A médica Ana Paula Ghedini Lopes, especialista em reumatologia pelo Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, trabalha na área há 15 anos, sendo atualmente docente no curso de medicina da UniFacef e atendendo em consultório próprio na Clínica MedVision, de Batatais. Em entrevista concedida nesta semana, a profissional deu detalhes sobre a fibromialgia, um problema bastante comum, sendo muito frequente o motivo de consultas na sua especialidade.
JC – Inicialmente, o que vem a ser a fibromialgia?
Drª Ana Paula: a fibromialgia é uma síndrome clínica que se manifesta com dor no corpo todo, principalmente na musculatura. A dor é migratória, ou seja, como se andasse por todo o corpo. Junto com a dor, a fibromialgia cursa com sintomas de fadiga (cansaço), sono não reparador (a pessoa acorda cansada) e outros sintomas como alterações de memória e atenção, ansiedade, depressão e alterações intestinais. Não se sabe exatamente o que causa a Fibromialgia. Mas percebe que muitas vezes os sintomas começam após um evento inesperado na vida do paciente, ou após um trauma físico ou psicológico.
JC – Quais as características dessa dor e quanto ela interfere na rotina de vida dos pacientes?
Drª Ana Paula: as dores da fibromialgia geralmente são contínuas. Podem ser descritas como se tivessem “dando pontada ou fincada”, com alguns momentos de melhora e piora. E ainda, muitos queixam de sensação de formigamento. Pelo fato de serem constantes, as dores podem interferir nas rotinas só pacientes, com diminuição de suas atividades laborais. Além das dores, o que atrapalha muito a rotina do paciente com fibromialgia é que o sono não descansa, ou seja, o paciente acorda cansado, indisposto, como se não tivesse dormido. Além disso, os sintomas de ansiedade e depressão também contribuem muito para a diminuição da qualidade de vida dos pacientes.
JC – Porque é um problema ignorado pela sociedade?
Drª Ana Paula: como o paciente com fibromialgia não tem nenhuma deformidade, e as pessoas não podem “ver” as dores que o paciente sofre, e também, não aparece em nenhum exame complementar (de sangue ou de imagem), muitas pessoas ignoram o quanto essa condição afeta o paciente. E na verdade, a sociedade precisa conhecer e entender que a Fibromialgia afeta muito a qualidade de vida dos pacientes. Portanto, é fundamental o acolhimento dos pacientes pelos familiares, amigos, colegas de trabalho e profissionais de saúde.
JC – Quando a dor está localizada em um único ponto, o que a faz suspeitar de fibromialgia?
Drª Ana Paula: na verdade, por definição, a fibromialgia se apresenta com dores difusas. Habitualmente, o paciente tem dificuldade de definir quando começou a dor, se ela começou de maneira localizada que depois se generalizou ou que já começou no corpo todo. O paciente sente mais dor no final do dia, mas pode haver também pela manhã. A dor é sentida “nos ossos” ou “na carne” ou ao redor das articulações.
JC – A doença afeta mais as mulheres? Isso é verdade?
Drª Ana Paula: de cada 10 pacientes com fibromialgia, sete a nove são mulheres. Não se sabe a razão porque isto acontece. Não parece haver uma relação com hormônios, pois a fibromialgia afeta as mulheres tanto antes quanto depois da menopausa.
JC – Quais as formas de tratamento?
Drª Ana Paula: o tratamento da fibromialgia é multidisciplinar, ou seja, precisa ter a participação de diversos profissionais da saúde, como o Reumatologista, educador físico ou fisioterapeuta, psicólogo, às vezes psiquiatra e nutricionista. Dividimos o tratamento em medicamentoso e não medicamentoso. O tratamento da dor e outros sintomas da fibromialgia geralmente não melhoram com o uso de analgésicos simples ou antinflamatórios, frequentemente prescritos por médicos que não estão familiarizados com a doença. Os medicamentos utilizados são os antidepressivos, relaxantes musculares e os neuromoduladores. Todo individuo acometido pela fibromialgia obrigatoriamente deve praticar alguma modalidade de atividade física. Em geral o paciente tem a liberdade de escolher aquela na qual se ajusta melhor. A preferência deve ser dada a atividades aeróbicas, como andar, nadar, mas a hidroginástica, alongamento ou fortalecimento muscular deve ser apoiado pois algum benefício com estas modalidades de atividade física também é observado.
JC – Fibromialgia é uma doença crônica. Como costuma evoluir no decorrer dos anos?
Drª Ana Paula: apesar da fibromialgia ter evolução crônica, não é uma doença que causa deformidades, sequelas ou incapacidades. Portanto, o objetivo do tratamento é proporcionar e garantir qualidade de vida ao paciente. É isso é bem possível, principalmente quando associamos o tratamento medicamentoso, com exercícios, psicoterapia e alimentação adequada
JC – Qual a mensagem para os pacientes diagnosticados com fibromialgia?
Drª Ana Paula: o mais importante é saber o que é a fibromialgia e que ela não deixa sequelas ou incapacidades. Saber reconhecer os fatores que podem piorar as dores, como o estresse, a ansiedade, a piora da depressão, mudança brusca de temperaturas, etc. E principalmente, entender que a Fibromialgia pode ser controlada e o paciente pode ter o controle dessa condição e levar uma vida normal e sem restrições. Ter uma atitude positiva, saber dominar “a dor” e acreditar que o tem as mesmas capacidades de que do as outras pessoas.