Isolamento inteligente, educação e engajamento
Na última semana, o Instituto Butantan iniciou, no município de Batatais, o projeto de ISOLAMENTO INTELIGENTE, que tem como objetivo fazer o mapeamento da transmissão da Covid-19.O recurso utilizado para isso é a testagem e, a partir do diagnóstico positivo, o paciente deve ser isolado.
Segundo o instituto, haverá o fornecimento ao município de testes rápidos de antígeno do tipo RT-PCR. Nas Unidades Básicas de Saúde, serão feitos testes nos pacientes sintomáticos e nos pacientes assintomáticos que tiveram contato com pessoas com diagnóstico confirmado. As informações coletadas pelas prefeituras serão integradas à plataforma Tainá/Global Health Monitor, contribuindo para mapear a transmissão do vírus no município.
O batataense e presidente do Instituto Butantan, Dr Dimas Covas, em reunião feita pelo Google Meet, com autoridades do município, no último dia 29, afirmou que “ Com o isolamento inteligente será possível manter as pessoas infectadas em suas residências e monitorar os contactantes em tempo real. Essa medida, aliada à vacinação, pode contribuir para que, gradativamente, os municípios possam manter suas atividades econômicas e, ao mesmo tempo, conter a transmissão do vírus”.
Para que o projeto dê certo, é preciso engajamento da população – que deve baixar o aplicativo Tainá/GHM e realizar diariamente uma autoavaliação – e monitorar os resultados com ajuda do aplicativo evitando, assim, a disseminação do vírus.
A educação nesse momento, principalmente os professores, tem papel importante para divulgar o projeto, pois com o ensino remoto no qual a sala de aula está dentro da casa do aluno, o professor tem a oportunidade de falar de forma direta com a família, explicando o objetivo do projeto, como baixar o aplicativo, como usar as informações para que não haja propagação do vírus. A escola, nesse momento, conseguirá mostrar a força da aproximação entre família e escola – um dos pontos positivos que a pandemia deixará de legado para a educação.
É preciso deixar claro que quando a pessoa baixar a ferramenta, vai passar a acompanhar sinais de alerta para se proteger e prestar atenção aos sintomas: febre, tosse, nariz escorrendo ou entupido, dor de barriga ou diarreia, enjoo, dificuldade para sentir cheiros ou gostos, dores no corpo, dor de garganta, dor de cabeça, dificuldade para respirar, cansaço. Todos os cadastrados serão acompanhados por agentes de saúde e terão o anonimato garantido.
O conhecimento e o engajamento da população, portanto, ajudarão a construir políticas públicas para o combate ao vírus e também agilizará a retomada da economia de nosso município, enquanto aguardamos a vacinação de nossa população.
Nas trilhas da Educação…
1. Profissionais da educação de 18 a 46 anos – das redes pública e privada – devem fazer o cadastro para receber a vacina contra COVID – 19 no site Vacina Já – https://vacinaja.sp.gov.br/educacao
2. As inscrições para o Vestibulinho, do segundo semestre, do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, foram prorrogadas até às 15 horas do dia 08/06/2021;
Em reunião ocorrida entre MEC (Ministério da Educação), Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação) e Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação), na última terça-feira, o secretário-adjunto – José de Castro Barreto Júnior- informou aos participantes que o ENEM ocorrerá em 2021.
Fica a Dica!
Escrito por Lima Barreto, o conto que trago hoje está no livro História e Sonhos publicado em 1920, última obra de contos lançada pelo escritor em vida. Narrado em terceira pessoa, o conto narra a história de um ministro orgulhoso e envaidecido que ao sair do baile da embaixada relembra os efeitos de seu discurso, proferido minutos antes, sobre uma plateia admirada, de “pasmos olhares”. O protagonista é guiado, cegamente, pela ilusão de ser o detentor de uma certeza absoluta e o único capaz de mudar o destino da nação. O real e o fantástico se manifestam nesta narrativa.
SUA EXCELÊNCIA
O Ministro saiu do baile da Embaixada, embarcando logo no carro. Desde duas horas estivera a sonhar com aquele momento. Ansiava estar só, só com o seu pensamento, pesando bem as palavras que proferira, relembrando as atitudes e os pasmos olhares dos circunstantes. Por isso entrara no cupê depressa, sôfrego, sem mesmo reparar se, de fato, era o seu. Vinha cegamente, tangido por sentimentos complexos: orgulho, força, valor, vaidade.
Todo ele era um poço de certeza. Estava certo do seu valor intrínseco; estava certo das suas qualidades extraordinárias e excepcionais. A respeitosa atitude de todos e a deferência universal que o cercava eram nada mais, nada menos que o sinal da convicção geral de ser ele o resumo do país, a encarnação dos seus anseios. Nele viviam os doridos queixumes dos humildes e os espetaculosos desejos dos ricos. As obscuras determinações das coisas, acertadamente, haviam-no erguido até ali, e mais alto levá-lo-iam, visto que ele, ele só e unicamente, seria capaz de fazer o pais chegar aos destinos que os antecedentes dele impunham…
E ele sorriu, quando essa frase lhe passou pelos olhos, totalmente escrita em caracteres de imprensa, em um livro ou em um jornal qualquer. Lembrou-se do seu discurso de ainda agora.
“Na vida das sociedades, como na dos indivíduos…”
Que maravilha! Tinha algo de filosófico, de transcendente. E o sucesso daquele trecho? Recordou-se dele por inteiro:
“Aristóteles, Bacon, Descartes, Spinoza e Spencer, como Sólon, Justiniano, Portalis e Ihering, todos os filósofos, todos os juristas afirmam que as leis devem se basear nos costumes…”
0 olhar, muito brilhante, cheio de admiração – o olhar do líder da oposição – foi o mais seguro penhor do efeito da frase…
E quando terminou! Oh!
“Senhor, o nosso tempo é de grandes reformas; estejamos com ele: reformemos! ”
A cerimônia mal conteve, nos circunstantes, o entusiasmo com que esse final foi recebido.
O auditório delirou. As palmas estrugiram; e, dentro do grande salão iluminado, pareceu-lhe que recebia as palmas da Terra toda.
O carro continuava a voar. As luzes da rua extensa apareciam como um só traço de fogo; depois sumiram-se.
O veículo agora corria vertiginosamente dentro de uma névoa fosforescente. Era em vão que seus augustos olhos se abriam desmedidamente; não havia contornos, formas, onde eles pousassem.
Consultou o relógio. Estava parado? Não; mas marcava a mesma hora e o mesmo minuto da saída da festa.
– Cocheiro, onde vamos?
Quis arriar as vidraças. Não pôde; queimavam.
Redobrou os esforços, conseguindo arriar as da frente. Gritou ao cocheiro:
– Onde vamos? Miserável, onde me levas?
Apesar de ter o carro algumas vidraças arriadas, no seu interior fazia um calor de forja. Quando lhe veio esta imagem, apalpou bem, no peito, as grã-cruzes magníficas. Graças a Deus, ainda não se haviam derretido. O leão da Birmânia, o dragão da China, o língão (1) da Índia estavam ali, entre todas as outras intactas.
– Cocheiro, onde me levas?
Não era o mesmo cocheiro, não era o seu. Aquele homem de nariz adunco, queixo longo com uma barbicha, não era o seu fiel Manuel.
– Canalha, para, para, senão caro me pagarás!
O carro voava e o ministro continuava a vociferar:
– Miserável! Traidor! Para! Para!
Em uma dessas vezes voltou-se o cocheiro; mas a escuridão que se ia, aos poucos, fazendo quase perfeita, só lhe permitiu ver os olhos do guia da carruagem, a brilhar de um brilho brejeiro, metálico e cortante. Pareceu-lhe que estava a rir-se.
O calor aumentava. Pelos cantos o carro chispava. Não podendo suportar o calor, despiu-se. Tirou a agaloada casaca, depois o espadim, o colete, as calças.
Sufocado, estonteado, parecia-lhe que continuava com vida, mas que suas pernas e seus braços, seu tronco e sua cabeça dançavam, separados.
Desmaiou; e, ao recuperar os sentidos, viu-se vestido com uma reles libré e uma grotesca cartola, cochilando à porta do palácio em que estivera ainda há pouco e de onde saíra triunfalmente, não havia minutos.
Nas proximidades um cupê estacionava.
Quis verificar bem as coisas circundantes; mas não houve tempo.
Pelas escadas de mármore, gravemente, solenemente, um homem (pareceu-lhe isso) descia os degraus, envolvido no fardão que despira, tendo no peito as mesmas magníficas grã-cruzes.
Logo que o personagem pisou na soleira, de um só ímpeto aproximou-se e, abjetamente, como se até ali não tivesse feito outra coisa, indagou:
– V. Exa. quer o carro?
(1) Língão: símbolo do poder hereditário sob o qual Xiva, divindade da índia, é comumente adorada.
Poesia: o velho abrigo da alma
A JANELA
Howard Phillips Lovecraft (H. P. Lovecraft), escritor estadunidense
Era uma casa velha, com estranhas alas tão emaranhadas
Que ninguém podia dizer que lhes conhecia bem a disposição,
E num quarto pequeno algures nas suas traseiras
Havia uma singular janela entaipada com pedra antiga.
A esse lugar, numa infância atormentada pelos sonhos,
Costumava ir sozinho, quando reinava a noite negra e vaga.
E destroçava as teias-de-aranha sem qualquer ponta de medo
Sentindo-me, p’lo contrário, cada vez mais maravilhado.
Mais tarde num certo dia levei até lá uns pedreiros
P’ra descobrir que paisagem os meus antepassados
Haviam tentado encobrir,
Mas quando perfuraram a pedra, impetuosamente entrou
Uma lufada de ar soprada p’lo ignoto vazio do outro lado.
Fugiram a sete-pés… Eu assomei-me – e encontrei um por um
Todos os mundos selvagens que os sonhos me haviam mostrado.