OMS reforça a urgência da prevenção da doença para bloquear o aumento de casos
No dia 14 de agosto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que o crescimento exorbitante de casos de Mpox em diversos países africanos, como a República Democrática do Congo, configura uma emergência de saúde pública de interesse internacional (PHEIC). No contexto brasileio, o Ministério da Saúde (MS) divulgou no dia 3 de agosto o relatório semanal de casos de mpox no Brasil. Ao todo foram registrados 945 casos confirmados ou prováveis da doença, superando todos os casos contabilizados em 2023.
Causada pelo vírus mpox, do gênero Orthopoxvirus e da família Poxviridae, a doença é transmitida para humanos através do contato com indivíduos infectados ou materiais contaminados. De acordo com o Dr. Lucas Agra, médico infectologista da USP Ribeirão Preto e Supervisor Médico da Unidade de Emergência do HC de Ribeirão Preto, a mpox pode até ser transmitida através de gotículas, ou seja, através do ar. Mas esse contato necessitaria de muita intimidade, “a transmissão mais comum, mais poderosa e praticamente a única que a gente consegue documentar é através do contato mais íntimo, um contato mais prolongado.”, afirma o infectologista.
Enquanto na África, especialmente na Nigéria e no Congo, a mpox está endêmica e se espalha de maneira mais ampla, em outras partes do mundo, a transmissão da doença está fortemente associada ao contato sexual. Grande parte dos pacientes que contraíram mpox fora da região da África tiveram um contato com o vírus através das relações sexuais. O Dr. Lucas Agra, disse ainda que alguns fatores podem aumentar a chance dessas lesões estarem mais disseminadas: “o fator que mais importa para este cenário é o paciente ter a infecção pelo HIV, pessoas que vivem com a doença, ou seja, que estão infectadas com o vírus do HIV, tendem a ter lesões mais disseminadas, ou seja, facilitando ainda mais o diagnóstico da mpox.”
A Monkeypox, agora chamada mpox, foi renomeada para reduzir o estigma associado à doença e afastar a ideia de que os macacos são os responsáveis. Ainda assim, a doença pode causar confusão com outras doenças virais semelhantes, como a varicela (catapora). Ela se confunde muito com várias outras doenças virais que se manifestam através de vesículas, bolhas e feridas na pele. A maior preocupação é diferenciá-la da catapora, que raramente acomete as palmas das mãos, diferentemente da m pox. Além disso, na varicela as feridas surgem próximas ao rosto e descem pela extensão do corpo, se apresentando em diferente estágios que podem evoluir, como vesículas e pústulas. Em contrapartida, as lesões da mpox surgem na área de maior contato, como a região próxima ao umbigo ou a área genital e as lesões se encontram em estágios semelhantes. A pessoa infectada pelo vírus pode apresentar sintomas como dor no corpo, febre, mal-estar e dor nas articulações, incomuns na varicela.
Em relação ao tratamento da doença, não há nada específico de modo geral até o momento e o tratamento busca o controle dos sintomas gerais, como as lesões e a dor decorrente. “Este é o pior dos sintomas que envolvem a mpox, os pacientes se queixam muito de dor.”, afirma Agra. A principal medida de tratamento é controlar a dor e bloquear a doença assim que houver a menor suspeita de infecção pelo vírus. O médico infectologista reitera: “o ideal é que a gente interrompa essa cascata de transmissão para rastrear todas as pessoas que tiveram contato com este paciente, notifique as autoridades para que se inicie uma investigação e esse isole esse paciente para não transmitir para outras pessoas até que as lesões estejam totalmente cicatrizadas”.
Os pacientes imunossuprimidos, principalmente aqueles que possuem o vírus do HIV, podem ser mais gravemente afetados pela mpox, com sérias lesões e acometimento do Sistema Nervoso Central. Nesses casos, entrar com o medicamento antiviral Tecovirimat pode ajudar a bloquear a progressão da patologia e curar as lesões. No que diz respeito à vacinação, de acordo com o Ministério da Saúde, o foco da campanha é a proteção daqueles com maior risco de desenvolver formas graves da doença. Entre eles, profissionais de saúde que trabalham diretamente na área, pessoas vivendo com HIV e indivíduos que já tiveram contato com fluidos corporais de pessoas com suspeita da doença.
“No momento o mais importante é que qualquer pessoa que apresentar uma lesão diferente do habitual, principalmente após ter tido um contato íntimo com outra pessoa, procure um atendimento médico, um serviço de referência ou um especialista no assunto que estejam treinados para identificar a suspeita e encaminhar para o diagnóstico correto”, reforça o Dr. Lucas.