Para alguns pensadores nós estamos vivendo um “Instante de Mutação” talvez comparado com a passagem da Idade Média para a Idade Moderna. Coisas objetivas que sabemos existir hoje, podem sumir.
Merleau Ponty (1908-1961) filósofo francês disse: “Nós não somos consciência cognitiva pura, nós somos uma consciência encarnada em um corpo. Nosso corpo é habitado e animado por uma consciência. Também não somos pensamento puro porque somos um corpo, mas não somos uma coisa porque temos consciência”.
Somos seres temporais porque nascemos e temos consciência da morte, temos a memória do passado e a esperança do futuro, fazemos e somos feitos pela História. Nós somos o tempo e este existe porque existimos.
Somos também seres espaciais, o mundo é feito de lugares: perto/longe, cidade/campo, céu/terra, montanha/mar com suas dimensões (grande/pequeno…) e em meio a tudo isso está nosso corpo, nosso ser fundamental no mundo, um ser temporal e espacial. Toda nossa experiência vem da reflexão espaço/tempo.
Hoje, nessa mutação, caminhamos para o mundo virtual onde o espaço e o tempo se perdeu. Os satélites diminuíram a distância abolindo o espaço e o tempo criando o universo on line onde não há obstáculos geográficos nem distinção entre o dia e a noite, o hoje e o ontem, é tudo aqui e agora, uma atopia (ausência de espaço) e uma acronia (ausência de tempo). Essas duas ausências caracterizam o mundo virtual, um mundo sem espaço e sem tempo gerando uma cibercultura dizendo que as coisas são inteligentes: Roupas e casas inteligentes, carros e semáforos inteligentes, inteligência artificial, até geladeira inteligente (programada para fazer compras). Esses objetos tidos como inteligentes criados pelo mundo virtual nos traz uma concepção animista de que o objeto possui uma alma.
O mundo perde sua objetividade e atribui sua inteligência a matéria e no caso virtual uma outra realidade é criada, ela pode ser inventada. Em um ponto as religiões convergem: o poder da criação é de Deus, mas agora a realidade virtual tal como Deus também quer criar o seu mundo sem tempo e sem espaço e isso só pode ser feito em uma sociedade democrática que cria e assegura direitos.
Liberdade e prazer só serão possíveis através do consumo. O pensamento por muito tempo viverá no limbo, pois o desejo de saber ficará sufocado pelo medo de sair da ignorância.
Se acrescentarmos a esse cenário incêndios, secas, falta de água e aumento da temperatura tudo produzido pela atividade humana, temos mais um episódio da saga Mad Max.