Os tempos mudam, as realidades mudam e as linguagens também. Toda língua apresenta variação de acordo com uma época demonstrando seu potencial de mudança. Sempre foi assim e atualmente não é diferente.
A luta pela igualdade dos direitos civis das mulheres, das pessoas da comunidade LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transgêneros, queers, intersexuais, assexuais e +) do movimento negro entre outros grupos e o reconhecimento de fatos históricos como o holocausto, a escravidão contribuem para destacar a função social da linguagem, palavras antes usadas com referências a esses acontecimentos, hoje não são bem aceitas.
A Linguística, que é o estudo das línguas, procura reconhecer o lado vivo de qualquer língua e ao observar as constantes transformações sempre está disposta a alterações. É nesse contexto que já a algum tempo, principalmente nas redes sociais, que se vem falando em uma linguagem neutra para não se criar constrangimentos às pessoas não binárias (aquelas que não se identificam com o gênero masculino ou feminino), a argumentação em favor da linguagem neutra alega que porque ela deve ser chamada por um gênero que não se sente representada? Como designar alguém que não se sente nem homem nem mulher, ou alguém que se sente ora um, ora outro? Será que só existe só caixinha rosa e caixinha azul, e quem vive fora da caixa?
É nesse sentido que se propõe um tratamento gramatical para que a sociedade passe a pensar o gênero para além da genital, ou seja, aquela que vê apenas duas possibilidades de existência, sugere-se então uma 3ª letra aos pronomes; exemplo: todos/todas com a mudança admite-se o todes, ele(s) ela(s) pode ser êlu, dele/dela dilu e muito mais variações pronominais. É claro que existe uma grande discussão e a Gramática Conservadora, que rege a norma culta da Língua Portuguesa, acha tais variações desnecessárias, pois a gramática atual já contempla o neutro, mas a comunidade não binária não entende assim, suas teses afirmam que o gênero não deve ser confundido com a sexualidade, não havendo por exemplo, um neutro no singular em português, argumentando ainda, que a língua nos serve e não nós servimos a ela, se tem uma necessidade que a língua não contempla, adiciona-se, agregando assim, por ser mais neutra, mais diversidade; outro exemplo: uma pessoa intersexual (aquela que nasce com características biológicas masculinas e femininas), não faz sentido dizer se nasceu menino ou menina, por não se encaixar no binarismo, como ela deve ser tratada? Enfim a língua cedo ou tarde se adapta a realidade, a identidade e a assunção no sentido e assumir o que é.
O debate está em curso e esta também é uma oportunidade para ouvir os adolescentes e interessarmos por suas opiniões, afinal essa é uma reivindicação da geração diles.