A crise de representatividade que permeia o sistema político brasileiro, onde ninguém mais acredita nos partidos devido a pouca consistência ideológica e a incapacidade de mobilização popular proporciona um vácuo que serve para impulsionar líderes carismáticos e outsiders.
Os outsiders são aqueles que possuem uma posição marginal, fora de um grupo ou de um sistema para fazer uma abordagem não convencional (aqui no caso a política) com linguagem provocativa, desafiando as normas estabelecidas fora dos caminhos tradicionais.
Aí está Pablo Marçal, 36 anos nascido em São Paulo, o novo fenômeno da política brasileira que se apresenta como empresário, coach e mentor de milhões de pessoas. Sua forma de agir é direta e confrontante combinando ataques verbais e ridicularização através de uma política de anti-aliança onde todos são comunistas e ninguém tem projetos, só ele.
Pablo Marçal é bizarro e jovem, nas redes sociais é um gigante, ele cria e amplifica uma narrativa explorando “filtros de bolha” que são algoritmos onde as pessoas só fazem confirmar suas opiniões, reduzindo a diversidade de informação com informações tendenciosas, através daí ele fragmenta e direciona aos seus milhões de seguidores, engajando-os e compartilhando sua visão.
Pablo Marçal tem 3 grandes objetivos: Se tornar ainda mais popular e vender seus produtos virtuais na internet; concorrer como azarão e vencer as eleições em São Paulo; e por fim, criar corpo político, gerar capital político para numa próxima eleição se candidatar como senador, por exemplo.
Seu discurso extremamente agressivo harmoniza com o espírito destrutivo de nossa época e a sua estratégia é buscar o eleitor disruptivo, aquele eleitor que não quer saber das normas e práticas tradicionais e quer uma mudança de comportamento, aquele que desafia o sistema estabelecido com mudanças radicais. As redes sociais é o local para isso acontecer e ele está sozinho nessa pista de dança que engloba toda a direita, a esquerda deixou passar o discurso disruptivo.
Assim Pablo Marçal desenvolveu a técnica dos 3 Ls ( Lacração, like e lucro). Primeiro ele lacra, ou seja, faz ousadas declarações ofensivas para causar forte reação no público que através de likes, comentários e compartilhamentos aumenta a visibilidade do seu perfil e por fim o lucro, que vem através desses milhões de seguidores onde ele se promove vendendo cursos, eventos e outros projetos. A integração desses 3 aspectos o torna fortíssimo no ambiente digital, ninguém é páreo para ele nas plataformas.
É a “onda Marçal” que vem por aí buscar o voto disruptivo. Cuidado, a história já mostrou que esse voto pode gerar horrores. A burguesia alemã disse uma vez: “Não sei o que quero, mas sei o que não quero”, e assim eles criaram o nazismo e seu líder.