
A tensão entre o Judiciário brasileiro e setores bolsonaristas entrou em nova e perigosa fase nesta semana. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), referendou medidas cautelares impostas a Jair Bolsonaro, em meio à crescente produção de provas ligando o ex-presidente a articulações golpistas. O gesto, aguardado e temido, incendiou a cena política nacional e internacional. O clã Bolsonaro reagiu de forma coordenada, mas também alarmante. Enquanto aliados inflamam as redes com discursos de ruptura, Eduardo Bolsonaro, deputado federal, que está nos Estados Unidos, ostentando uma narrativa de perseguição política, tenta galvanizar o apoio de parlamentares trumpistas e da extrema-direita internacional para pressionar o governo brasileiro e o STF.
A atitude levanta sérias questões diplomáticas. Uma crise política interna do Brasil está sendo internacionalizada de modo explícito por um parlamentar no exercício do cargo. Isso seria escandaloso por si só. Mas o que se seguiu em Brasília ultrapassou a fronteira do inaceitável. Na última terça-feira, bolsonaristas colocaram a bandeira dos EUA sobre uma mesa no plenário da Câmara dos Deputados durante discursos em defesa de Jair Bolsonaro e em crítica ao Supremo.
O gesto foi justificado como “solidariedade a um aliado”, mas para muitos, foi uma cena degradante. Um símbolo nacional estrangeiro e de uma potência, içado como ícone de resistência contra as instituições brasileiras. Um ato que muitos interpretam como covardia cívica e traição simbólica. O gesto escancarou a inversão de valores de parte da oposição: exaltam o nacionalismo, mas recorrem a nações estrangeiras quando perdem força no debate democrático interno. Para estudiosos da democracia, a combinação desses fatos: a judicialização do bolsonarismo radical, a exportação do conflito para os EUA e a inversão de símbolos no parlamento é uma das mais graves da Nova República. “Essa tentativa de colocar o Brasil de joelhos diante de Washington é um marco de submissão ideológica que flerta com o antipatriotismo”, afirmou a cientista política Camila Lacerda, da Universidade Federal da Bahia.
O ministro Alexandre de Moraes segue em silêncio público, mas interlocutores garantem que ele vê os movimentos como parte de um teatro ensaiado para fomentar ruptura institucional. Internamente, os ministros do STF demonstram preocupação com a escalada e avaliam que medidas firmes continuarão sendo necessárias para garantir a ordem democrática.
Enquanto isso, no Congresso, cresce a pressão para que se estabeleçam limites mais claros entre a liberdade parlamentar e atos considerados como atentatórios à soberania nacional. O Brasil assiste, mais uma vez, à corrosão das fronteiras entre política, justiça e patriotismo. Num momento em que se esperava a superação das feridas abertas em 8 de janeiro de 2023, o país vê ressurgir fantasmas perigosos agora, com bandeiras importadas. Como dizia o literato inglês Samuel Johnson:” o patriotismo é o último refúgio dos canalhas” é o manto que cobre seus próprios interesses.





