Os itinerários formativos no Novo Ensino Médio das Escolas Públicas de São Paulo – Parte 3
Na terceira e última parte sobre os itinerários formativos no Novo Ensino Médio nas escolas estaduais, trago os cursos técnicos que serão oferecidos pela rede em 2022.
Segundo a Secretaria Estadual de Educação, o Novo Ensino Médio da rede, seguindo as orientações da Base Nacional Comum Curricular – BNCC – aproxima os estudantes das transformações da sociedade e do mundo do trabalho. Para atender a todas essas demandas, vai permitir que o estudante adquira todos os conhecimentos básicos e ainda possa escolher as áreas de que mais gosta para aprofundar seus estudos, sem precisar ficar mais tempo na escola. Em especial, são consideradas três frentes: o desenvolvimento do protagonismo e do Projeto de Vida dos estudantes, o aprofundamento em áreas de mais interesse, e formação para o mercado de trabalho e ingresso no ensino superior.
Em 2022, os estudantes terão a oportunidade, a partir das escolhas feitas em 2021, via programa Novotec Integrado, de sair com um diploma de curso técnico e com o do ensino médio, sem aumentar a carga horária. No total, serão 21 opções de cursos técnicos: Administração, Marketing, Logística, Recursos Humanos, Comércio, Finanças, Contabilidade, Desenvolvimento de Sistemas, Informática para Internet, Serviços Jurídicos, Serviços Públicos, Guia de Turismo, Design Gráfico, Design de Interiores, Eventos, Nutrição e Dietética, Eletrônica, Eletrotécnica, Química, Análises Clínicas e Farmácia.
Abaixo, apresento dois dos cursos que serão oferecidos – a partir do material de divulgação feito pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo – aos estudantes. Os demais cursos podem ser vistos no link a seguir: https://bit.ly/3vsKUG7
Nas trilhas da Educação…
1. Pagamento das inscrições do Enem 2021 – realizadas até última quarta-feira – 14/07/2021 – deverá ser efetuado até dia 19/07/2021.
2. Retorno às aulas presencias, em Batatais, tem data marcada – 02/08/2021. Início será com acolhimento dos alunos de forma escalonada e gradual – de acordo com orientações que as escolas enviarão aos familiares.
3. Segundo nota do Ministério da Educação, MEC e Agricultura celebram acordo garantindo que 30% da alimentação escolar seja proveniente da agricultura familiar e visa propiciar uma alimentação mais saudável e nutritiva na escola e garantir a compra efetiva da agricultura familiar.
Poesia: o velho abrigo da alma
O TEMPO
Mário Quintana
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…
Quando se vê, já é 6ª-feira…
Quando se vê, passaram 60 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado…
E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente…
E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Fica a Dica!
O apólogo é uma narrativa escrita em prosa ou verso que traz consigo uma lição moral, sendo os personagens seres inanimados, animais ou objetos que dialogam como humanos,são, portanto, personificados.
Machado em “Um Apólogo”, texto extraído da Obra Completa em quatro volumes – Editora Aguilar – nos apresenta um diálogo entre uma Agulha e um Novelo que discutem sobre a importância do trabalho que cada um realiza na costura de uma roupa. A discussão continua até a chegada da costureira, que os utiliza para fazer um vestido para a Baronesa ir ao baile. A Agulha aproveita esse momento para se mostrar mais importante, dizendo ao Novelo que, sem ela, ele não conseguiria furar o tecido e avançar por ele para compor as camadas do tecido. Mas, na hora de ir ao baile, o Novelo destrata a Agulha e seu trabalho por ser ele que vai ao baile no vestido da Baronesa, é ele quem vai receber os elogios de ministros e do Imperador, enquanto a Agulha fica na caixinha de costura. Nesse momento, surge o Alfinete que sugere a Agulha ficar quieta e fazer seu trabalho sem reclamar, tornando-se igual a ele, um ser que fica onde o colocam.
UM APÓLOGO
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
– Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
– Deixe-me, senhora.
– Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
– Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
– Mas você é orgulhosa.
– Decerto que sou.
– Mas por quê?
– É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
– Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?
– Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados…
– Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando…
– Também os batedores vão adiante do imperador.
– Você é imperador?
– Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana – para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
– Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima.
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E quando compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:
– Ora agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
– Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: – Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!