Por LS e AB
Para retomar nossos estudos sobre Monumentos: Esculturas, Bustos e Painéis da cidade de Batatais selecionamos a obra O Trabalhador que representa todo o esforço cotidiano dos trabalhadores braçais, elaborada pelas mãos do renomado artista plástico Bassano Vaccarini (Milão, Itália 1914 – Altinópolis, SP 2002).
Essa escolha é uma homenagem aos trabalhadores e trabalhadoras, anônimos e invisibilizados pela história oficial, que diariamente ajudam a erguer esse país e que são, muitas vezes, excluídos de toda a ordem de coisas.
Ao construir um painel com este tema social, os idealizadores do projeto e o artista deram representatividade a esta camada da população pouco prestigiada e valorizada.
PAINEL ‘O TRABALHADOR’
O painel em homenagem aos trabalhadores de Batatais foi inaugurado no 1º de Maio – Dia do Trabalho – em 1981. A obra aborda o trabalhador braçal, o artesão e o seu merecido lazer, focado na recreação e no desporto.
Data da inauguração da escultura: 01/05/1981
Local: Centro de Lazer Ary Braga Rezende – Vila Cruzeiro
Nome do autor da escultura: Bassano Vaccarini (1914 – 2002). O artista trilhou pela pintura, escultura, fotografia, teatro e cinema experimental. Deixou um imenso e diversificado legado com a força e representatividade de suas obras, como também de sua presença carismática e combativa. Além de artista, foi educador, trabalhando como professor do ensino básico e universitário, inclusive em Batatais, no antigo Ginásio Vocacional Cândido Portinari. As obras de Bassano Vaccarini são de grande valor cultural, de cunho modernista e, com temas sociais, mudando paradigmas.
Sobre o escultor: Bassano Vaccarini nasceu em San Colombano al Lambro, Lombardia, Itália, em 14 de agosto de 1914, início da 1ª Guerra Mundial (1914-1918). Desde criança, demonstrava sua predileção pelas cores e formas, ao fazer desenhos principalmente com carvão nas paredes de sua casa paterna. Admirava durante horas a arquitetura religiosa e esculturas em bronze de sua cidade natal. Cedo ainda, por volta dos sete anos, tornou-se ajudante de pintor de paredes.
No início da década de 30, foi seduzido pelas idéias do movimento fascista liderado por Benito Mussolini, de cunho conservador totalitário e nacionalista, como a maioria dos jovens italianos da época.
Com o tempo, suas habilidades artísticas ficaram evidenciadas, o que o levou a cursar: pintura, arte escultórica e gravura no Liceu Artístico da Academia de Belas Artes de Brera, Milão (1930).
Em 1934, continua seus estudos no Instituto de Artes Decorativas de Monza, sendo escolhido
o melhor escultor jovem do ano de 1935, recebendo o prêmio ‘Tantardini’.
Como artista, Vaccarini foi atraído pelo movimento artístico conhecido como Futurismo, iniciado por Felippo Tomaso Marinetti, que exaltava a modernidade e o que ela representava. Com isso, seus adeptos faziam culto às máquinas, à velocidade, à tecnologia, o rompimento com o arcaico e dos meios tradicionais de expressões artístico-literárias.
“A guerra foi um fato marcante na memória de Vaccarini. E vai estar presente de várias maneiras na sua vida. Ele viveu todo o processo da guerra ao lado de sua formação artística. Em 1934, a vida militar começou a se misturar com a vida artística: iniciou o Curso Escultura e também o preliminar de oficiais; dentro da própria Academia havia uma disciplina chamada Cultura Militar. Em 1935, nos fins de semana e nas férias, os estudantes faziam preparo militar; ele vai para a Cavalaria em Pinerolo, e o jovem que sonhou ser artista acaba na guerra como paraquedista. Fugiu para Suíça. Boa parte de suas ilusões e da juventude ficaram perdidas nos anos da guerra.” (CERIBELLI, 2021, p.42 apud CERIBELLI, 1995)
Com a entrada da Itália na guerra, Vaccarini, ainda favorável às idéias fascistas, é convocado em 1941, como militar paraquedista. Em seu primeiro combate, sua divisão foi mandada para a África, mas em decorrência de problemas de saúde acaba não indo para a linha de frente, o que o ‘livra’ da morte certa, pois segundo o próprio artista, praticamente todos os colegas morreram. Passados dois anos da guerra, Vaccarini mesmo como soldado não sai em combate. Vai aos poucos abandonando suas convicções fascistas e torna-se um combatente ferrenho dos ideais totalitários da época.
Em 1943, foge da Itália e vai para a Suíça, onde aproveita e estuda, por pouco tempo, na Escola de Belas Artes de Genebra. Algumas de suas obras desse período são La resurrezione di Lazzaro, Littoriali dell’ Arte, Composition, Famiglia.
Em relação ao fascismo, Vaccarini evitava falar, por ter percebido seu grande equívoco: seus ideias se chocavam com os horrores da guerra. Sua nova percepção e transformação perante as mazelas humanas o transformaram num homem ativo, aberto, humanitário, combativo e libertário.
Com a Itália devastada pela guerra, Bassano Vaccarini encontrou outro local para viver de sua arte, por meio de um livreto com várias fotografias de um país latino-americano, o Brasil. Acompanhado de um amigo, chegou ao Rio de Janeiro, capital federal, em 1946, em busca de um recomeço para participar de exposições nacionais.
Mudou-se para a cidade de São Paulo, onde morou por volta de 10 anos. No primeiro ano de sua estadia no Brasil, mesmo com suas participações em mostras e salões, seu trabalho não foi reconhecido.
Em 1947, começa a ganhar destaque e alguns prêmios vieram. Esse contexto, entre as décadas de 40 e 50, fez com que Vaccarini pudesse trabalhar como cenógrafo, dirigir peças de teatro, produzir filmes, contemporanizar a iluminação junto com alguns renomes da época, como Paulo Autran, Cacilda Becker, Walmor Chagas, Ziembinski, Franco Zampari, Gianni Ratto, no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e na Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Lecionou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAU) de São Paulo.
Em 1956, foi convidado pela municipalidade da cidade de Ribeirão Preto (SP) para organizar as comemorações do centenário da cidade e revitalizar alguns espaços públicos. Acabou por fixar esidência em Ribeirão Preto. Daí em diante, não parou de produzir suas obras e sempre a conhecer outros suportes e mídias. Lecionou na Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) da qual foi cofundador do Núcleo de Artes Plásticas em 1957 e que mais tarde passou a pertencer à mesma universidade em 1966.
Destacou-se como pioneiro na animação para cinema no Brasil com o Centro Experimental de Cinema da Escola de Artes de Ribeirão Preto (CEE – 1959-1962), que passou a ser um local de referência para artistas plásticos realizarem experimentações em animação.
Lecionou numa escola experimental, o Ginásio Vocacional em Batatais, de 1962 até o início dos anos 70.
Nas três últimas décadas de sua vida, mesmo doente, produziu obras monumentais em Altinópolis, Ribeirão Preto e Batatais, com uma rotina frenética de trabalho, não abandonando suas pinturas a óleo somada a uma nova paixão: o uso do computador para produções artísticas.
O artista viveu por volta de 50 anos em nossa região, intercalando períodos de moradias entre as cidades de Ribeirão Preto e Altinópolis.
Suas obras estão espalhadas por diversos parques, praças, edifícios públicos e particulares, pelo interior do estado de São Paulo. Faleceu em Altinópolis, em abril de 2002, aos 87 anos, ao lado da esposa e da filha.
PARA QUEM DESEJA CONHECER UMA POUCO MAIS DO ARTISTA E SUAS OBRAS
Sobre Bassano Vaccarini, os leitores irão encontrar o livro BASSANO VACCARINI – Vida e Obra, lançado em 2021, da autora batataense, Daici Ceribelli Antunes de Freitas.
A dissertação de mestrado de Giovanna Isis Casatro Alves de Lima, BASSANO VACCARINI: uma interpretação da crise e do caminho de um intelectual, defendida em 2019 no Departamento de Ciências Sociais da Unesp/Araraquara. (Disponível online em: https://agendapos.fclar.unesp.br/agenda-pos/ciencias_sociais/5049.pdf)
O livro BASSANO VACCARINI – Além do Moderno, de 2014, das autoras Lilian Rodrigues de Oliveira Rosa, Adriana Silva e Maria de Fátima da Silva Costa Garcia de Mattos. Ribeirão Preto: IPCCIC – Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais, 2014. Coleção Biografias, 2. (Disponível on line em: https://8638ed1a-f462-4bf2-aebe-b172777a408f.filesusr.com/ugd/38bc56_6b4128eefdc043ff9570564496a214c8.pdf)
Em nossa coluna Giro Histórico e Cultural, temos a pesquisa: O TEATRO MUNICIPAL DE BATATAIS E BASSANO VACCARINI, 20/03/2020, disponível em https://jornaldacidadebatatais.com.br/o-teatro-municipal-de-batatais-e-bassano-vaccarini/
BASSANO VACARINI EM OUTRAS MÍDIAS
A Animação de Lucchetti e Vaccarini
Ano: 2017
Duração: 24 min
Direção: Mauricio Squarisi
https://www.youtube.com/watch?v=vfhAmb8gKvE
Todas Dimensões de Bassano Vaccarini – Dentro de um realismo mágico – DVD
Ano: 2010
Duração: 50 min
Direção: Hossame Nakamura
Produção: Pseudo Vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=0ooHH2wQNCY&t=90s
Porta Retrato: Bassano Vaccarini
Ano: 2002
Duração: 2 min
Produção: TV UNAERP