Passaram-se 4 meses de governo Bolsonaro, mas parece que foram 2 anos, para o bem, ou para o mal.
Não vou aqui advogar a favor dos argumentos de quem gosta ou não aprova a forma de governar do presidente eleito pelo voto da maioria da população, mas, para analisar esses 4 meses de governo com o mínimo de coerência, imparcialidade e sensatez, é preciso recapitular o que aconteceu em nosso país nos últimos 27 anos, pelo menos. Vou tentar ser objetivo, porque o espaço da coluna é limitado.
Nos referidos últimos 27 anos, desde o momento em que Fernando Henrique Cardoso assumiu o Ministério da Fazenda em maio de 1.993, fomos comandados na esfera federal por governos de social democracia – com Itamar e FHC (1993-2003), centro esquerda – com Lula e Dilma (2003-2014) e finalmente, de centro – com Temer (2016-2018).
Já antes do impeachment da presidente Dilma em agosto de 2016, o ciclo da esquerda e centro esquerda no poder em nosso país dava sinais bem claros de saturação, e uma nova ordem política se sedimentava principalmente através dos movimentos de rua organizados pelas redes sociais, como nas grandes manifestações de 2013, amplificado pela cobertura intensa de toda mídia, que explorava ao máximo as imagens de confrontos de jovens encapuzados com a polícia nas principais capitais brasileiras. Juntou-se a isso naquele momento, a deflagração da Operação Lava-Jato, que escancarou esquemas bilionários de corrupção, principalmente durante os governos Lula e Dilma, fazendo cair a máscara do sonho socialista.
Portanto a esquerda já não entregava a encomenda desejada, principalmente para a classe média, que tanto havia progredido nos anos 2000. O então deputado federal Bolsonaro, já então um “rato” das redes sociais, percebeu e assimilou essa onda, capitalizando para si um discurso que já utilizaria na eleição de 2014, tornando-se o deputado federal mais votado no estado do Rio de Janeiro naquela ocasião. Ou seja, tal como Collor de Melo em 1989, Bolsonaro em 2018 era o candidato certo na hora certa, com os anseios mais urgentes da maioria da população se encaixando perfeitamente no discurso do Capitão.
Antes da nossa eleição presidencial, nos Estados Unidos Donald Trump chegou a ser ridicularizado quando em 2015 se inscreveu para disputar as primárias do Partido Republicano, para ser candidato à presidência. Venceu em 2016, e hoje é candidatíssimo à reeleição, mesmo com um discurso de direita calcado principalmente no protecionismo econômico, defesa da propriedade e anti-imigração, porque para os americanos pouco importa se o presidente é louco ou excêntrico, se a economia vai bem, os empregos são abundantes a prosperidade é uma realidade, o presidente é só um detalhe (quem se lembra do Ronald Reagan sabe do que eu falo).
Nesses 4 meses de governo, Bolsonaro não fez nada mais do que pregou em sua campanha para chegar à presidência, esteja ele certo ou errado (o que já disse que não vou discutir aqui, lembram?). É um governo de direita, conservador, que não se envergonha de voltar atrás quando comete uma gafe (e já cometeu, e irá cometer inúmeras). Portanto é muito compreensível que, após 27 anos de governos à esquerda, o cidadão receba com estranhamento (usando um termo dócil) o encaminhamento de questões que até então eram intocáveis para boa parte da nossa sociedade durante os governos mais à esquerda.
Temos que ter em mente que esse é um governo de direita, governando com a cartilha da direita. Quem é contra, vai achar uma bela porcaria, é claro, e tem todo o direito de criticar, pois é assim que o jogo democrático é jogado, e a próxima eleição dirá qual o tamanho deste novo ciclo, ou se outro irá se iniciar.
Por hora, Bolsonaro continua focado em frases de efeito, tanto negativo quanto positivo, mas principalmente na aprovação de reforma da previdência para depois partir para a reforma fiscal, e, se aprovar as duas, conseguirá um belo fôlego para abafar as caneladas de seus filhos e de parte de sua equipe, e que continuarão a acontecer, sem dúvida nenhuma… porque como ele diz: “Tem que consertar isso daí, tálquêi!”