Entenda quais são os cuidados com os animais durante períodos de desastres ambientais
As queimadas e incêndios que acometeram o estado de São Paulo nos últimos dias representam um perigo para toda a biodiversidade. A fumaça tóxica liberada e o calor intenso comprometem a qualidade do ar e colocam em risco a vida animal. O fogo, o calor e a perda de cobertura vegetal são nocivos para os animais, que são extremamente afetados pelos desastres ambientais.
A destruição de habitats naturais, a inalação de fumaça, as queimaduras e a exposição a uma natureza violentada, quando não é nociva, gera graves problemas de saúde e leva muitos animais a fugirem de seus lares e buscarem refúgio em áreas urbanas, onde enfrentam uma quebra de rotina e devem passar por um processo de adaptação.
Em meio a esse cenário crítico, o trabalho de resgate dos animais, sejam eles domésticos ou silvestres, é complexo e ao mesmo tempo fundamental. Os desafios enfrentados no resgate dos animais feridos são inúmeros e é preciso seguir protocolos específicos para que as operações obtenham sucesso.
A equipe do JC conversou com Giovanna Pupim, Médica Veterinária e responsável técnica da Associação Novo Caminho, que explicou um pouco sobre os principais desafios encontrados em períodos como esse, principalmente em Batatais, e os protocolos a serem seguidos.
JC: Quais são os principais efeitos das queimadas sobre a fauna local? Como as queimadas afetam a saúde dos animais?
G: A fauna local fica deslocada porque há uma perda do ecossistema deles, da casa deles. Tem escassez de alimento, os animais ficam atordoados e, às vezes, muitos deles acabam indo para a cidade e tem a saúde completamente afetada, pois muitos desses animais acabam inalando fumaça, o dióxido de carbono que é tóxico. Então, infelizmente, muitos animais acabaram morrendo e não tivemos tantos resgates igual achamos que teríamos porque a taxa de morte foi muito grande.
JC: Quais são os tipos mais comuns de lesões e problemas de saúde que você tem visto em animais afetados pelas queimadas?
G: Entre os principais tipos de lesão temos as queimaduras. Pegamos muitos casos de animais com queimadura, foi o principal problema que a gente encontrou.
JC: Como é feito o processo de resgate de animais feridos ou deslocados pelas queimadas e quais os desafios enfrentados?
G: Cada resgate é um desafio diferente. A questão da acessibilidade ao local que esse animal está e o tipo de animal, uma vez que animais de grande porte tem uma logística complicada e muitas vezes você tem que ter caminhão para conseguir transportar esse animal, dificulta. Animais domésticos, como cachorro, gato e até mesmo os animais silvestres de porte menor são mais tranquilos de conseguir capturar e transportar, nossa grande dificuldade são os animais de grande porte.
JC: Quais são os protocolos e procedimentos para tratar animais que sofreram queimaduras e inalação de fumaça?
G: O protocolo que utilizamos é de lavagem das feridas, aplicação de pomadas para queimaduras e medicação para ajudar as vias aéreas dos animais que passam mal com a inalação do dióxido de carbono. Basicamente, é um dos primeiros socorros que a gente faz se for uma situação mais grave, encaminhamos para locais de internação, ou, no caso de animais de grande porte, para hospitais que atendem esses animais. Os animais silvestres encaminhamos para o bosque de Ribeirão Preto e ficamos com os animais domésticos, cães e gatos. Nos outros animais a gente fez primeiros socorros e encaminhar para parceiros competentes que possuem maior estrutura para cuidar deles.
JC: A população deve se envolver e ajudar na alimentação de animais silvestres durante e após as queimadas?
G: Na questão da alimentação dos animais silvestres há bastante divergência. Eu, particularmente, sou completamente contra a alimentação até mesmo em épocas normais. Fazemos campanhas pras pessoas não alimentarem, porque a gente sabe os malefícios que o contato do ser humano com um animal Silvestre pode ocasionar. Porém, quem anda no Horto Florestal vê o tanto que a flora foi queimada e daí surge o desespero desses animais, principalmente os primatas, por alimento. Parte desses primatas estão acostumados com as pessoas irem até lá deixar alimentos. Infelizmente se criou essa cultura há muitos anos. Então, as pessoas deixaram de levar os alimentos ali como era de costume e eles estavam desesperados por comida, fora os outros tipos de animais. Meu ponto de vista como veterinária é que esse momento de escassez é um período curto, a gente deve esperar até virem as primeiras chuvas e as árvores começarem a ficarem normais novamente, para que volte a ter a oferta de alimento. Por enquanto, nós da Associação estamos fazendo o trabalho de levar os alimentos e pedimos à população que se forem levar algo, não devem levar guloseimas, bolacha, pão, mas sim frutas e verduras. Além disso, não deixar nenhum tipo de lixo para trás, como sacolinhas e potinhos plásticos. Os alimentos devem ser colocados em pontos estratégicos dentro da mata, escondidos e não se deve ter contato com esses animais. A gente pede para a população tomar cuidado com esses pontos pra gente não interferir mais ainda na vida desses animais.
JC: Quais são as melhores práticas para a população ao tentar ajudar animais afetados pelas queimadas?
G: Quando a pessoa encontrar um animal machucado, principalmente silvestre, deve ligar para os órgãos competentes, sejam os bombeiros ou a ONG, pois temos o suporte, a prática e as técnicas adequadas para fazer o resgate desses animais.