Lembro – me de minha mãe como uma mulher que desempenhou com brilhantismo os papéis de esposa e mãe de quatro filhos. Cabe-lhe perfeitamente os adjetivos de mulher valorosa e capaz de formar pessoas, além de engordá-los e criá-los, essas últimas, tarefas mais fáceis. Minha mãe é uma mulher que trabalhou dentro de casa e como profissional da educação. Eu e meus três irmãos fomos nos desenvolvendo de forma natural, vivemos a primeira e segunda infâncias de forma saudável e feliz. Juntamente com meu pai, ela favoreceu adequadamente o desenvolver das fases de nossas vidas, assim, mesmo na adolescência, considerada por estudiosos o período mais complicado do desenvolvimento, justamente porque é uma fase de transição, em que não se é mais criança e tampouco adulto, vivenciamos sem grandes percalços. É a fase das incertezas, a fase em que queremos uma coisa ao amanhecer e não mais a mesma coisa ao anoitecer, amamos e odiamos na mesma intensidade, pensamos que a casa do vizinho é bem melhor, são apenas alguns exemplos do que é adolescer.
Em minhas análises, costumo relacionar o tema que abordo às questões Sociais, econômicas, culturais, políticas e ambientais. Sobre adolescentes entendemos que, na sociedade capitalista em que vivemos, o fator econômico tem um peso muito grande na definição do que é sê-lo. Pode-se dizer que isso depende em grande parte da classe social que essa pessoa pertence, tanto ela , como sua família.
O Estatuto da criança e adolescente (ECA), registra que criança é a pessoa que possui entre zero e 10 anos e onze meses e o adolescente entre 11 anos e 17 anos e 364 dias. O amadurecimento, o nível de consciência, a maturidade não dependem somente da idade. Trata-se muito mais da singularidade de cada pessoa: posso conhecer uma criança que já sustenta sua família, executando trabalhos informais em razão da pobreza ou miséria vividas. Posso conhecer uma pessoa de 48 anos, casado ou não, possuidor de filhos, possuidor de carteira nacional de habilitação (CNH), dono de imóveis, veículos e que ainda é dependente financeiro dos pais, o qual ainda não se emancipou financeiramente e psicologicamente. Portanto, mesmo com a idade adulta é na realidade, um adolescente. Enfatizamos ser comum que as regras sociais são mais tolerantes com as pessoas que pertencem as classes privilegiadas (A e B), vistas como não “maduras”.
Existem também pessoas não “maduras” nas classes desfavorecidas, porém o julgamento é outro, são chamados de vagabundos e merecedores de outros adjetivos pejorativos. É facilmente visto que em todas as classes sociais, existe a “geração canguru”, ou seja, filhos maiores de 18 anos, que ao contrário de terem saído de casa e começado suas vidas adultas, estão como os cangurus agarrados aos pais, deles dependendo. Os pais, na maioria dos casos, já cansados, ganhando salários baixos e aposentadorias insuficientes, têm continuado a suas jornadas de trabalho ou tentado obter salários para prover o sustento também dos filhos já maiores. As causas geradoras da “geração canguru”, exige uma nova análise, um outro artigo.
Também o fator cultural ajuda a definir o que é ser adolescente ou adulto, depende de cada família, de cada grupo permitir que a adultez e suas condutas específicas cheguem antes da hora, na hora ou tardem a chegar ou nunca cheguem. Encontramos também pessoas acima de 60 anos, com posturas adolescentes.
A vida social de um grupo, comunidade e família, também definem o tempo em que a adolescência começa, termina ou nunca termina. Podemos falar o mesmo da questão política, não no sentido partidário, a política vigente, os contratos sociais, os acordos, o que se convenciona. De igual maneira, socialmente é definido o nascer, o adolescer, o envelhecer. Achamos interessante os termos adolescência e envelhecência de formas diferentes, são fases que possuem os bônus e ônus, os lados positivos e não positivos para não falarmos os lados negativos. Para finalizar a questão dos fatores que interferem nas fases do desenvolvimento humano, temos a questão do meio ambiente, que favorece ou desfavorece esse amadurecimento, a nosso ver.
É importante lembrar que na formação da pessoa os exemplos tem grande importância. Pesam muito mais do que palavras. Os formadores de pessoas, não somente os pais, pessoas, parentes ou não, que por motivos diferenciados, assumiram essa função precisam ter em mente a necessidade do cuidado por esses aspectos, visando o êxito a favorecer o amadurecimento desses adolescentes em momento não tardio.
Finalizando, registramos que as pesquisas revelam que a genética tem sobre a pessoa maior peso do que os outros fatores acima citados, ou seja, a singularidade de cada pessoa é decisiva em seu processo maturacional, em suas escolhas, em seu desenvolvimento bio-psico-social. Concordamos com essa tese, porém, consideramos vital que devemos fazer a nossa parte, enquanto formadores de pessoas cuidar com carinho, sermos persistentes quanto aos bons exemplos e buscar a coerência em nossas atitudes e orientações, o que sabemos não ser tarefa fácil.
Certa vez ouvi frase: “Sou do tempo que os filhos comiam as asas dos frangos e aos pais era reservado o peito da ave. Hoje, quem come o peito do frango são os filhos e para mim, restam novamente as asas”.
Não é o fato de facilitarmos a vida de nossos filhos nos âmbitos sociais, econômicos, culturais e ambientais que garantirão suas idoneidades e como se sairão nesta vida nos âmbitos profissionais e pessoais. É importante que primeiro tenhamos respeito por nós próprios, se não nos respeitarmos, não existe quem o fará.
Pensemos nisso!