Prezados leitores, se é tempo de ficar em casa, que tal cuidar de suas plantas?
Para inspirar a tarefa, vamos falar nesta edição de mais um patrimônio de Batatais, a cidade dos mais belos jardins, tanto nas praças quanto nas residências.
Sim, por sorte ainda temos em nossa cidade uma considerável quantidade de casas que não se fecharam por trás de grandes muros e continuam compartilhando conosco a beleza de suas flores, arbustos, árvores e forrações.
As mais antigas construções de Batatais não possuem canteiros na parte frontal, pois as regras de construção entre os séculos XVIII e XIX, exigiam que as casas fossem construídas na frente dos lotes, sem recuos e sobre porões.
Na história do paisagismo brasileiro, os jardins do tempo do Império (1822 a 1889) pertenciam às pessoas de posses e eram representativos de suas fortunas, chegando até a uma disputa pela suntuosidade e luxo. Quase sempre era utilizado o jardim de desenho francês, as famosas topiarias, com espécies exóticas e raras e com alguns animais como pavões, araras, arapongas e macacos.
No decorrer do tempo, principalmente após a libertação dos escravos em 1888, ocorreu um declínio nos jardins residenciais, pois a mão de obra ficou cada vez mais rara. As plantas, rosas, cravos, orquídeas e samambaias de metro, não mais demonstravam a riqueza do proprietário, mas sim o conforto da residência.
Após a Proclamação da República, em 1889, novas regras sanitárias e urbanistas possibilitaram o embelezamento das cidades desejosas de se assemelhar à paisagem europeia e de solucionar os graves problemas de saúde pública causados pela falta de saneamento.
Desde o fim do século XIX a questão da moradia popular estava no centro das atenções; depois da epidemia de febre amarela de 1893, a Administração Sanitária do Estado de São Paulo criou um Código Sanitário que determinava que fossem “proibidas as construções de cortiços e eliminados os já existentes”, além de normas rigorosas de construção e higiene de moradias, que inspetores sanitários tentavam fazer cumprir. Em 1917, o presidente da Liga Brasileira contra a Tuberculose denunciava, no I Congresso Médico Paulista, “a crise de domiciliamento do operariado” e seus efeitos maléficos sobre a saúde coletiva.
Exigências sanitárias, tais como os recuos entre as edificações, ventilação e incidência direta da luz solar nos quartos, condicionaram novas formas de ocupação dos lotes, com ampliação dos jardins frontais e corredores laterais, principalmente nas residências dos grandes proprietários rurais.
Nos jardins residenciais eram plantadas margaridas, rosas, angélicas, jasmins, hibiscos, copos de leite, dálias, dracenas, agapantus, todas elas de origem estrangeira, sem a valorização ou reconhecimento da rica flora brasileira.
Os portugueses da Ilha da Madeira trouxeram para o Brasil as flores: amarylis, begônias, beris, primaveras, caladiuns, petúnias, onze-horas e sálvias. Já o moderno embelezamento de Paris ocorrido na segunda metade do século XIX, se transformou no espelho da burguesia nacional.
A influência francesa era tão grande em nosso país que até pouco antes da Proclamação da República, a Marselhesa (hino nacional da França) era o canto de guerra republicano e o 14 de julho (Dia da Bastilha) foi considerado feriado no Brasil até o ano de 1930.
Tal influência europeia no Brasil proporcionou o surgimento do paisagismo eclético, com desenhos de praças dentro dos padrões anglo-franceses, apoiados numa visão romântica e pitoresca do mundo, voltadas para a contemplação, passeios e circulação.
A praça Cônego Joaquim Alves representa bem este estilo, com seu traçado em cruz, eixos de passagens, canteiros geométricos, pontos focais demarcados pelo coreto e as fontes, além das áreas de estar.
A influência anglo-francesa no paisagismo também está presente nos jardins e pátios internos das edificações, como na antiga residência do Monsenhor Joaquim Alves Ferreira, que além dos jardins e fonte, possuía também três viveiros com aves exóticas.
Encontramos na página do Acervo Digital de Batatais no Facebook, o depoimento de Frederico Augusto Oliveira Castro sobre o jardim interno da extinta Casa da Cultura, que nos ajuda a imaginar a magia daquele lugar.
Frequentei muito na minha infância/adolescência quando pertencia ao Major Crhysanto Alves Ferreira, irmão do Monsenhor. Nesse viveiro, à esquerda era mantido pelo Major um gavião carcará e nós, crianças inocentes, instigadas pelo “capetinha”, capturávamos e jogávamos lá dentro pobres rolinhas e pardais que eram prontamente devorados pelo feroz predador. (2015)
O mesmo modelo desses viveiros também estão presentes no pátio interno do centenário Colégio São José, funcionando como uma área de contemplação e de convívio para os internos da época.
Ao observar as edificações das classes mais abastadas de Batatais, podemos verificar a valorização do espaço destinado para os jardins como na residência de João Ferreira Diniz e Mariana Carvalho Diniz (D. Mulata), com aproximadamente um terço do lote ocupado pela edificação e o restante destinado para jardins e pomares em um lote que equivale à metade de uma quadra.
Entre final dos anos 20 e início da década de 30, uma nova arquitetura genuinamente brasileira começa a se consolidar no país e com ela temos a criação do paisagismo moderno que enfatizava a criação de um lugar representativo da expressão das especificidades brasileiras. Tal estilo não tardou a chegar em Batatais, principalmente através dos projetos do engenheiro e arquiteto Carlos Zamboni.
A arquitetura moderna foi concebida dentro da relação entre espaço interno e externo, tornando inevitável o reconhecimento das paisagens e a valorização dos entornos, além dos espaços abertos projetados com a utilização de plantas nativas e desenhos geométricos dos pisos.
Também temos em Batatais o paisagismo contemporâneo, com influências diversas e uma linguagem pós moderna que pode ser representada pela residência dos Missionários Claretianos, construída em 1986 pelos arquitetos Affonso Risi e José Mario Nogueira. Conhecida como Casa de Barro, esta edificação possui extensa área de paisagismo e sua construção foi organizada ao redor de um jardim central, em referência aos claustros dos mosteiros e conventos.
Por fim, queremos destacar a presença na paisagem de Batatais, da árvore símbolo de nosso país, que é a araucária ou pinheiro-brasileiro, que apesar de protegido por lei federal está em estado crítico de extinção no Brasil.