantos sentidos e intuições restavam
a quem de os ter usado os já perdera
e nem desejaria recobrá-los,
se em vão e para sempre repetimos
os mesmos sem roteiro tristes périplos,
convidando-os a todos, em coorte,
a se aplicarem sobre o pasto inédito
da natureza mítica das coisas.
Trecho de A Máquina do Mundo,
de Carlos Drummond de Andrade
Nas trilhas da Educação…
1. Já discuti na edição passada a volta às aulas, mas nessas duas semanas da última publicação do jornal, novas discussões surgiram. Em pesquisa recente do instituto Datafolha – 79% dos brasileiros acreditam que a volta às aulas agravará pandemia e número de mortes.
2. MEC começa a dar sinais de vida: depois de longo período de pandemia, anuncia projeto para ajudar alunos pobres sem acesso à internet nas universidades e institutos federais.
3. Depois de inquérito sorológico com seis mil alunos da rede pública municipal de São Paulo, prefeito Bruno Covas desiste de retorno das aulas em setembro para reforço e recuperação de alunos por elevar riscos de contágio com o coronavírus. Será que o governo estadual de Dória manterá esse projeto? Vamos aguardar cenas do próximo capítulo.