SOCIEDADE BENEFICENTE E RECREATIVA 13 DE MAIO
Dentre os clubes sociais de Batatais que adentraram os anos 40 está a Sociedade Beneficente Recreativa 13 de Maio. A entidade recebeu este nome em referência à Abolição da Escravatura ocorrida no Brasil em 13 de maio de 1888.
Embora não tenhamos informações muito precisas a respeito desta sociedade, sabemos que foi uma entidade social negra com propostas recreativas e beneficentes que surgiu no final da década de 20 e que, com muita luta, sobreviveu até o fim dos anos 40.
A associação aparece em determinados períodos na imprensa da época, por vezes com nomes diferenciados, mas mesmo assim consideramos ser a mesma associação ou parte da mesma. Outras denominações encontradas para a referenciar a Sociedade Beneficente Recreativa 13 de Maio foram: Grêmio 13 de Maio, Flor de Maio e Victória Régia.
A Sociedade Beneficente Recreativa 13 de Maio foi fundada em maio de 1928 por representantes de um grupo específico da população batataense, o negro (tal qual o associativismo italiano).
Esta entidade é considerada a primeira associação social negra da cidade de Batatais e uma das primeiras do interior paulista existentes no século XX.
Durante os 20 anos de existência da agremiação, seus representantes munidos com o estandarte e pavilhão da agremiação, buscaram participar das festividades religiosas, cívicas, recreativas, esportivas e muito provavelmente políticas, promovidas na cidade, mesmo diante das dificuldades encontradas para se manter até sua completa dissolução em 1949.
Sobre a Sociedade 13 de Maio, a imprensa escrita noticiou sobre a formação das diretorias, a participação da entidade em eventos comemorativos, cívicos e políticos, a promoção de eventos diversos, a organização de festas de carnaval e os bailes oferecidos pelo mesmo grupo.
A primeira diretoria do clube social para o biênio 1928-1930 ficou constituída por Francisco Alves Ferreira, presidente; Benedicto Monteiro dos Santos, vice-presidente; José Jerônymo Monteiro, 1º tesoureiro; Faustina Maria de Jesus, 1ª secretária; Benedicta Izidora, 2ª secretária; Joaquim Roberto, procurador. (TB, 22/07/1928)
Na segunda diretoria para o biênio 1930-1932, tivemos como presidente, Benedito Monteiro dos Santos; vice-presidente, Alcebiades Edmundo da Silva; secretários, Thadeu Roberto Moreira e Sebastião Paulino; 1º tesoureiro, José Jerônymo Monteiro; 2º tesoureiro, Joaquim Roberto; sindicância: José Roberto Valadão, José Agapito Evangelista e Manoel Pedro Barros. (GB, 15 de maio de 1930)
Para o ano de 1935, encontramos os nomes de uma comissão carnavalesca da associação Sociedade Victoria Régia, a saber: José Custódio Ribeiro, Maria Joanna Ribeiro, Diominha Paiva e Helena Vieira. (GB, 24/02/1935)
Em 1939, encontramos Francisco Moreira, o ‘Chico da Empresa’, como presidente da Sociedade 13 de Maio.
Chama a atenção a participação feminina na agremiação, centralizada nas figuras de Maria Joana e Ana Justino dos Santos – esta última, mãe de um dos fundadores da Sociedade Recreativa Princesa Isabel, Mário Alves dos Santos (falecido), da renomada poetisa Célia Natalina, da professora Cirene (já falecida) e do jornalista esportivo Carlos Justino, entre outros filhos (D. Ana Justino vale uma biografia a parte).
A Sociedade 13 de Maio não conquistou a sede social definitiva, ocupando sedes provisórias, geralmente alugadas (à Rua Coronel Joaquim Alves e Rua Coronel Joaquim Rosa) ou cedidas por empréstimos, como a sede do Grêmio 21 de Abril, do Salão Santa Cecília ou do Teatro São Carlos ou outros barracões pela cidade.
Os membros da Sociedade 13 de Maio aparecem na década de 30 principalmente envolvidos nos eventos festivos dedicados ao Rei Momo, formando blocos carnavalescos de rua e salão. Os mais conhecidos foram o Cordão dos Pretos (1934, 1935), o Cordão Victória Régia (1934, 1935, 1939) e o Flor de Maio (1936, 1940 e 1941). Os dois últimos também aparecem, por vezes, citados como sendo a própria sociedade.
No carnaval de 1934, temos a participação dos grupos carnavalescos negros celebrada pela Gazeta de Batataes:
“No S. Carlos o Cordão dos Pretos fará diabruras com estonteantes bailes” (08/02/1934); “sahirão a rua vários cordões. O Cordão dos Pretos formado por 80 figuras promete coisas do arco da velha. O cordão dos pretos realizará bailes no São Carlos” (11/02/1934); “o cordão negro, como dissemos, esteve estupendo, enchendo as ruas e praças de rumores. Os seus componentes gozaram a vida nesse tríduo rápido que constitue o reinado da folia” (15/02/1934).
Ainda em 34, o Grêmio Victória Régia apoiou a construção da Igreja Matriz com a promoção de ‘chá beneficente’ durante o mês de maio nos salões da Sociedade Italiana.
No carnaval de 35, percebe-se o mesmo entusiasmo do ano anterior com o aumento dos blocos e cordões de rua em geral. Os negros organizados na Sociedade Victória Régia com bailes carnavalescos no Salão Santa Cecília saíram às ruas com o cordão Victória Régia e o cordão Sapé Queimado com cerca de 150 figurantes (GB, 03/03/1935 e FB,16/02/1935).
Em 1936, um grupo de negros organizou o cordão carnavalesco Flor de Maio, em substituição ao Victória Régia. (FB, 11/02/1936)
Já em 1937, O Jornal, em sua primeira edição, noticiou a organização de um espetáculo teatral cômico pelos membros da agremiação 13 de Maio e os tradicionais bailes carnavalescos.
Em 1938, a Sociedade 13 de Maio foi citada nos jornais em algumas situações: na primeira, convidando a população para as festividades carnavalescas; em seguida para o baile de Aleluia e depois para um baile comemorativo da passagem para o ano de 1939. O local da sede não foi citado.
“não fosse o alinhado cordão da Sociedade 13 de Maio ter se apresentado, dado um pouco de vida, tudo estaria no vácuo profundo e imenso”. (FB, 05/03/1938)
No ano do centenário da cidade de Batatais, 1939, a população negra se fez representar novamente nas festividades carnavalescas, no baile de Aleluia, promovendo quermesses e participando dos eventos comemorativos do Centenário político da cidade.
Coube à Sociedade 13 de Maio abrir no dia 11 de março de 1939, com um baile em seus salões, as solenidades oficiais do aniversário da cidade.
“Realizou-se na noite do dia 11, o primeiro dos bailes oferecidos pela municipalidade. Com a presença do sr. Prefeito Municipal e membros da Comissão Promotora, iniciaram-se as danças na Sociedade 13 de Maio, prolongando-se animadamente até altas horas.” (OJ, 24/03/1939)
A Sociedade 13 de Maio, entrou os anos 40, mas não sobreviveu a ele, dando seu último suspiro em 1949. Vale lembrar que a década de 40 foi bem instável em relação a eventos, devido a carestia decorrente principalmente da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a censura do Estado Novo de Vargas (1937-1945).
“o bloco dos elementos de cor de nossa cidade, também homenageará o Rei Momo, fazendo realizar no prédio n. 16 da Rua Cel. Joaquim Rosa, em noites de 4, 5 e 6, trez alegres bailes” (FB,17/02/1940)
Em 1941, a entidade organizou festas, bailes e cordões animados, sendo citada como Flor de Maio, às vezes de forma ambígua: ora como associação, ora como bloco carnavalesco da mesma associação:
“O enthusiasmo vibrou, no tríduo deste ano nos quatro salões das sociedades Recreativa, Operária, Ítalo-Brasileira e Flor de Maio (…) FLOR DE MAIO – não organizou o seu rancho de rua – famoso nos carnavaes passados – mas na sede provisória, á rua Cel. Joaquim Alves, em frente a Sociedade Italo-Brasileira, ofereceu bailes extra-concorridos. Os cordões da Flor de Maio também visitaram as outras sociedades, numerosos e entusiasmados.” (OJ, 14/03/1941)
O ano de 1942 marcará o último ano das festividades de todas as associações recreativas.
Entre os anos de 1943-1946, os eventos sociais e de entretenimento estiveram inativos devido a Segunda Guerra Mundial; o que com certeza, enfraqueceu a vida dessas associações.
Além das festividades carnavalescas, membros da Sociedade 13 de Maio participaram de alguns eventos religiosos, cívicos e esportivos durante a década de 40, quando estes foram organizados.
A participação ativa de alguns representantes da comunidade negra, pode ser percebida nas festas religiosas que ocorriam principalmente no mês de abril em homenagem a São Benedito.
Por anos seguidos tivemos a participação de Francisco Alves, Malaquias Alves dos Santos, Sebastião Paulino e Ana Justino dos Santos, fundadores da Sociedade 13 de Maio e membros atuantes da comunidade negra, como festeiros de São Benedito.
São Benedito, é considerado um santo católico e padroeiro dos cozinheiros. A versão mais aceita de suas origens, explica que ele foi um religioso franciscano, cozinheiro, que viveu na Itália por volta de 1520, de origem humilde e de pele negra – possivelmente escravo ou filho de escravos.
Atualmente a festa litúrgica de São Benedito é no dia 05 de outubro, mas no período estudado era celebrado no mês de abril.
Por ter origem humilde e negra sempre encontrou nos africanos e afrodescendentes um grande número de devotos entre a população negra e pobre.
Em 1941, o jornal indicou a presença de congadeiros da cidade de São Tomás de Aquino (SP) para a Festa de São Benedito local. De acordo com a nota, a apresentação teria sido “bizarra (…) para a festa dos homens de cor”
Em 1940, ocorreu em Batatais um evento que, com certeza, envolveu a comunidade negra: um concurso de beleza organizado pela ‘Comissão do Grande Concurso das Misses de Cor do Oeste Paulista’. Conforme indicado nas prévias do concurso local.
A dita Comissão promoveu um sarau-dançante nos salões da Ítalo-Brasileira e teve como “representante do concurso em nossa cidade, a srta. Antonia Abhrão da Silva, responsável pelos cupons de apuração e entradas para o dia da apuração final”. (OJ, 22/06/1940)
Porém, os jornais não deram prosseguimento ao tema em edições posteriores e não sabemos se não aconteceu a final ou a mesma não foi registrada pela imprensa.
Cinco anos depois, em 1945, ocorreu novamente um concurso de beleza regional direcionado à comunidade negra. O concurso aconteceu na cidade de Ribeirão Preto e elegeu uma ‘Miss de Cor’ batataense, a senhorita Maria Geralda Delcides. (TB, 23/12/1945)
Em 1949, os jornais anunciaram o ‘reaparecimento’ da Flor de aio, durante o Carnaval, depois de 8 anos de inatividade, no entanto, o ciclo da Sociedade 13 de Maio se encerrou logo após as noites de folia. (OJ, 27/02/1949)
“os remanescentes da ‘Flor de Maio’ promoverão dois bailes carnavalescos, estando a frente das festividades o conhecido Francisco Moreira.” (OJ, 27/02/1949)
Na década de 50, com o fim da Sociedade 13 de Maio e ou seus remanescentes, surge uma nova agremiação social negra, com o nome temporário de Sociedade Flor da Mocidade.
A ideia de um novo clube foi liderada pelo jovem Mário Alves dos Santos (1925-2019) e antigos diretores da Sociedade 13 de Maio, como Sebastião Paulino e outros representantes da população negra local.
Em 1952, reunidos na sede local do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), situada à Rua Sete de Setembro, nº 333, cedida pelo presidente do partido local e prefeito da época, doutor Alberto Gaspar Gomes, esse grupo de jovens idealistas fundou um novo clube social, a Sociedade Beneficente Recreativa Princesa Isabel.
Esse mesmo clube social teve um destacado grupo carnavalesco que no ano de 1955 deu origem a saudosa Escola de Samba Princesa Isabel. E a história continua em outra oportunidade…