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Novas (e poucas) expectativas

Quando 2021 começou, a expectativa geral dos brasileiros era de, com o início da vacinação, a diminuição doa casos de covid, proporcionando uma recuperação econômica rápida, a abertura de novas vagas de empregos, a queda da inflação, e enfim, nossas vidas retornando à normalidade gradativamente. Ledo engano.

Com o ritmo lento da vacinação, e a falta de vontade do governo federal em comprar vacinas e proteger a população, veio exatamente o pior cenário: uma segunda onda de infecção mais contagiosa e letal, que colapsou do sistema público de saúde, travou a atividade econômica, fechou empresas aumentado o desemprego, fez os juros subirem e a inflação chegar aos dois dígitos, tudo isso somado com a escassez hídrica recorde que encareceu a energia, e o desmatamento recorde da Amazônia ocasionado pelo descaso do governo federal com a preservação da floresta, que fez do Brasil o grande vilão climático de 2021 aos olhos do mundo.

Mas como sempre acontece ao iniciar mais um ano, as expectativas são sempre melhores, mas, com a experiência do ano passado, estas expectativas tornaram-se menores, ou mais realistas, como queiram. A confiança do brasileiro caiu bastante com relação ao longo do ano que passou, e acreditem, 2022 pode causar um estrago tão grande quanto 2021, dada a instabilidade crescente, principalmente, no cenário econômico.

O principal fato gerador dessa instabilidade é o cenário político fomentado quase que diariamente pelo presidente Bolsonaro. O governo federal não dá segurança para a volta do crescimento econômico, e coloca os investidores de forma geral em compasso de espera. A equipe econômica (ou o que restou dela) do ministro Paulo “Posto Ipiranga” Guedes simplesmente não é mais levada à sério pelos demais ministros, pelos deputados do centrão, pelos filhos do presidente e pelo próprio. A agenda liberal deu lugar ao “salve-se quem puder”, com políticos buscando garantir sua sobrevivência nas próximas eleições, direcionando dinheiro do orçamento para emendas de relator, fundo partidário turbinado e aumento de salário de categorias isoladas, em detrimento de outras tantas, tirando recursos do pagamento de precatórios do contribuinte, um verdadeiro malabarismo na legalidade.

Essa instabilidade só faz crescer com a aproximação da eleição presidencial, e Bolsonaro dobrando a aposta contra o ex-presidente Lula, literalmente chutando o balde da sensatez, tentando se agarrar no que resta dos eleitores bolsonaristas, que, em números atuais, não lhe garantem nem ao menos levar a disputa para o segundo turno.

Hoje, analisando todos os números dos levantamentos sérios sobre a próximo pleito, temos três cenários para o atual presidente: um ruim, um horrível, e outro catastrófico.

No cenário ruim, Bolsonaro leva a disputa com Lula para o segundo turno, mas em virtude de sua rejeição absurda (hoje em mais de 60%) perde por larga diferença para o petista. No cenário horrível, Lula vence no primeiro turno, com Bolsonaro amargando o segundo lugar. E no cenário catastrófico, Lula disputaria o segundo turno com um candidato da terceira via, e Bolsonaro ficaria observando essa disputa, totalmente isolado, desprestigiado, abandonado e com poder de decisão zero.

Mas uma certeza a classe política em Brasília tem: Bolsonaro não entra na disputa para passar vergonha, e está disposto a ir até as últimas consequências, mesmo as mais inimagináveis. Convenhamos que num cenário desses não há confiança em recuperação e crescimento econômico que resista. Afivelem os cintos, respirem fundo, e um Feliz 2022!