Seguimos nossa pesquisa pela cidade de Batatais, com o olhar voltado aos bustos, esculturas e monumentos por ela espalhados e, indiscutivelmente podemos reparar que grande parte dos mesmos são de homens representativos de uma classe social privilegiada, e que se tornam memoráveis na paisagem, através da confecção dos bustos em suas homenagens.
Nesta edição, falaremos dos bustos de dois médicos: Paulo Scatena e Jorge Nazar. O primeiro está localizado na praça interna do Centro de Cultura Física de Batatais, ou seja, em uma área aberta de um espaço privado. Já o busto do Dr. Jorge Nazar está localizado na praça que também leva seu nome, mas que anteriormente era denominada de Praça João de Andrade, fazendeiro, político e ex-prefeito de Batatais no início do século XX.
Recorrendo à história da Arte, estudamos que a tradição pela feitura de bustos provém dos etruscos que ocuparam a região da Península Itálica entre os anos de 1200 a.C. e 700 a.C., e que esculpiam bustos para representar seus governantes e líderes, principalmente em bronze.
Posteriormente, na mesma região, os artistas da Roma Antiga tinham a tradição de esculpir bustos dos patriarcas das famílias que cultuavam a memória de seus antepassados, deixando-os expostos nas residências como representação típica do patriarcado que moldava aquela sociedade.
Segundo a tradição romana, o pai de família tinha o poder sobre todos os bens e mesmo sobre a vida dos membros de sua casa. Assim, os bustos desses homens deveriam ter uma aparência austera e severa e estar em local de destaque na moradia.
Nos dias atuais, os bustos saíram dos espaços privativos das residências e ocupam os espaços públicos das cidades.
Em relação aos dois bustos que trataremos nesta edição, outra coincidência entre Paulo Scatena e Jorge Nazar é que ambos faleceram em 1982, Paulo com 60 anos e Jorge com 77 anos.
Para saber mais sobre cada um desses personagens, estamos recorrendo ao acervo do Museu e também aos acervos particulares das famílias, às quais agradecemos pela atenção e paciência.
Agradecemos especialmente a família de Paulo Scatena, por meio de suas filhas Heloísa e Sandra, que em prol da memória de seus familiares e conscientes da importância da Família Scatena para o município de Batatais acabam de fazer outra importante doação ao Museu Histórico e ao Centro de Documentação Cap. Altamira Pereira Valadares de diversos documentos oficiais, fotográficos e alguns objetos relacionados ao homenageado, seus familiares e à época em que viveram.
PAULO SCATENA (1922-1982)
Data de Nascimento, Local: 09/janeiro/1922, Batatais/SP. Recebeu o nome de Paulo em homenagem ao avô paterno.
Filiação: Filho de Augusta Testa (1881-1947) e do patriarca italiano, Cav. Arturo Calisto Scatena (1878-1967), chefe de tradicional e numerosa família radicada em Batatais.
Irmãos de Paulo: Jayme (casado com Nair Yole), Stella (casada com Adelino Simioni), Albertina (casada com Nicolau Liparelli), Elza (casada com Gustavo Simioni), Leonor (faleceu solteira), Archimedes (casado com Ida Biagi), Lauro (casado em 1ª núpcias Maria Cecília Niemeyer e em 2ª com Maria das Neves), Elma (divorciada de Carlos Collini Netto), Marina (casada com Oto Mello), Oswaldo (casado com Flora Pereira Lima), Ézio (falecido aos 21 anos em 1935, na França, solteiro, vitimado pela hanseníase).
Antecedentes familiares: Seus avós paternos foram Paolo Scatena e Stella Lovi e avós maternos, Sesto Testa (~1850 – 1918) e Francisca Vanelli Dell’Era (~1860 -1926).
Estado civil e filhos: Casado com Gilka Pereira Vianna(1) em 18 de maio de 1950 na Capela São José. Filhos: Roberto (1953–1985), Heloísa (1957), Sandra (1959) e Paola (1962–1989).
Data de Falecimento, Causa, Local: Infarto, 09/outubro/1982, Ribeirão Preto/SP.
Local enterramento: Cemitério Municipal Senhor Bom Jesus no Mausoléu da Família Scatena, Batatais/SP.
Carreiras: militar reformado, médico, banqueiro, administrador de empresas, industrial, comerciante e político.
– Realizou o Curso do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) entre os anos de 1939 a 1941. Em junho de 1942 tornou-se 2º Tenente de Infantaria para o 1º R.I. Regimento Sampaio. Em 1943 tornou-se aspirante a Oficial de Arma da Infantaria.
Em 1944 é promovido ao posto de 1º Tenente do 1º Pelotão do Regulamento Sampaio e Cia. de Obuses, exercendo diversas funções. Em setembro do mesmo ano, embarcou com o 2º Escalão no navio ‘General Mann’ (pertencente à Marinha de Guerra dos USA) sob o comando do General Oswaldo Cordeiro de Faria, chegando a Nápoles (Itália) em 06 de outubro de 1944 a fim de combater as forças do Eixo na 2ª Guerra Mundial (1939-1945).
Em 7 de outubro do mesmo ano, o General Cordeiro de Farias, Comandante do Grupamento, aprovou o seguinte elogio a Paulo Scatena, feito pelo Tenente Coronel Ademar de Queiroz, Chefe dos Encarregados de Compartimentos: “Em obediência à ordem verbal de V. Excia., é com o máximo prazer que cumpro com o dever de participar a V. Excia. que o 1º Tenente Paulo Scatena, desempenhou, durante a viagem do transporte do 2º Escalão da Força Expedicionária Brasileira, do Rio de Janeiro até o porto de Nápoles, a bordo do navio ‘Gen. W.A. Mann’, as funções de auxiliar de compartimento, sempre se conduzindo no cumprimento de tão árdua e trabalhosa incumbência, com boa vontade, dedicação e tato, revelando em todas as oportunidades o extremo interesse pelo serviço, inexcedível zelo e a maior preocupação em relação à disciplina e ao conforto da tropa, bem assim, à conservação e limpeza do navio a seu cargo. Graças à assistência ininterrupta e ao interesse pelo serviço manifestado por esse oficial, de um lado, e, de outro, ao alto grau de disciplina e compreensão do dever da tropa, o serviço de compartimento correu sempre debaixo da mais completa ordem. Por todas essas razões e conceitos que acabo de externar a V. Excia., o oficial em apreço se tornou credor dos meus melhores agradecimentos e louvor.”
– Fez toda a Campanha como Infante do Regimento Sampaio sob o comando do Coronel Aguinaldo Caiado de Castro. Cooperou no ataque ao Monte Castelo e La Serra, fazendo parte da artilharia de apoio geral. Tomou parte nos ataques para conquista de Montese, Montebufone, Montelo e Rota 880.
Desde que ocupou sua primeira posição em Savignano, na noite de 22 de novembro de 1944 até 23 de abril de 1945, em Maitoreli, não deixou de estar em posição um só dia, cumprindo missões.
A resistência no combate de La Serra foi uma das passagens mais dignificantes e de maior emoção vividas pela FEB no teatro de operações da Itália e rendeu a Paulo Scatena a condecoração com a Cruz de Combate de 1ª Classe.
É citado no artigo do Coronel Eduardo de Ulhôa Cavalcanti na Revista História Oral do Exército sobre a 2ª Guerra Mundial, publicado pela Biblioteca do Exército, em 2001:
“Enfatizo, também, o desempenho de dois tenentes de Infantaria, um da ativa – Tenente Caiado –, outro, R2 – Tenente Paulo Scatena –, este estudante de Medicina, 4º ano, convocado como infante. Eram perfeitos conhecedores das atribuições de um subalterno em Subunidade daquela natureza, graças ao fato de a ela pertencerem desde sua fase de organização e aprestamento. (…)
Quero, ao terminar meu depoimento, desejar às novas gerações que tenham o mesmo invulgar espírito de sacrifício, bravura e amor à Pátria daqueles milhares de integrantes da FEB. Em particular, faço referência aos integrantes de minha Companhia, todos valorosos e brilhantes. O Cap Serpa, da estirpe dos Serpa, dispensa comentários. Foi quem me orientou com seus exemplos para o futuro de minha carreira; com ele tornei-me um fã da Artilharia. Destaco também o Tenente Caiado e o 2º Tenente R/2 Paulo Scatena, médico na vida civil e chefe da Central de Tiro, durante a guerra. Todos foram excelentes em combate. ” (CAVALCANTI, 2001, p. 217 e 220)
– Foi promovido pelo exército brasileiro, de 1º tenente à capitão. (OJ, 11/07/1947)
– Após guerra, deixou o Serviço Militar. Além da curta e brilhante carreira militar, Paulo Scatena, concluiu o curso de medicina na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil no Rio de Janeiro. Especializou-se nas ‘doenças de mulheres e partos’ embora tenha se dedicado pouco a carreira médica. Atendia em Batatais à rua Coronel Joaquim Alves, 12.
– Sempre trabalhou na administração do Banco Artur Scatena (BAS) junto à família.
– Era um erudito, apreciava todo tipo de arte. Falava francês, italiano e inglês fluentemente.
– Foi um grande incentivador do esporte batataense juntamente com seu irmão Oswaldo Scatena. Em 1954, ano da inauguração do estádio de futebol do Batatais Futebol Clube, seu irmão, Oswaldo Scatena, foi homenageado com o nome do estádio e Paulo Scatena com o nome da ‘Taça Paulo Scatena’ no campeonato daquele ano. Neste mesmo ano foi eleito presidente da Sociedade Recreativa 14 de Março.
– Sua dedicação e paixão pelos esportes estiveram direcionadas ao Centro de Cultura Física de Batatais (CCFB), a conhecida ‘Piscina’; onde foi presidente por quase 19 anos consecutivos, entre 1954 a 1963, sempre com o apoio incansável do amigo Júlio Jorge Abeid Filho. É de suas gestões a construção a piscina olímpica, o incentivo ao tênis e ao futebol de salão, entre outros.
– Visionário e empreendedor, em 1957, foi um dos fundadores, junto com mais amigos da Associação Batataense de Ensino, a ABE, sendo seu 1º. Diretor.
– No início dos anos 60 foi vereador pela União Democrática Nacional (UDN) em Batatais/SP.
– Gradou-se em administrador de empresas em 1962 pela UNAERP – RP/SP.
– Mudou-se definitivamente com a família para Ribeirão Preto em 1964, onde continuou a trabalhar como administrador bancário e concomitante ao trabalho, manteve alguns empreendimentos como uma fábrica de vassouras e a manutenção da antiga papelaria Beschizza, rebatizada de Papelaria Scatena ao tornar-se propriedade de Paulo Scatena.
Data da inauguração da escultura: 14/09/1958. Segundo informações, o busto foi uma homenagem, em vida, do Rotary Clube de Batatais ao ilustre batataense.
Localização: Centro de Cultura Física de Batatais, Avenida Quatorze de Março, 114 – Centro
Autor da escultura: Arlindo Castellani de Carli
Sobre o escultor: Castellani nasceu em São Paulo em 1910 e faleceu na mesma cidade em 1985. Foi pintor e escultor formado pelo Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo/LAOSP, em 1925; foi aluno de José Maria da Silva Neves, Enrico Vio e Avelino Nagera.
Trabalhou, em 1928, como aprendiz de modelador na Casa Francesa e na Oficina Nicola & Sala, em Santos, São Paulo. Entre 1938 e 1940, viveu em Ribeirão Preto/SP, onde teve contato com a obra do pintor Armando Balloni (1901 – 1969), pela qual é fortemente influenciado.
Algumas notas: (1) Gilka Pereira Vianna, nasceu em Batatais/SP no dia 10/03/30 e faleceu aos 90 anos no dia 28/03/2020 em Ribeirão Preto/SP. Gilka era de tradicional família batataense, filha do médico Carlos Pereira Vianna e Helena Simioni Vianna.