Na edição anterior tratamos do monumento em homenagem ao Monsenhor Joaquim Alves Ferreira, já esta edição é dedicada aos monumentos de cunho religioso existentes na instituição educacional mais antiga de Batatais em funcionamento, o Colégio São José, surgido em meados de 1905. O mais curioso é que o mesmo colégio possuiu o primeiro monumento da cidade, o que veremos mais adiante.
Atualmente existem dois monumentos dedicados ao patrono da Congregação Claretiana ou Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria – Santo Antônio Maria Claret: um dos deles, de corpo inteiro, está no pátio interno do prédio histórico e, o outro está localizado no jardim de entrada do Colégio São José de Batatais, defronte a Praça Padre Atílio Cosci (considerado o fundador da Escola Agrícola São José de Batatais, em 1905).
Agradecemos à equipe do Claretiano Batatais, em especial ao estimado Padre Sérgio Ibanor Piva, reitor da Congregação, e Ana Carolina Guimarães, bibliotecária supervisora e responsável pelo Memorial Claretiano, pelo imenso apoio em nosso trabalho de investigação e pesquisa.
SANTO ANTÔNIO MARIA CLARET (1807-1870)
Antes de tratarmos dos monumentos existentes atualmente, é bom ressaltar que já existiu pelo menos mais uma estátua atribuída – durante longos anos – a Antônio Maria Claret no Colégio São José de Batatais.
A estátua ficou instalada no pátio interno por mais de 50 anos no mesmo local onde está a atual, implantada em 2008.
“PRIMEIRO MONUMENTO QUE SE ERGUE EM BATATAIS – Com distincto número de pessoas, realizou-se no dia 4, ás 15 horas, no jardim do Gynnasio São José a cerimônia inaugural do belíssimo monumento que ali foi levantado ao beato Antonio Maria Claret, o grande missionário de Jesus.
Além da precisa alusão feita pelo revmo. Padre Sebastião Pujol sobre o acto, com palavras lucidas e cheias de fé, s. s. abordou alguns tópicos importantes da carreira daquele Santo Missionário, tendo, também, feito uso da palavra o sr. ElectroBonini e outros.Após o acto decorreu-se com muita alegria e música, foi servido aos distinctos convidados uma farta meza de finos doces com deliciosos chopps.”(GB, 08/07/1937)
Em 1937, a primeira estátua foi colocada num grande pedestal, construído especialmente para recebê-la. Foi considerado o primeiro monumento da cidade, inaugurado no dia 04 de julho, conforme anuário publicado pelo próprio Colégio São José e os jornais locais que circulavam na época. A mesma estátua, ao que tudo indica, esteve no pátio externo até o período próximo à sua substituição em 2008. Vale pontuar que em 1937, o Padre Antônio Maria Claret era considerado um beato, sua canonização ocorrerá em 1950.
“MONUMENTO AO BEATO ARCEBISPO CLARET – Revestiu-se de excepcional imponência o acto da benção e inauguração da imagem, que encima o monumento, que se ergue gracioso no meio do pateo interno do Gymnasio. Realizou-se esta cerimônia no dia 4 de Julho. Falaram, por ocasião, o Revmo. Pe. Reitor e os professores: Roberto S. Campos e ElectroBonini. Abrilhantou o acto uma banda local”. (Anuário do Gymnasio São José de Batatais – ano 1937, p.10 e 12 – Acervo MHPWL)
Porém, é comum escutarmos que anteriormente à antiga estátua de Antônio Claret teria existido no mesmo lugar uma estátua dedicada a Dom Bosco, pois os padres que administraram o Colégio São José de Batatais por longo tempo antes dos Claretianos eram da Congregação Salesiana. Então quer dizer que supostamente a estátua dedicada ao ‘Beato Arcebispo Claret’ não foi o primeiro monumento?
Depois de pesquisas chegamos a algumas conclusões. Vejamos: a 1ª delas é que a informação sobre a estátua de Dom Bosco procede ‘em partes’; a 2ª informação é que não existiu nenhuma estátua anterior a de 1937 no Colégio São José, pois, ao analisarmos fotos anteriores ao ano da instalação do 1º monumento em questão – o do pátio interno – não apresentam nem pedestal ou estátua no local.
Enfim, novamente, a pergunta: existiu ou não uma estátua de Dom Bosco no Colégio? Sim, existiu. Trata-se da mesma estátua que ficou exposta de 1937 a 2008 no pátio interno e que por longo tempo, acreditaram tratar-se da representação do Beato Antonio Maria Claret.
Essa situação perdurou até fins da década de 60, quando alguns membros ativos da Congregação Claretiana em Batatais, passaram a analisar com detalhada atenção a representação que figurava no pedestal e perceberam não se tratar exatamente do Santo Missionário Antônio Maria Claret.
Infelizmente, informações mais precisas sobre o monumento, como sua encomenda, se perderam com o tempo, porém os congregados notaram que a escultura não era tão fidedigna à imagem conhecida do fundador da Congregação Claretiana e mesmo alguns acessórios eclesiásticos não condiziam com os usados pelos missionários claretianos do século XIX.
Como exemplo: o tipo de barrete usado na escultura – espécie de cobertura para a cabeça – não era o usado entre os missionários espanhóis claretianos da época. Enfim, depois de vários estudos e discussões, a conclusão foi a que se tratava da representação da estátua de Dom Bosco e não do então Beato Antônio Maria Claret!
Confusão desfeita e em 2008, a estátua foi oficialmente substituída por uma representando o Santo Missionário Antônio Maria Claret e a antiga foi enviada para a Paróquia São João Bosco, em Ribeirão Preto, por se tratar, de fato, da imagem de Dom Bosco.
Vale ponderar que a presença de um monumento em homenagem a Dom Bosco na instituição não foi um problema, afinal, foram os Salesianos os fundadores do Colégio São José, lá nos idos de 1905 e aqui ficaram até 1910. Também foram as Irmãs Salesianas as responsáveis pela educação feminina e assistencial em Batatais até os idos da década de 70 do século XX, deixando, portanto, sua história e valores entre a população.
Breve hagiografia de Santo Antônio Maria Claret
Data e Local de Nascimento: 23/12/1807 em Sallent, comarca de Manresa, diocese de Vic, Província de Barcelona no norte da Espanha, à época das invasões napoleônicas francesas na Península Ibérica.
Filiação: Seus pais, João Claret e Josefá Clará tinham uma pequena oficina têxtil, no qual o jovem desde cedo trabalhava. O quinto filho de uma família de onze irmãos, sendo cinco homens e seis mulheres.
Estudos: desde muito novo aprendeu as primeiras letras numa escola local, dedicou-se ao desenho e, quando jovem, dá continuidade aos estudos em Barcelona visando o aprimoramento em questões têxteis. Sua vocação, porém, é o sacerdócio. Em 1829, ingressa aos 22 anos no Seminário de Vic.
Vida eclesiástica:
– 1834 é ordenado diácono na Igreja da Apresentação;
– 1835 é ordenado sacerdote em Solsona por Dom Frei João José de Tejadae é destinado à sua cidade natal, Sallent, onde celebra a sua primeira missa cantada. Enfrenta os desafios que a Igreja passava na época, vive junto ao povo atento aos desafios e às necessidades da população. Porém, seu desejo pulsava por uma evangelização sem fronteiras;
– 1839, após 4 anos de incansável dedicação às demandas espirituais e econômicas de seu povo, segue, para uma evangelização missionária apostólica, sua verdadeira vocação e realização de seus sonhos;
Ingressa no Noviciado da Companhia de Jesus (Jesuítas), mas depois de seis meses abandona por causa de uma enfermidade;
– 1840, por conta de uma enfermidade regressa à sua diocese de origem, onde prega durante oito anos. Porém, seu sonho ainda continua latente: ir a todos os cantos para edificar e propagar a fé cristã como missionário apostólico;
– 1843 publica o livro ‘Caminho Reto’, um livro de piedade, dos mais lidos na Espanha do século XIX;
– 1847 funda a Livraria Religiosa com Dom José Caixal e Dom Antônio Palau
Funda em Vic a Arquiconfraria do Coração de Maria;
– 1848 é enviado em missão para as Ilhas Canárias;
– Em 16 de julho de 1849, funda a Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria – Missionários Claretianos – junto com os padres Estevão Sala, Manuel Vilaró, José Xifre, Domingos Fábregas e Jaime Clotet. Propunham-se além da pregação, dedicarem-se ao apostolado escrito, à educação, à confissão e à orientação espiritual.
Pouco depois de ter fundado a Congregação, aceitou com obediência a nomeação de Arcebispo de Santiago de Cuba, com a determinação de ser um Arcebispo Missionário. Dedica-se às missões;
– Ficou em Cuba por seis anos, numa grande empreitada evangelizadora. Tudo o que aprendera aplicou ao seu serviço missionário, até por volta de 1857. Ainda nesse período colabora com Madre Antônia París de São Pedro na fundação da Congregação das Religiosas de Maria Imaculada (Missionárias Claretianas);
– 1857 recebe ordem real da Rainha Isabel II para ser seu confessor, regressando assim, à Espanha. Em Madri passou onze anos como confessor da jovem Rainha e, ao mesmo tempo, torna-se evangelizador da corte, da cidade e de toda a Espanha, pois tinha que acompanhar a soberana em suas viagens oficiais;
– 1858 funda a Academia de São Miguel para escritores e artistas;
– 1861/1862 escreve sua autobiografia;
– 1863 funda a Congregação das Mães Católicas;
– 1864 cria bibliotecas paroquiais e populares;
– 1865 vai a Roma e é recebido por mais de uma vez pelo Papa Pio IX;
– 1868 abandona a Espanha, ficando em Paris exilado junto com a Rainha; mesmo debilitado pelas enfermidades que o acometiam, ajudou na pastoral da ampla colônia latino-americana da capital francesa;
– 1869 vai a Roma e é recebido novamente pelo Papa Pio IX
Publica a vida de São Pedro de Nolasco, com o título ‘O Egoísmo Vencido’
Participa da abertura do 1º Concílio do Vaticano;
– 1870 continua sua participação no 1º. Concílio do Vaticano
Muda-se com seus missionários para Prades na França
Perseguido, refugia-se no Mosteiro Cisterciense de Frontfroide, no sul da França onde sofre seu 1º ataque de apoplexia
Sua trajetória terrena se finda em 24 de outubro de 1870. Data esta escolhida para comemorar o dia do Santo Antônio Maria Claret
Data do Falecimento, Local: Morreu, pobre e humilde, quando estava exilado na Abadia cisterciense de Fontfroide, perto de Naebona, sul da França, no dia 24 de outubro de 1870.
Local do Enterramento: Os rituais fúnebres foram celebrados com simplicidade como desejado por Antônio Maria Claret, na própria Abadia. Em 1897, seus restos mortais são trasladados para a Basílica da sua cidade natal em Vic.
Beatificação: em 1887 tem início o processo de beatificação em Vic. Em 1926, o Papa Pio XI proclama a heroicidade de suas virtudes e em 25 de fevereiro de 1934, o mesmo Papa Pio XI o beatifica como o ‘apóstolo incansável dos tempos modernos’.
Canonização: Foi canonizado Santo no dia 07 de maio de 1950 pelo Papa Pio XII – Santo Antônio Maria Claret. Em 1962, o Papa João XXIII insere sua festa no calendário da Igreja Católica, no dia 24/10.
OS MONUMENTOS ATUAIS DEDICADOS A SANTO ANTÔNIO MARIA CLARET NO COLÉGIO SÃO JOSÉ DE BATATAIS
PÁTIO EXTERNO
Data da inauguração do monumento externo: Por iniciativa de um dos congregados que viviam em Batatais foi inaugurado em 14/03/1995, ano em que se comemorou 100 anos da presença Claretiana no Brasil; 90 anos de fundação do Colégio São José de Batatais, 70 anos da presença Claretiana em Batatais e 25 anos das Faculdades Claretianas.
Sobre a escultura: A escultura gerou certo desconforto entre os membros da Congregação. Sua colocação não foi consensual, ao contrário, a Congregação não aprovou o busto, pois representava um Antonio Maria Claret sisudo e fechado, característica incompatível com a sua personalidade.
Tipo/Localização: Busto/Pátio externo do Colégio São José.
Sobre o autor do busto: Marco Antônio Cavallari, artista plástico e gráfico piracicabano, publicitário, desenhista, pintor, escultor, músico e escritor.
Nascido no dia 29 de outubro de 1948, Marco Antônio, iniciou em criança sua carreira artística como cantor, e se apresenta nos programas infantis de rádio de sua cidade natal. Além disso, já modelava figuras diversas em argila e desenhava muito.
Na adolescência, incentivado pelo pai músico e também artista plástico, começou a ministrar aulas de violão popular para as internas e freiras do Instituto Baroneza de Rezende e a produzir cartazes anatômicos didáticos, assim como ilustrações para publicações didáticas e decoração das paredes internas do mesmo Colégio das Freiras. Daí para frente, não mais parou mais com suas habilidades artísticas.
Na década de 60, cursou Artes e Desenho Artístico e Publicitário na Escola Panamericana de Arte e Desenho, Escultura e Cerâmica no Instituto ‘Elly KrayerKrauss’em São Paulo.
Nas décadas de 70 e 80, realizou e aprimorou seus estudos como desenhista em diversas áreas; como produtor de recursos áudio visuais didáticos; letrista; projetista de máquinas e equipamentos; fotógrafo amador; restaurador e maquetista.
A partir de 1973 passou a participar do Salão de Belas de Piracicaba e desde então já conquistou muitos prêmios.
Muitas de suas obras estão em coleções particulares, museus, cemitérios, hospitais, escolas, praças públicas no Brasil, Colômbia, EUA e Europa.
É autor de vários trabalhos e livros, entre eles: Aprenda a Desenhar, Desenhando”; “Trabalho de Reconstituição Craniométrica do Médico Nazista Dr. Joseph Mengele” e “Julgamento, Martírio e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo” (documento realizado com base nos estudos realizados no Santo Sudário de Turim).
Retirado do site: https://www.mcavallari.com.br/blog/publicacao/821118/o-artista-pl-stico
PÁTIO INTERNO
Data da inauguração do monumento interno atual: 24/10/2008, ano em que se comemorou o Bicentenário do nascimento de Santo Antônio Maria Claret (1807-2008).
Sobre a estátua: Estátua em bronze de Santo Antônio Maria Claret missionário e educador, cópia de uma estátua em tamanho real de madeira maciça feita pela mesma escultora, Marta Moroder, e que está em exposição no Memorial Claretiano de Batatais. Santo Antonio Maria Claret segura em uma mão a cruz e em outra a bíblia. Esta estátua nos dá a ideia de movimento, pois S. Antônio Maria Claret está com um pé à frente e sua ‘capa’ está levemente levantada na altura do peito, como se o vento estivesse batendo. Representando, assim, uma Igreja caminhante, em saída e missionária.
Localização: Pátio interno do Colégio São José.
Sobre a autora da escultura: Marta Moroder (? – 2020) foi uma Missionária ClaretianaR.M.I (Religiosas de Maria Imaculada), de origem argentina, filha de Leo Moroder, artista plástico. Ficou conhecida como escultora de estátuas de Cristo, da Virgem Maria e de Santos espalhadas pela América Latina e Europa. Morreu em Córdoba, Argentina em maio de 2020.
Para conhecer outros trabalhos da missionária Marta Moroder: http://morodertallaspinturas.blogspot.com/p/51-virgen-ofreciendo-el-nino-1.html