Estamos vivendo em nosso planeta a maior pandemia desde a gripe espanhola dos idos de 1918/20, isso é fato público, notório e óbvio. Situação de emergência em saúde pública, que coloca em risco e inevitavelmente levará milhares de vidas em inúmeros países de cinco continentes.
Os efeitos podem ser minorados, com precauções que estamos cansados de saber, a principal, o isolamento social da maior maneira possível, e com responsabilidade e comprometimento de todos, isso tudo irá passar, e voltaremos à vida normal. Mas não aquele de que estávamos acostumados.., vem aí o “novo normal”.
Muitos tem a ilusão de que, uma vez controlada a pandemia, tudo voltará a ser como conhecemos. Não é o que a história mostra sobre pandemias anteriores. Há um período de adaptação e, muitas vezes uma nova noção de normalidade. Estas crises geram mudanças permanentes, e tendem a acelerar o curso da história. Esferas econômicas, sociais, políticas, culturais são redefinidas em períodos de dificuldade e tendem a manter essas marcas ao longo de muito tempo, como foi o caso da peste bubônica na Europa da Idade Média, da gripe espanhola já referida no início deste artigo, da grande depressão de 1929 nos Estados Unidos ou das diversas crises políticas e econômicas da América Latina.
Questões que anteriormente nos causavam estranheza, como assistir nos noticiários chineses e coreanos andarem pelas ruas com máscaras faciais, mesmo em tempos normais, serão considerados métodos racionais e justificáveis, mesmo em países tropicais como o nosso.
Outra questão que será redimensionada e reanalisada na vida de cada cidadão será a rotina de higiene pessoal, principalmente para quem é ou convive com pessoas consideradas de algum grupo de risco. Isso não significa apenas mais saúde, significa também maiores gastos residenciais e comerciais, uma vez que a higienização de locais públicos ganhará uma maior e mais criteriosa análise do consumidor em geral, e será considerado um ponto à mais no momento de vender este ou aquele produto.
Mudanças significativas (que podem ou não continuar no longo prazo – à conferir) em hábitos como trabalho à distância, e-commerce e delivery, racionalização de viagens de turismo, ensino à distância e aumento do uso de plataformas digitais para um público que nem imaginava um dia em utilizar um computador ou smartphone, passarão a ser consideradas novas realidades, tudo em nome de maiores cuidados com o contato social da forma que conhecemos até hoje, sempre visando evitar uma nova crise aguda de saúde pública, que como estamos vendo, é estrutural, não afeta apenas a saúde do corpo, mas também, e de forma violenta, a saúde da economia em geral.
Essa pandemia, a exemplo de outras que assolaram a humanidade, deixará marcas profundas em todos, mesmo em indivíduos acostumados a lhe dar com situações de estresse, dor e desespero. Haverá, certamente, um olhar mais humano para as tragédias que ocorrem em todos os lados, pela ideia de que o sofrimento pode, a qualquer momento, baixar na casa de cada um. Mas essa catástrofe – e o termo não parece exagerado – escancara a banalização do perigo, que ganha força nestes tempos do medo e angústia, duas sombras que nos cercam nesses tempos preocupantes.
A humanidade já superou outras batalhas, iremos superar esta. E aprender muito também.