O novo Ensino Médio do Estado de São Paulo: Parte dois
Na edição anterior, apresentei cinco dos itinerários formativos que estarão sendo ofertados aos alunos no NOVO ENSINO MÉDIO DA REDE ESTADUAL DE ENSINO a partir de 2022. Hoje apresento mais cinco deles.
Importante que todos os alunos, que estão cursando a primeira série do ensino médio em 2021, façam o acesso à Secretaria Escolar Digital e optem pelos itinerários de interesse, pois eles serão implementados nas escolas estaduais com base nos três componentes curriculares propostos pelo Inova Educação (Projeto de Vida, Eletivas, Tecnologia e Inovação) e pelo aprofundamento curricular – apenas na segunda e terceira séries a partir da escolha dos alunos.
Os itinerários são compostos por quatro opções nas áreas de conhecimento (Linguagens, Matemática, Ciências Humanas e Ciências da Natureza) e seis opções de áreas integradas (Linguagens e Matemática, Linguagens e Ciências Humanas, Linguagens e Ciências da Natureza, Matemática e Ciências Humanas, Matemática e Ciências da Natureza, além de Ciências Humanas e Ciências da Natureza). O estudante ainda poderá optar pela formação técnica e profissional – que estarão na próxima edição.
Quando nos deparamos com todas essas mudanças trazidas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), fica um questionamento comum, ouvido nas escolas, se os alunos estão preparados para tomar essa decisão e fazer as escolhas nesse momento da sua formação, logo na entrada do ensino médio. Porém, antes de fazermos esse questionamento, é importante destacar que as escolas têm uma carga horária específica para o desenvolvimento do projeto de vida dos estudantes durante o ensino fundamental para que tenham mais orientação e discussão no campo vocacional ou profissional.
Sendo assim, a disciplina Projeto de Vida deve ser vista como uma ferramenta importante, na sala de aula, voltada à articulação entre o processo de aprendizado e a construção do sujeito – uma ferramenta em que o aluno se constitui, com a mediação do professor, em protagonista do seu próprio conhecimento, atendendo a uma demanda antiga dos alunos do ensino médio: dar sentido ao aprendizado da sala de aula sem distanciamento da realidade vivida por eles.
Nas trilhas da Educação…
1. As inscrições para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) inscrições começaram dia 30/06/2021 e vão até dia 14/07/2021;
2. Segundo Ministério da Educação, versão digital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 irá seguir a mesma logística do Enem impresso. As provas serão aplicadas em locais definidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), sob as mesmas condições de segurança e sigilo.
3. Plano de retorno às aulas presenciais começa a ser discutido na rede estadual – previsão é de retorno em 02/08/2021, com até 100% de presença dos alunos – de forma facultativa – desde que respeite o distanciamento de um metro.
Fica a Dica!
A crônica – A última crônica – que trago hoje – é do escritor Fernando Sabino – publicado no livro A companheira de viagem – 1965 – Editora do Autor – que narra a história ocorrida na Gávea -Rio de Janeiro – lugar em que o escritor percorria à procura de um fato, a caminho de casa, para ser o assunto da sua “Última Crônica”.
Caminhava sem saber o que buscava, sem inspiração, quando lançando o último olhar para fora de si presencia o fato que será assunto de sua crônica e que traz a reflexão de que a felicidade está nas pequenas coisas.
“A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.
Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.
Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho – um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.
A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.
São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: “Parabéns pra você, parabéns pra você…”
Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura – ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido – vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.
“Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.”
Poesia: o velho abrigo da alma
Fernando Pessoa
Sonhe com as estrelas,
apenas sonhe,
elas só podem brilhar no céu.
Não tente deter o vento,
ele precisa correr por toda parte,
ele tem pressa de chegar, sabe-se lá aonde.
As lágrimas?
Não as seque,
elas precisam correr na minha,
na sua, em todas as faces.
O sorriso!
Esse, você deve segurar,
não o deixe ir embora, agarre-o!
Persiga um sonho,
mas, não o deixe viver sozinho.
Alimente a sua alma com amor,
cure as suas feridas com carinho.
Descubra-se todos os dias,
deixe-se levar pelas vontades,
mas, não enlouqueça por elas.
Abasteça seu coração de fé,
não a perca nunca.
Alargue seu coração de esperanças,
mas, não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-as.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Circunda-se de rosas, ama, bebe e cala.
O mais é nada.