Os personagens destacados em bustos e estátuas em Batatais, até o momento pesquisados, notabilizaram-se por seus feitos nas áreas da política, economia, medicina, cultura, religião e benemerência. Dessa vez, trazemos em destaque um dos batataenses mais conhecidos por seu brilhante desempenho, nas décadas 20, 30 e 40 do século XX, no esporte mais amado do Brasil, trata-se de Zeca Lopes.
Enfatizamos a importância desta justa homenagem ao Zeca Lopes na forma de escultura, por todos os seus feitos e valores, mais ainda por se tratar de um cidadão de origem popular, humilde e negro. O único que reúne todas essas características dentre todas as personalidades estudadas até o momento; condição rara de se ver em bustos e painéis. O que nos faz refletir: Onde estão os sujeitos históricos excluídos e minorias quando se trata de homenagens? Por que algumas personalidades mais ‘populares’ não estão eternizadas na forma de monumentos? Será que não estamos reproduzindo uma visão colonialista? Que feitos humanos merecem destaque para se tornar monumento?
Monumento a Zeca Lopes
JOSÉ DOS SANTOS LOPES – ZECA LOPES (1910 – 1996)
Data de Nascimento, Local: 01/novembro/1910 (registrado em 25/fevereiro/1911), Batatais/SP
Filiação: Foram seus pais, o construtor Arthur Lopes de Oliveira (1886-1945) e Luiza Ferreira Borges (1891-1976). O casal teve oito filhos: Maria do Carmo de Oliveira (casada com José de Oliveira), Antônio de Pádua Lopes (casado com Zoraide do Rego), José dos Santos Lopes, vulgo Zeca Lopes (casado com Izabel Parpinelli), Luís Lopes (solteiro), Benedicto Lopes (casado com Dagmar Arantes), Ana do Carmo Lopes Bueno (casada com Olímpio Bueno), Geraldo Lopes (casado com Maria Aparecida Faria), Terezinha do Carmo Lopes (casada com Gerônimo Teixeira). A maioria dos filhos casados do sr. Arthur Lopes constituíram família com numerosa prole.
Família Lopes
Estado Civil e filhos: Casou-se no dia 27.02.1935 aos 25 anos com a jovem batataense de 16 anos chamada por todos de Helena Parpineli (1919- 2002), porém registrada como Izabel, em Batatais/SP. A união durou 61 anos e da união resultaram quatro filhos: Benedicta Lopes (casada com Edvaldo Barbieri e tiveram o filho Eduardo), Arthur dos Santos Lopes (casado com Maria Aparecida Orsolini e tiveram os filhos Luiza Helena, Paulo Arthur e João Marcos), Rosa Helena Lopes (casada com Roberto Arsênio Possa e tiveram o filho Rodolfo) e José dos Santos Lopes Filho (casado com Edna Borges, sem filhos, falecido)
Profissões: jogador de futebol e construtor civil
Breve Biografia:
Zeca Lopes, proveniente de uma família humilde e numerosa, desde muito cedo teve que aprender um oficio para ajudar nos gastos familiares, talvez por isso, tenha estudado pouco. Cursou até o 2º ano do ensino fundamental I, no antigo Grupo Escolar ‘Dr. Washington Luís’.
O ofício aprendido, ainda criança, foi como servente de pedreiro e depois pedreiro, sempre ao lado de seu pai, tios e irmãos. Concomitante ao trabalho tornou-se jogador de futebol. Seu primeiro time foi o Riachuelo Futebol Clube. Em 1925, jogava no Batatais Futebol Clube, juntamente com seus irmãos Neca, Geraldo e Luís. Posteriormente, passou por outros times da região, até que em 1930 conquistou seu primeiro contrato profissional como jogador do Comercial de Ribeirão Preto; de onde saiu para ser levado ao Parque São Jorge em 1932. Ficou famoso na posição de ponta direita.
Zeca Lopes foi torcedor do Corinthians desde criança e jogou no alvinegro de 1932 até 1941. De acordo com o site ‘Meu Timão’, foi campeão paulista em 1937, 1938, 1939 e 1941. Ao todo disputou 134 partidas, venceu 78, empatou 19, perdeu 37 e marcou 36 gols na posição de atacante.
Ficou conhecido como Lopes ou pelo apelido de ‘El Tanque’ quando atuava no time do coração. Entre as principais características de Zeca Lopes como jogador, temos que era veloz, forte, com deslocamentos constantes, rápida penetração na área e qualidade de saber desmarcar nos momentos certos.
Quem indicou Lopes para o clube paulista foi Assis de Barros, um padre de Ribeirão Preto que era torcedor fanático do Corinthians e que inclusive mandou fazer o primeiro terno e sapatos para o jogador, que manteve a forma elegante de se vestir por toda sua vida.
Um dia, o Cônego Barros, de Ribeirão Preto, um grande corintiano e profundo conhecedor de futebol, propiciou sua ida para o Corinthians Paulista. Nessa época ele jogava no Comercial de Ribeirão Preto, onde teve uma curta passagem. O padre custeou sua ida para o Corinthians até mandando fazer o seu primeiro terno e sapatos. Chegou ao Corinthians após conseguir driblar os diretores do São Paulo que teimavam em desviá-lo para seu time. Já no treino foi escalado para jogar no domingo seguinte. Foi um sucesso. Sua estréia com a camisa corintiana aconteceu dia 12 de junho de 1932, quando o alvinegro foi derrotado pelo Ypiranga por 3 a 1. (http://memoriasdoesporte.com.br/2023/02/12/lopes-campeao-paulista-pelo-corinthians-em-37-38-39-e-41/)
De acordo com relatos da família,
Ao chegar à capital, Lopes quase foi aliciado por dois diretores do São Paulo, Lulu de Barros e Firmiano Pinto Filho, que tentaram se apossar de sua carta de transferência co Comercial de Ribeirão Preto. Só não conseguiram porque comentaram o assunto em um táxi cujo motorista, Vicente Chirichella, era corintiano e foi correndo avisar a diretoria. (Folder comemorativo do Centenário de Zeca Lopes 1910 – 2010)
Em 1938, Zeca Lopes foi convocado pelo técnico Ademar Pimenta para jogar pela Seleção Brasileira e representar o Brasil em sua terceira participação em uma Copa do Mundo. Zeca Lopes jogou todas as partidas na posição de atacante e juntamente com Brandão e Jaú foram os primeiros jogadores do Corinthians a defender a seleção brasileira em mundiais.
Aliás, Zeca Lopes não foi o único batataense na Seleção de 38, pois Algisto Lorenzato Domingos, mais conhecido como ‘Batatais’, que na época jogava pelo Fluminense, fora convocado como goleiro para a mesma Copa. Neste torneio, o goleiro ‘Batatais’ jogou duas das cinco partidas, sendo a última o jogo que decidiu o terceiro lugar a favor do Brasil.
A Copa de 1938 foi realizada na França e a viagem para Europa despertou o desejo em Zeca Lopes de ter uma casa com as paredes coloridas, cada cômodo com pinturas de faixas, listras e planos de diferentes cores, entre o azul, amarelo, rosa, verde, preto e branco.
Casou-se em 1935 e levou sua esposa para morar em São Paulo, na região da ‘Fazendinha’, próximo a sede do clube Corinthians. Embora morasse em São Paulo, o casal fez de tudo para que os filhos nascessem em Batatais, para que a esposa tivesse maior assistência e acolhimento, mas depois de certo tempo, voltavam todos para a capital.
Após o trágico fim de sua carreira como jogador de futebol, com a grave contusão de seu joelho em 1941, Zeca Lopes voltou a morar com a família em Batatais, dedicando-se de forma mais intensa a construção civil, e tinha como um de seus divertimentos o jogo de bocha. Adquiriu, na década de 40, o time em que começou a jogar, o Riachuelo Futebol Clube.
Muito vaidoso, era conhecido por toda a cidade e admirado por seus trajes: ternos impecáveis, sapatos brancos e chapéu de lado, com o qual fazia malabarismo. Gostava de fazer dobraduras e distribuía, juntamente com balas para as crianças e adultos no ônibus circular da cidade. (Folder comemorativo do Centenário de Zeca Lopes 1910 – 2010)
Durante toda sua a carreira como jogador de futebol, Zeca Lopes não deixou de construir e reformar casas para as pessoas mais humildes, sendo um dos responsáveis pelo acolhimento das pessoas que vinham do campo para morar na cidade e pela melhoria e desenvolvimento de Batatais entre as décadas de 1940 a 1970.
Com isso, contribuiu para o estabelecimento de alguns bairros da cidade, como: Riachuelo, Vila Cruzeiro e Jardim Santa Luísa.
No Jardim Santa Luísa, popularmente chamado de Vila Lopes, as primeiras casas foram construídas pelo próprio Zeca Lopes a partir de 1968, para vender ou alugar a preços baixos e longo prazo, porém sem existir no local nenhuma infraestrutura de iluminação ou rede de água e esgoto. Somente nos anos 80 é que o bairro recebeu as melhorias na rede e nos anos 90 a pavimentação.
Este bairro, o Jardim Santa Luísa, recebe o nome em homenagem à sua mãe, Luíza Ferreira Borges e à Santa Luíza de Marilac, declarada patrona das Obras Sociais em 1960, pelo Papa João Paulo XXIII.
Data de Falecimento, Causa, Local: 28/agosto/1996, aos 86 anos, vitimado por problemas cardíacos, Batatais/SP.
Local enterramento: Cemitério da Saudade, Batatais/SP
Data da inauguração do monumento: 07/novembro/2010, por ocasião do centenário de nascimento do nosso biografado.
Localização: Praça Santa Luísa, próximo a Avenida Todos os Santos no Jardim Santa Luísa (conhecido popularmente como Vila Lopes)
Sobre a escultura: Trata-se de um belíssimo monumento nas proximidades do campo de futebol do bairro Jardim Santa Luísa, popularmente conhecido como Vila Lopes, em homenagem ao jogador e também construtor empreiteiro. A escultura, desenvolvida por encomenda da família Lopes ao artista Luiz Xavier dos Santos foi inspirada na medalha de bronze que ganhou no mundial de 38 na França, possui dois metros de diâmetro e imagens esculpidas de ambos os lados, fazendo justa referência às profissões de Zeca Lopes e suas inseparáveis companheiras: a esposa Helena e a bola. A escultura em forma de medalha, de um lado possui imagens em alto relevo representando o jogador em lance com a bola, e do outro lado o jogador está representado com sua esposa e os ‘predinhos’ da Vila Lopes ao fundo.
Sobre o autor do monumento: Luiz Xavier dos Santos, radicado na cidade de Batatais há mais de 20 anos, o artista plástico é natural de Olho d’ Água do Casado do estado de Alagoas, nascido em 20 de agosto de 1960. Xavier, como é mais conhecido, é escultor autodidata desde os 16 anos de idade. Possui inúmeros prêmios e condecorações em Salões de Arte e já recebeu várias encomendas para o desenvolvimento de troféus e monumentos por todo o estado de São Paulo. Em 1990, Xavier foi convidado para expor seus trabalhos em Pequim e Changai, na China, onde foi premiado com o troféu ‘Paleta Internacional’. Entre os anos de 1995 e 2003 trabalhou na confecção de carros alegóricos para o desfile de carnaval da Escola de Samba ‘Império do Samba’. Tem extenso currículo na realização de exposições individuais e oficinas em Batatais, Franca, Barueri, Orlândia, Jardinópolis, Araraquara, Mairinque e São Roque. Atualmente, Xavier mantém suas atividades de escultor em seu ateliê na cidade de Batatais, onde também apresenta parte de sua produção para venda, no bairro Jardim Virgínia. Possui vários monumentos pelo estado de São Paulo e Rio de Janeiro. Na cidade de Batatais existem alguns monumentos de sua autoria, como o São Benedito na Igreja Menino Jesus de Praga, situada no Alto do Riachuelo; a escultura em homenagem à professora Anna Bonagura de Andrade na Escola que leva o nome da mesma, no Jardim Helena; o Cristo no Jardim dos Ipês; monumentos no Colégio São José e na antiga Febem, à época ‘Convivium Claret’; uma obra no Clube de Campo da A.B.R. Operária; um pajé Pena Branca, entre outros
Outras Homenagens: Em Batatais, foi homenageado com seu nome no Centro de Lazer do Trabalhador “José dos Santos Lopes – Zeca Lopes” situado no Conjunto Habitacional Doutor Altino Arantes.
Curiosidades: Conforme relato do próprio Zeca, o seu primeiro calçado foi uma chuteira de futebol; construiu sua primeira casa, aos 15 anos, com madeira que retirava nas cercanias de Batatais; como atleta amador, jogou em várias cidades do sul Minas Gerais, em uma dessas partidas teria enfrentado João Ramos do Nascimento, o ‘Dondinho’, o pai do Rei Pelé; foi o primeiro jogador do Corinthians a defender a seleção brasileira em Mundiais juntamente com os colegas de time Brandão e Jaú; na tenra idade, o passatempo de Zeca Lopes era fazer origamis e distribuir para as crianças em seus passeios pelos ônibus urbanos.
Trazemos ao leitor a reprodução de trechos da reportagem A Carreira Esportiva dos Componentes da Seleção Brasileira no Campeonato Mundial de Futebol, da revista brasileira Educação Physica (RJ), edição 20, de julho de 1938, que trouxe uma enquete sobre todos os jogadores daquele campeonato. Destacamos os dois batataenses que estiveram naquele campeonato: Lopes e Batataes.
Mais sobre o biografado:
https://belaregiaocampinas.blogspot.com/2010/10/zeca-lopes-o-construtor-de-sonhos-de.html
https://www.diariodaregiao.com.br/esportes/futebollocal/do-jacare-a-selec-o-1.153876
https://www.diariodaregiao.com.br/opiniao/riopretoemfoco/nossa-cidade-no-mundo-da-selec-o-1.211280
https://fantasmadamogiana.blogspot.com/2010/10/centenario-de-nascimento-de-zeca-lopes.html
https://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2006/copa/todos_os_brasileiros-1938.shtml
https://jornaldacidadebatatais.com.br/o-empreiteiro-jose-dos-santos-lopes/
http://memoriasdoesporte.com.br/2023/02/12/lopes-campeao-paulista-pelo-corinthians-em-37-38-39-e-41/
https://www.meutimao.com.br/jogador-do-corinthians/jose-lopes
https://tardesdepacaembu.wordpress.com/tag/goleiro-batatais/