Prestimosos leitores e leitoras, nesta edição falaremos dos monumentos tumulares dando continuidade ao tema dos monumentos históricos que estão no eixo formado entre o Hospital Major Antônio Candido e o Cemitério Municipal Senhor Bom Jesus, ao qual podemos denominar de ‘rua entre a vida e morte dos batataenses’.
Por este tempo em que estamos escrevendo sobre esses suportes de memória, vocês já refletiram sobre quais são os monumentos históricos que formam o conjunto de memórias nos cemitérios da cidade?
Os dois monumentos históricos que escolhemos para exemplificar nossas reflexões sobre os monumentos projetados para serem colocados em lugares voltados para a memória estão localizados no Cemitério Municipal Senhor Bom Jesus, também conhecido como Cemitério Paroquial ou Cemitério dos Ricos. O primeiro monumento é um busto de uma pessoa que residiu em Brodowski, na época, distrito de Batatais, o Capitão Francisco Alves Fagundes, e que nos chama a atenção pela sua representação escultórica em mármore de Carrara, além de sua altura e localização na rua central do cemitério. Já o outro monumento é uma alegoria do homem trabalhador, escolhida como um símbolo a eternizar a memória do batataense Gustavo Simioni (homenageado também com um busto no Clube 14 de Março, já tratado em outra edição).
Trazemos assim um exemplo de um monumento histórico, o busto do Capitão Francisco, que enquanto existir, manterá viva a memória deste personagem no cemitério e o monumento histórico do túmulo de Gustavo Simioni, que mantem vivo não apenas a memória de sua existência como também a ideia de que tudo que ele conquistou foi fruto de seu trabalho.
Vale lembrar, que quando coisificamos a homenagem na forma de um busto, conferimos importância e o desejo de garantir sua lembrança ao longo do tempo. É salutar compreender que nenhuma imagem é um ‘retrato puro’ da pessoa ou evento que ocorreu.
Após esta breve conceituação, damos continuidade ao passeio e identificação dos monumentos históricos da cidade. Nesta edição trataremos dos bustos existentes no Cemitério Senhor Bom Jesus de Batatais, SP.
Gostaríamos de indicar que foram providenciais para o êxito dos dados biográficos trazidos, as pesquisas realizadas pelo Projeto História Vale do Rio Pardo, coordenado pela pesquisadora Lucila Reis Brioschi nas décadas de 80 e 90, doadas ao Museu, no ano de 2023, por intermédio do historiador e advogado Dr. Sérgio Amaro.
Numa próxima oportunidade, discorreremos sobre a importância deste vasto acervo de pesquisa documental.
CAPITÃO FRANCISCO ALVES FAGUNDES (1838-1900)
Data e Local de Nascimento: São José dos Campos, 17/12/1838
Filiação: Filho do Capitão Francisco Alves Fagundes e Ana Teresa Pereira de Mello. Irmãos de Francisco Alves Fagundes Filho: Maria Alves de Mello, Domiciano Fagundes, Luís Fagundes e o coronel Lúcio Eneas de Mello Fagundes
Estado Civil e filhos: não obtivemos informações
Data e local do Falecimento: 18/01/1900, Brodowski/SP(1) – 62 anos
Causa e local de enterramento: Vítima de Congestão, Cemitério Senhor Bom Jesus (antigo Cemitério Paroquial), Batatais/SP
Histórico: Procedente da região de São José dos Campos, onde atuou ativamente na vida política como vereador, chegando a ocupar o cargo de vice-presidente daquela Câmara em 1887. Foi presidente do diretório do Partido Republicano e depois do Partido Dissidente Republicano, por volta de 1890(2). Entre 1876 e 1880 foi nomeado Juiz Municipal e de Órfãos de São José dos Campos(3).
Na região de Batatais foi um abastado proprietário de terras e escravos. Dono da Fazenda Taquaral. O falecido era um dos membros da Família Fagundes, que teve importante participação na história da formação de Brodowski.
O Capitão Francisco Alves Fagundes era um dos irmãos de Lúcio Eneas de Mello Fagundes, considerado fundador da cidade de Brodowski. O Coronel Lúcio Eneas, fazendeiro e político fez a doação, em 1894, de uma parte de suas terras da Fazenda Belo Monte para a construção de uma estação ferroviária da Companhia Mogiana, posteriormente denominada de Estação de Brodowski e, com o tempo o distrito cresceu em seu entorno(4).
Curiosidade: A missa de 7º dia do Capitão Antônio Fagundes foi a primeira celebração religiosa realizada na Capela Santa Cecília em Brodowski e segundo consta teve a participação de mais de 500 pessoas.
Sobre o busto: Feito em mármore de Carrara. Não temos informações sobre o escultor ou a empresa que o confeccionou. Não obtivemos dados sobre a colocação do busto na sepultura. É pouco provável que a escultura seja fidedigna à aparência do falecido, sendo apenas uma representação.
Localização: Cemitério Senhor Bom Jesus (antigo Cemitério Paroquial), Batatais/SP. Na rua central do cemitério, do lado esquerdo de quem entra.
Algumas Notas:
(1) A Penna (Batatais), 29/12/1899.
(2) A Província de São Paulo, de 06/02/1890: SÃO JOSÉ DOS CAMPOS – O diretório do Partido Republicano e o Capitão Fagundes, in: https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/18900206-4461-nac-0002-999-2-not e na de 11/01/1887, nota sobre a posse dos vereadores de São José dos Campos, in: https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/18870111-3537-nac-0002-999-2-not/busca/Francisco+Alves+Fagundes
(3) A Província de São Paulo, 25/02/1876, in: https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/18760225-330-nac-0001-999-1-not.
(4) CORREA, Ariovaldo. Brodowski — Minha terra e minha gente. São Paulo: Pannartz, 1986.
GUSTAVO SIMIONI (1901 – 1946)
Data de Nascimento, Local: 28/08/1901, Batatais/SP
Filiação: Filho de Antônio Simioni e Angelina Mei Simioni, ambos imigrantes italianos.
Estado Civil: Casado com Elza Scatena em janeiro de 1922. O casal não teve filhos.
Data de Falecimento, Local: 08/10/1946, São Paulo/SP – 46 anos
Causa, Local enterramento: Tumor hipófise, Cemitério Municipal Senhor Bom Jesus (antigo Cemitério Paroquial, também conhecido como Cemitério dos Ricos), Batatais/SP
Profissão: A partir de 1929, efetivou-se como Oficial do Registro Geral de Hipotecas e anexos da Comarca de Batatais.
Dados do homenageado: Foi um entusiasta do progresso cultural, esportivo, automobilístico e político de Batatais. Correspondente do Correio Paulistano na década de 20; idealizador e fundador da Sociedade Recreativa 14 de Março (1929); membro de várias diretorias do Tiro 26; participou da 1ª comissão para construção do Instituto de Proteção e Amparo da Infância de Menores (Lar da Infância) em 1938; presidente do Batatais Futebol Clube, à época do ‘Quadro de Ouro’; presidente do Centro de Cultura Física de Batatais (CCFB); apoiador das reformas da Igreja Matriz e da Conferência São Vicente de Paulo; membro fundador do Batatais Tênis Clube. Exerceu em 1945 o cargo de prefeito interino de Brodowski.
Data da inauguração da escultura: após 1946, não temos a data exata
Autor da escultura: desconhecido
Localização: Cemitério Municipal Senhor Bom Jesus, Batatais/SP
Curiosidade: A escultura escolhida para o túmulo de Gustavo Simioni é uma alegoria que pode ser interpretada como uma representação do homem que deu seu suor e força para conquistar suas riquezas. Na imagem temos um homem descalço, sem camisa, segurando um martelo com a mão esquerda e apoiando seu rosto na mão direita, como se estivesse pensativo sobre sua vida e trabalho. Se levarmos em consideração que o Cemitério Senhor Bom Jesus também é chamado popularmente de ‘Cemitério dos Ricos’, nos faz supor que a família de Gustavo Simioni quis deixar claro de onde veio sua riqueza.
Enquanto curiosidade, apresentamos outras alegorias famosas de esculturas dedicadas ao trabalho.